São Paulo, sexta-feira, 01 de abril de 2005

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LA VITA, AMICO, È L'ARTE DELL'INCONTRO

CD verte charme de Vinicius ao italiano

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Meglio essere allegro che essere triste / allegria è la miglior cosa che esiste." Soou familiar? São os inconfundíveis primeiros versos de "Samba da Bênção", a mais famosa e singela das composições da dupla Vinicius de Moraes/Baden Powell, em sua versão italiana, a faixa que abre e fecha o álbum "La Vita, Amico, È l'Arte dell'Incontro", lançado na Itália em 1969 e agora, pela primeira vez, em CD no Brasil. O disco foi responsável por juntar, na Itália, um grupo de pessoas, todas em torno da idéia de fazer um disco-tributo a Vinicius em italiano.
O projeto nasceu quando Vinicius foi passar alguns meses na Itália, em 1969. Na mesma época, havia ido para lá Toquinho, visitar seu amigo Chico Buarque, que havia se mudado no começo do ano, fugindo da cada vez mais opressora censura do regime militar. Toquinho e Vinicius se encontraram e se juntaram a Sergio Bardotti, amigo de Chico e alguns anos depois autor do disco infantil italiano que daria origem ao brasileiro "Os Saltimbancos". Sob a produção de Bardotti, os dois brasileiros foram agregados ao cantor Sergio Endrigo, ao poeta Giuseppe Ungaretti e ao arranjador Luis Enriquez Bacalov. A vida é a arte do encontro.
Bardotti traduziu as músicas de Vinicius para o italiano; Ungaretti, as poesias. Um cantava, o outro recitava. Toquinho tocava e o próprio Vinicius fazia aparições, cantando ou recitando, em português ou italiano. Além do charme de ser um disco de Vinicius em italiano, com parceiros de lá, o disco acabou entrando para a história por um outro motivo: foi a primeira vez que Toquinho e Vinicius gravaram juntos. Por causa do álbum, Vinicius decidiu convidar Toquinho para acompanhá-lo em uma turnê que faria em breve, com alguns shows em Buenos Aires. A parceria durou mais de dez anos e foi o momento mais popular na carreira dos dois.
Nascido em 1913, Vinicius foi diplomata, jornalista, dramaturgo e, é claro, poeta. Sempre teve seus interesses na música popular, mas só passou a compor a sério quando conheceu Tom Jobim, na década de 50. Tornou-se, então, o primeiro e principal letrista da bossa nova, criando toda a poética delicada, melancólica e ensolarada que seria sempre associada ao estilo. Nos anos 60, entre vários outros parceiros, compôs inúmeras canções com Baden Powell, lançando inclusive um punhado de afro-sambas, como eles chamavam. E durante toda a década de 70, Vinicius dedicou-se à parceria com Toquinho, que se tornou imensamente popular, com dezenas de LPs lançados e hits como "Tarde em Itapoã", "Regra Três" e "Tonga da Mironga do Kabuletê".
"La Vita, Amico, È l'Arte dell'Incontro" ainda não se configura na primeira parceria dos músicos, que quase não tocam juntos e não compuseram nada novo, mas já aponta o futuro, com Vinicius cantando com sua despretensão habitual e o violão característico de Toquinho.
Essa primeira edição em CD no Brasil tem também atração especial para os fãs e colecionadores de Vinicius: o disco não chegou a ser incluído na caixa de 27 CDs lançada em 2001 com a discografia do poeta/cantor. Preciosidade. Também por representar mais um capítulo no ponto de convergência da música brasileira na Itália. Pela mesma época -fins dos anos 60-, Chico Buarque, que lá morava, chegou a se apresentar no país, gravar alguns discos em italiano e até emplacar um sucesso nacional: "La Banda", com a cantora Mina. E não é que nossas músicas soam bem na língua de Sophia Loren? É só ouvir as versões de canções como "A Casa".


La Vita, Amico, È l'Arte dell'Incontro
   
Artista: Vinicius de Moraes, Giuseppe Ungaretti e Sergio Endrigo
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 30


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