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Crítica
Capitão Nascimento é uma ruína ambulante
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Será "Tropa de Elite" (TC
Pipoca, 20h; não recomendado
a menores de 16 anos) um filme
fascista, como acreditam muitos críticos? Essa pode ser uma
impressão apressada, dessas
em que se confunde o discurso
da personagem com o do filme.
É verdade que Capitão Nascimento é um tipo a que não
falta ambiguidade. Sua tropa
está lá para barbarizar mesmo.
Certo ou errado, ele sabe que
participa de uma guerra em
dois fronts: contra os traficantes, de um lado, e contra a política corrupta de outra.
Tudo isso faz dele uma mistura de Rambo com Eliot Ness,
celebrizado por "Os Intocáveis". Não tem muito tempo
para divagações e teorias. A
teoria é um inimigo tão perigoso quanto uma bazuca. É proibido pensar: recebe-se o mundo tal como ele vem e pau na
máquina. Esse último item ajudou Nascimento a se tornar um
herói de pessoas para quem o
mundo está pensado, não devemos nos ocupar com isso: basta
agir.
A verdade, no entanto, é que
a vida do capitão é uma ruína. A
implantação de seus métodos
tem um custo tão alto que ele
não consegue nem ter uma família (e nem, de resto, implantá-los para valer, institucionalmente). Capitão Nascimento é
uma ruína ambulante, assim
como sua tropa.
No fundo, o que este filme
faz é nos lembrar que questões
como violência urbana e justiça
social estão longe de serem resolvidas. Chama o Foucault,
por favor.
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