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LA VITA, AMICO, È L'ARTE DELL'INCONTRO
CD verte charme de Vinicius ao italiano
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Meglio essere allegro che
essere triste / allegria è la
miglior cosa che esiste." Soou familiar? São os inconfundíveis primeiros versos de "Samba da Bênção", a mais famosa e singela das
composições da dupla Vinicius de
Moraes/Baden Powell, em sua
versão italiana, a faixa que abre e
fecha o álbum "La Vita, Amico, È
l'Arte dell'Incontro", lançado na
Itália em 1969 e agora, pela primeira vez, em CD no Brasil. O disco foi responsável por juntar, na
Itália, um grupo de pessoas, todas
em torno da idéia de fazer um disco-tributo a Vinicius em italiano.
O projeto nasceu quando Vinicius foi passar alguns meses na
Itália, em 1969. Na mesma época,
havia ido para lá Toquinho, visitar seu amigo Chico Buarque, que
havia se mudado no começo do
ano, fugindo da cada vez mais
opressora censura do regime militar. Toquinho e Vinicius se encontraram e se juntaram a Sergio
Bardotti, amigo de Chico e alguns
anos depois autor do disco infantil italiano que daria origem ao
brasileiro "Os Saltimbancos". Sob
a produção de Bardotti, os dois
brasileiros foram agregados ao
cantor Sergio Endrigo, ao poeta
Giuseppe Ungaretti e ao arranjador Luis Enriquez Bacalov. A vida
é a arte do encontro.
Bardotti traduziu as músicas de
Vinicius para o italiano; Ungaretti, as poesias. Um cantava, o outro
recitava. Toquinho tocava e o
próprio Vinicius fazia aparições,
cantando ou recitando, em português ou italiano. Além do charme
de ser um disco de Vinicius em
italiano, com parceiros de lá, o
disco acabou entrando para a história por um outro motivo: foi a
primeira vez que Toquinho e Vinicius gravaram juntos. Por causa
do álbum, Vinicius decidiu convidar Toquinho para acompanhá-lo em uma turnê que faria em breve, com alguns shows em Buenos
Aires. A parceria durou mais de
dez anos e foi o momento mais
popular na carreira dos dois.
Nascido em 1913, Vinicius foi
diplomata, jornalista, dramaturgo e, é claro, poeta. Sempre teve
seus interesses na música popular, mas só passou a compor a sério quando conheceu Tom Jobim,
na década de 50. Tornou-se, então, o primeiro e principal letrista
da bossa nova, criando toda a
poética delicada, melancólica e
ensolarada que seria sempre associada ao estilo. Nos anos 60, entre
vários outros parceiros, compôs
inúmeras canções com Baden Powell, lançando inclusive um punhado de afro-sambas, como eles
chamavam. E durante toda a década de 70, Vinicius dedicou-se à
parceria com Toquinho, que se
tornou imensamente popular,
com dezenas de LPs lançados e
hits como "Tarde em Itapoã",
"Regra Três" e "Tonga da Mironga do Kabuletê".
"La Vita, Amico, È l'Arte dell'Incontro" ainda não se configura na
primeira parceria dos músicos,
que quase não tocam juntos e não
compuseram nada novo, mas já
aponta o futuro, com Vinicius
cantando com sua despretensão
habitual e o violão característico
de Toquinho.
Essa primeira edição em CD no
Brasil tem também atração especial para os fãs e colecionadores
de Vinicius: o disco não chegou a
ser incluído na caixa de 27 CDs
lançada em 2001 com a discografia do poeta/cantor. Preciosidade.
Também por representar mais
um capítulo no ponto de convergência da música brasileira na Itália. Pela mesma época -fins dos
anos 60-, Chico Buarque, que lá
morava, chegou a se apresentar
no país, gravar alguns discos em
italiano e até emplacar um sucesso nacional: "La Banda", com a
cantora Mina. E não é que nossas
músicas soam bem na língua de
Sophia Loren? É só ouvir as versões de canções como "A Casa".
La Vita, Amico, È l'Arte dell'Incontro
Artista: Vinicius de Moraes, Giuseppe
Ungaretti e Sergio Endrigo
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 30
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