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LITERATURA
"O Código Da Vinci", cuja trama questiona divindade de Jesus Cristo, já teve 10 milhões de exemplares vendidos
Romance conspiratório vira fenômeno pop
ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Ao mesmo tempo em que "A
Paixão de Cristo" ultrapassa o
meio bilhão de dólares arrecadado em todo o mundo em menos
de três meses após seu lançamento (já entre os 25 filmes mais rentáveis de todos os tempos), outro
fenômeno pop começa a crescer
ao redor de uma polêmica envolvendo Jesus Cristo.
Com 10 milhões de exemplares
vendidos no mundo inteiro, "O
Código Da Vinci" não completou
um mês de lançamento no Brasil e
já ultrapassa a casa dos 50 mil livros vendidos. Mas, se o filme de
Mel Gibson se baseia em uma
adaptação quase literal do Novo
Testamento, o romance do autor
norte-americano Dan Brown usa
a ficção para lançar suspeita não
apenas sobre a natureza sagrada
do messias cristão, mas sobre toda a instituição católica.
Baseando-se na sociedade secreta do Priorado de Sião (que teve, entre seus integrantes, nomes
como Isaac Newton, Leonardo da
Vinci e Victor Hugo), Brown desconstrói vários segredos históricos usando ciências de pouco
apelo popular, como a hagiografia, a história da arte e a criptografia, com um ritmo de texto preciso e o excesso de referências quase
obrigatório nesta época de best-sellers pós-modernos.
O segredo do sucesso é parente
direto de outras grifes da virada
do milênio, como "Matrix", "Senhor dos Anéis" e "Harry Potter":
reunir referências populares, históricas e míticas em um enredo
dinâmico, cuja série de desdobramentos acompanhe o mesmo ritmo da ação dos personagens.
"O Código Da Vinci" começa
com um assassinato no Museu do
Louvre, em Paris, que ocorre ao
mesmo tempo em que o professor
Robert Langdon visita a cidade.
Langdon é um acadêmico transformado em popstar das letras
quando seus livros ("A Arte dos
Iluminatti" e "A Simbologia das
Seitas Secretas") provocam controvérsias envolvendo o Vaticano.
Sua estada na capital francesa leva
ao encontro da criptóloga Sophie
Neveu, a neta do assassinado, que
era curador do museu.
O assassinato é o ponto de partida para descobertas cujo fio da
meada são obras de Leonardo da
Vinci. Citar o mestre italiano é um
dos trunfos do livro, já que as evidências da conspiração realmente
existem nos quadros citados, que
não são desconhecidos. Tanto a
"Mona Lisa" quanto a "Santa
Ceia" têm papel central no romance.
A agilidade do texto de Brown é
proporcional à sua capacidade de
citar referências eruditas sem a
empáfia característica dos eruditos. E elas vêm em quantidade e
velocidade. "O Código Da Vinci"
é uma vertiginosa descida aos
maiores segredos da história ocidental, que, tirando o fôlego do
leitor, desvenda o que o autor se
refere como "a maior conspiração
dos últimos 2.000 anos" -que Jesus Cristo era um mero mortal e
que sua santidade foi construída
através dos tempos, para justificar
o poder da Igreja Católica.
O livro posiciona Dan Brown
entre autores de naturezas opostas como Umberto Eco e Robert
Lundlum, escritores que equilibraram citações históricas, artísticas e religiosas, ritmo de romance
policial e apelo popular sem se
prender a um gênero literário específico. Não é todo dia que se
tem vontade de reler um livro de
quase 500 páginas pelo simples
prazer da leitura.
"É uma espécie de "Harry Potter" para adultos", resume o editor
Marcos da Veiga Pereira, que lançou o livro no país. Na esteira do
sucesso do livro, a editora Sextante planeja lançar em novembro o
livro anterior de Brown, protagonizado pelo mesmo Robert Langdon, "Angels and Demons".
O CÓDIGO DA VINCI. Autor: Dan Brown.
Editora: Sextante. R$ 39 (480 págs.).
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