RODRIGO LEITE
especial para a Folha, em Berlim

Dois dos mais ilustres artistas florentinos, o poeta Dante Alighieri (1265-1321) e o pintor Sandro Botticelli (1444-1510), têm um encontro em Berlim até 18 de junho, numa exposição inédita. Tratam-se de 92 desenhos de Botticelli baseados na "Divina Comédia", de Dante.
Botticelli levou 15 anos, entre 1480 e 1495, para ilustrar o longo poema clássico, a pedido de seu mecenas Lorenzo de Medici.
Os desenhos passaram três séculos desaparecidos, mas desde 1882 a maior parte está na Alemanha, embora também haja folhas guardadas no Vaticano. A exposição de Berlim reúne agora, pela primeira vez, todas ilustrações que não foram perdidas.
Pela estrutura da obra, deveria haver mais de cem desenhos sobre a "Divina Comédia", mas supõe-se que alguns nem chegaram a ser feitos por Botticelli, como a última cena de Dante no paraíso, por exemplo.
Botticelli usou uma técnica quase cinematográfica para as ilustrações. Na mesma folha, o poeta Dante pode aparecer em várias situações, conforme seu passeio pelo inferno, o purgatório e o paraíso é narrado. As imagens da primeira parte, o Inferno, correspondem ao que se convencionou chamar de "dantesco". Almas ardendo em chamas, figuras zooantropomórficas (metade humanas, metade animais) e gigantes acorrentados habitam esse espaço, culminando com a imagem de um demônio de três cabeças.
O Purgatório é onde Botticelli coloca as imagens mais terrenas, com jardins, rios e mulheres dançando, mas também chamas e anjos. O Paraíso é dedicado à cenas de Dante com a musa Beatriz.