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São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2003

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ERUDITO

Esquecida durante quase 55 anos, "Magdalena", obra do compositor para o mercado norte-americano, volta a Manaus

Musical revela a Broadway de Villa-Lobos

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A MANAUS

A história se passa em 1912 no interior da Colômbia, às margens do rio Magdalena. Maria ama Pedro, que também ama Maria.
Mas não se trata de um enredo de amor. A ação envereda pelos campos religioso e social. Pedro não se conforma porque seu povo, os recém-cristianizados índios muza, são explorados na mineração de esmeraldas pelo oligarca e general Alfredo de Carabaña. Maria acredita que basta suscitar no general pitadas de ética cristã para que capital e trabalho reencontrem a antiga harmonia.
Em resumo, eis "Magdalena", musical escrito para a Broadway por Heitor Villa-Lobos (1887-1959). A peça estreou em setembro de 1948, teve carreira efêmera e só voltou a ser encenada no último sábado, em Manaus, pelo 7º Festival Amazonas de Ópera. A última récita será hoje.
É uma preciosidade que permaneceu engavetada por quase 55 anos. "Os brasileiros não sabem admirar seus compositores", diz Rosana Lamosa, que na atual produção interpreta Maria. "O que é escandaloso, por ser um exercício musical belíssimo e sem prepotência", completa Fernando Portari, no papel de Pedro.
Villa-Lobos reutilizou nos 26 momentos da comédia peças preexistentes em seu longo catálogo de composições. Há trechos da "Bachianas nº 4", de suas "Impressões Seresteiras" ou de um dos cadernos de música infantil para piano. O resultado musical é tão leve e bem construído que Richard Rodgers, um dos grandes da Broadway, considerou o trabalho "25 anos na dianteira do gênero", enquanto Leonard Bernstein disse que chegou a se inspirar nele. Um trecho de "Magdalena" reapareceria nove anos depois em "West Side Story".
"Não foi simples montar a comédia", diz a regente Lígia Amadio. Não havia manuscritos no Brasil. Dos Estados Unidos vieram partes precárias para cada instrumento de uma orquestra de 40 músicos, mas inexistia uma partitura de maestro.
Há uma gravação de "Magdalena", feita em 1988 no original em inglês, por cantores da Broadway, como Judy Kaye. Foi quando da abortada idéia de reencená-la nos Estados Unidos, 40 anos depois da estréia. Um banco brasileiro que financiaria o projeto pulou fora no último momento.
A atual produção tem a vantagem de reunir um elenco brasileiro com sólida tradição operística. Além do tenor Portari e da soprano Lamosa, aparecem o barítono Inácio De Nonno (Carabaña) ou a meio-soprano Magda Painno (Teresa, sua amante). São cantores que não trabalham a voz para o som amplificado. E só utilizaram microfones minúsculos porque o local da encenação -2.600 lugares- tem a acústica precária e própria aos shows de rock.
O libreto, de Bob Wright e Chet Forrest, com 54 musicais nas costas, foi pela primeira vez traduzido para o português. Por Cláudio Botelho e com belos achados ("Lá vai, meu bem, e eu dei carona ao urubu, que agradeceu").


O jornalista João Batista Natali viajou a convite da Secretaria da Cultura do Amazonas

MAGDALENA. Onde: Studio 5 Festival Mall (r. General Rodrigo Otávio, s/ nº, Manaus). Quando: hoje, às 19h. Quanto: entrada franca. Info: tel. 0/xx/92/633-2850 e www.operamazonas.com.br. Realização: Governo do Estado do Amazonas. Patrocínio: Coca-Cola.



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