São Paulo, quarta-feira, 01 de maio de 2002

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Tariq Ali desafia com sua versão do islã para as novas gerações

MARIA BRANT
DA REDAÇÃO

O escritor paquistanês Tariq Ali preparava "uma história secular do islã" quando os EUA sofreram ataques terroristas em 11 de setembro. Decidiu, então, modificá-la para "explicar as ligações entre o fundamentalismo islâmico e o império americano que o criou".
O resultado é "Confronto de Fundamentalismos", que a editora Record lança hoje na 17ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo com uma palestra do autor, que acontece hoje, às 18 horas.
Na obra, Ali, "agnóstico desde os seis anos", usa sua própria vida para contar a história do fundamentalismo islâmico, discutir a heresia no mundo muçulmano durante a Idade Média e analisar a atual situação no Oriente Médio sob a luz do que chama de "confronto de fundamentalismos". Segundo ele, os atentados de 11 de setembro foram uma reação vísivel à violência invisível imposta pelo "imperialismo americano" a países como Afeganistão, Paquistão, Iraque e Arábia Saudita.
Ali, editor da revista "New Left Review", vive em Londres. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista que ele deu à Folha.

Folha - O sr. planejava escrever esse livro antes de 11 de setembro?
Tariq Ali -
Eu fiz tantas pesquisas sobre o islã para meus romances que, mesmo antes de 11 de setembro, eu já planejava escrever uma história secular do islã. Então, o World Trade Center e o Pentágono foram atingidos, e eu tive de mudar o livro para explicar as ligações entre o fundamentalismo islâmico e o império americano que o criou. Inseri minha própria vida no livro para mostrar que venho de uma cultura islâmica, mas sou totalmente secular, como milhões de outras pessoas.

Folha - O título de seu livro dialoga e se opõe a "O Choque de Civilizações", de Samuel Huntington. O sr. diz que "Huntington deve saber que seus últimos escritos estão explodindo as bases dos edifícios que construiu tão cuidadosamente"...
Ali -
Em um ensaio na revista "Newsweek", Huntington caracterizou esse novo período como um período de guerras interislâmicas, e não de choque de civilizações -o que é igualmente ridículo, mas destrói seu próprio argumento de que há um conflito entre o "Ocidente e o resto".

Folha - O sr. diz ter mais esperança nos jovens ocidentais que foram às ruas em Seattle e Gênova do que nos políticos. O que aconteceu com esses grupos após 11 de setembro?
Ali -
O dissenso está vivo no mundo todo, incluindo nos EUA. O medo criado por 11 de setembro quase já não existe.

Folha - No último capítulo de seu livro, "Carta a um Jovem Muçulmano", o sr. diz: "Duvido que eu vá mudar, mas espero que você mude". O que o sr. teme e o que o sr. espera dos jovens muçulmanos?
Ali -
Temo que jovens muçulmanos da diáspora tenham se tornado tão infectados pela política da identidade no mundo pós-moderno que a religião tenha se tornado o centro dessa identidade. Minha esperança é que eles superem isso depois de ler o meu livro!


CONFRONTO DE FUNDAMENTALIS- MOS. De: Tariq Ali. Tradução: Alves Calado. Editora: Record. Quanto: R$ 38 (480 págs.).



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