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ARTES PLÁSTICAS
Bené Fonteles exibe em SP obras elaboradas a partir da união entre arte erudita e elementos populares
Apropriações alinhavam Beuys e coadores
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
A exposição é uma individual,
mas o mais adequado mesmo seria apresentá-la como uma coletiva. O artista plástico Bené Fonteles ocupa, a partir de hoje, os mil
metros do quarto andar da Estação Pinacoteca, exibindo também
obras de outros artistas, como
Mário Cravo Júnior e Rubem Valentim, em meio a suas criações.
Apropriação é a linha que conduz a mostra. De coadores de café
e bacias de metal a imagens de
Marcel Duchamp e Joseph Beuys,
a poética de Fonteles é construída
por aproximações. "Não vejo separação entre erudito e popular,
afinal era no popular que se nutriam artistas como Picasso", diz.
A primeira sala da mostra é uma
homenagem a Rubem Valentim
(1922-1991), que ganhou exposição na Pinacoteca do Estado, há
três anos, com curadoria de Fonteles. "Herdei 250 telas em branco
do Rubem e as tenho utilizado em
minhas obras", conta. Nesse tributo, 44 dessas telas estão dispostas nas paredes e no chão, tendo o
suprematista russo Malevitch
(1878-1935) como referência.
Daí em diante, Fonteles apresenta um verdadeiro tratado arqueológico que mistura arte e elementos populares. Suas obras são
feitas com redes de pescadores de
Uruaú (CE), pedaços de câmara
de pneu e objetos indígenas. "Faço um "redesign" tentando subverter a linguagem utilitária."
Numa instalação, o artista reúne
suas "afinidades afetivas": de esculturas de Antônio Celestino e
objetos dos índios da tribo kadiwéu a fotos de artistas como Duchamp e Van Gogh.
Na maioria das obras, os elementos apropriados têm forte
desgaste pelo uso. "Tenho muito
interesse na ação do tempo sobre
as coisas", diz Fonteles. O trecho
de um poema de Carlos Drummond de Andrade, impresso na
mostra, ilustra sua preocupação:
"O tempo é a minha matéria".
A sala central da mostra traz
uma série de sudários, que Fonteles apresenta como auto-retratos,
em cobertores, edredons e outros
materiais em que dormiu. A dor é
tema numa série realizada a partir
de exemplares da primeira página
da Folha. O artista deixa aparentes apenas fotos dramáticas, colorindo o restante do espaço.
PALAVRAS E OBRAS. Quando: hoje, às
11h; de ter. a dom., das 10h às 18h; até
13/6. Onde: Estação Pinacoteca (lgo.
General Osório, 66, Luz, SP, tel. 0/ xx/11/
222-8968). Quanto: R$ 4 (grátis aos
sábados).
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