São Paulo, sexta-feira, 01 de abril de 2005

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LIVRO

Em seu novo trabalho, Fernando Morais relata história da agência de publicidade W/Brasil, de Washington Olivetto

Biógrafo de Chatô entra "Na Toca dos Leões"

João Wainer/Folha Imagem
O escritor Fernando Morais, autor do livro "Na Toca dos Leões"


CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pode parecer mentira, e é no dia dela que estamos, mas o estouro de um pneu há 34 anos mudou a história da publicidade no país.
Na manhã de um 1º de abril como este, um hippie de cabelos desgrenhados e macacão jeans sem camisa guiava um Karmann Ghia vermelho quando notou que o carro estava coxo de uma de suas quatro patas. Como não sabia trocar o artefato furado, entrou em uma pequena agência de propaganda ali em frente para pedir socorro. Na hora, mudou de idéia e pediu um estágio.
Pouco depois, o cabeludo Washington Olivetto arrebanhava um Leão em Cannes, o prêmio mais caçado da publicidade mundial, estatuetas leoninas que ele passaria a colecionar com regularidade.
A história não é rigorosamente nova, mas só agora ganha status de história. Depois de aclamados livros como "Chatô", "Olga" e "Corações Sujos", foi a toca de leões "canninos" de Olivetto & companhia que um dos principais biógrafos do país, Fernando Morais, decidiu escarafunchar.
O resultado chega hoje às livrarias e atende por "Na Toca dos Leões - A História da W/Brasil, uma das Agências de Propaganda Mais Premiadas do Mundo".
No volume, que a editora Planeta lança em pouco discreta tiragem de 70 mil exemplares, o jornalista e escritor mineiro conta a trajetória da agência criada há 19 anos por Olivetto e pelas duas outras pernas bem mais discretas do tripé W/Brasil, Gabriel Zellmeister e Javier Llussá Ciuret.
Morais conta ainda como foi o turbulento seqüestro de Olivetto, na virada de 2001 para 2002.
Conta não do jeito que já se contou que ele contaria. O autor chegou a combinar com o publicitário e a fechar com a editora Companhia das Letras, em acordo de US$ 100 mil, um livro só sobre o "mico" (termo usado por Olivetto para se referir ao seu seqüestro, ou "retiro involuntário"), que correria paralelo ao projeto de um livro sobre a W/Brasil. Quando Morais já tocava o projeto, tendo até viajado duas vezes ao Chile dos seqüestradores, Olivetto pediu que o projeto fosse abortado.
O escritor acatou, mas acabou convencendo o publicitário que seu outro livro, o que perfilava a agência, obrigatoriamente deveria incluir o episódio. "Seria propaganda enganosa falar da W/ Brasil sem mencionar o seqüestro", diz Morais, brandindo na mão esquerda um de seus sempre presentes charutos.
Sob os olhares atentos de um Assis "Chatô" Chateaubriand com chapéu de cangaceiro, display de papelão que fica diante dele em seu escritório, Morais assevera que essa foi a única concessão que fez aos seus perfilados.
"Quando tivemos a idéia do livro em um almoço, com Washington e Gábi [Zellmeister], eu disse que a única condição que exigia era a de que fosse um livro-livro, não uma obra de sala de espera, com letronas grandes, muita ilustração e papel cuchê."
Não é então um livro "de encomenda"? "Não", afirma Morais, que sustenta que os sócios da W só viram o livro em sua versão final e que pediram apenas modificações de alguns dados errados.
Olivetto, aliás, foi o primeiro a reclamar do livro. "Ele disse que exibi um pouco demais as tripas da agência, as trocas de insultos, as coisas que ele fez e não faria mais", diz Morais.
De fato não estão no volume só os Leões e os outros cerca de mil prêmios que a W/Brasil amealhou e guarda em uma espécie de aquário, a "lixeira de prêmios", em sua sede em São Paulo.
"Na Toca dos Leões" mostra, por exemplo, os rugidos trocados entre os Ws e os donos de três letras históricas da publicidade brasileira: D, P e Z. Antes de fundarem a W (inicialmente W/GGK, em parceria com a suíça GGK), Olivetto, Zellmeister e Ciuret trabalhavam na DPZ. Quando saíram (levando contas polpudas) para a nova agência, Washington e Dualibi, sobretudo, trocaram patadas não amigáveis.
Não é essa a tônica, porém, da toca descrita por Morais.
É um livro de histórias; curiosas, como a de quando convenceram Bill Gates a fazer uma propaganda (uma das muitas personalidades alistadas por WO); "secretas", como a única e até aqui desconhecida campanha eleitoral feita pela W (a do próprio Fernando Morais para deputado em 1986); saborosas, como o perfil de Ciuret, que chegou moleque da Espanha, com família fugida da Guerra Civil, e trabalhou como pedreiro.
"Eles têm histórias fascinantes, são pessoas fascinantes, mas quando se descasca o bronze de suas estátuas eles são normais. O mesmo vale para as agências de propaganda. Não são só o glamour que se imagina. Não são como as agências das novelas das oito", diverte-se Morais.


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