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ERUDITO
Esquecida durante quase 55 anos, "Magdalena", obra do compositor para o mercado norte-americano, volta a Manaus
Musical revela a Broadway de Villa-Lobos
JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A MANAUS
A história se passa em 1912 no
interior da Colômbia, às margens
do rio Magdalena. Maria ama Pedro, que também ama Maria.
Mas não se trata de um enredo
de amor. A ação envereda pelos
campos religioso e social. Pedro
não se conforma porque seu povo, os recém-cristianizados índios
muza, são explorados na mineração de esmeraldas pelo oligarca e
general Alfredo de Carabaña. Maria acredita que basta suscitar no
general pitadas de ética cristã para
que capital e trabalho reencontrem a antiga harmonia.
Em resumo, eis "Magdalena",
musical escrito para a Broadway
por Heitor Villa-Lobos (1887-1959). A peça estreou em setembro de 1948, teve carreira efêmera
e só voltou a ser encenada no último sábado, em Manaus, pelo 7º
Festival Amazonas de Ópera. A
última récita será hoje.
É uma preciosidade que permaneceu engavetada por quase 55
anos. "Os brasileiros não sabem
admirar seus compositores", diz
Rosana Lamosa, que na atual produção interpreta Maria. "O que é
escandaloso, por ser um exercício
musical belíssimo e sem prepotência", completa Fernando Portari, no papel de Pedro.
Villa-Lobos reutilizou nos 26 momentos da comédia peças
preexistentes em seu longo catálogo de composições. Há trechos
da "Bachianas nº 4", de suas "Impressões Seresteiras" ou de um
dos cadernos de música infantil para piano. O resultado musical é
tão leve e bem construído que Richard Rodgers, um dos grandes
da Broadway, considerou o trabalho "25 anos na dianteira do gênero", enquanto Leonard Bernstein
disse que chegou a se inspirar nele. Um trecho de "Magdalena"
reapareceria nove anos depois em
"West Side Story".
"Não foi simples montar a comédia", diz a regente Lígia Amadio. Não havia manuscritos no Brasil. Dos Estados Unidos vieram partes precárias para cada
instrumento de uma orquestra de
40 músicos, mas inexistia uma
partitura de maestro.
Há uma gravação de "Magdalena", feita em 1988 no original em
inglês, por cantores da Broadway,
como Judy Kaye. Foi quando da
abortada idéia de reencená-la nos
Estados Unidos, 40 anos depois
da estréia. Um banco brasileiro
que financiaria o projeto pulou
fora no último momento.
A atual produção tem a vantagem de reunir um elenco brasileiro com sólida tradição operística.
Além do tenor Portari e da soprano Lamosa, aparecem o barítono
Inácio De Nonno (Carabaña) ou a
meio-soprano Magda Painno
(Teresa, sua amante). São cantores que não trabalham a voz para
o som amplificado. E só utilizaram microfones minúsculos porque o local da encenação -2.600
lugares- tem a acústica precária
e própria aos shows de rock.
O libreto, de Bob Wright e Chet
Forrest, com 54 musicais nas costas, foi pela primeira vez traduzido para o português. Por Cláudio
Botelho e com belos achados ("Lá
vai, meu bem, e eu dei carona ao
urubu, que agradeceu").
O jornalista João Batista Natali viajou a
convite da Secretaria da Cultura do Amazonas
MAGDALENA. Onde: Studio 5 Festival
Mall (r. General Rodrigo Otávio, s/ nº,
Manaus). Quando: hoje, às 19h. Quanto:
entrada franca. Info: tel. 0/xx/92/633-2850 e www.operamazonas.com.br.
Realização: Governo do Estado do
Amazonas. Patrocínio: Coca-Cola.
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