São Paulo, sábado, 01 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTES PLÁSTICAS

Bené Fonteles exibe em SP obras elaboradas a partir da união entre arte erudita e elementos populares

Apropriações alinhavam Beuys e coadores

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A exposição é uma individual, mas o mais adequado mesmo seria apresentá-la como uma coletiva. O artista plástico Bené Fonteles ocupa, a partir de hoje, os mil metros do quarto andar da Estação Pinacoteca, exibindo também obras de outros artistas, como Mário Cravo Júnior e Rubem Valentim, em meio a suas criações.
Apropriação é a linha que conduz a mostra. De coadores de café e bacias de metal a imagens de Marcel Duchamp e Joseph Beuys, a poética de Fonteles é construída por aproximações. "Não vejo separação entre erudito e popular, afinal era no popular que se nutriam artistas como Picasso", diz.
A primeira sala da mostra é uma homenagem a Rubem Valentim (1922-1991), que ganhou exposição na Pinacoteca do Estado, há três anos, com curadoria de Fonteles. "Herdei 250 telas em branco do Rubem e as tenho utilizado em minhas obras", conta. Nesse tributo, 44 dessas telas estão dispostas nas paredes e no chão, tendo o suprematista russo Malevitch (1878-1935) como referência.
Daí em diante, Fonteles apresenta um verdadeiro tratado arqueológico que mistura arte e elementos populares. Suas obras são feitas com redes de pescadores de Uruaú (CE), pedaços de câmara de pneu e objetos indígenas. "Faço um "redesign" tentando subverter a linguagem utilitária."
Numa instalação, o artista reúne suas "afinidades afetivas": de esculturas de Antônio Celestino e objetos dos índios da tribo kadiwéu a fotos de artistas como Duchamp e Van Gogh.
Na maioria das obras, os elementos apropriados têm forte desgaste pelo uso. "Tenho muito interesse na ação do tempo sobre as coisas", diz Fonteles. O trecho de um poema de Carlos Drummond de Andrade, impresso na mostra, ilustra sua preocupação: "O tempo é a minha matéria".
A sala central da mostra traz uma série de sudários, que Fonteles apresenta como auto-retratos, em cobertores, edredons e outros materiais em que dormiu. A dor é tema numa série realizada a partir de exemplares da primeira página da Folha. O artista deixa aparentes apenas fotos dramáticas, colorindo o restante do espaço.


PALAVRAS E OBRAS. Quando: hoje, às 11h; de ter. a dom., das 10h às 18h; até 13/6. Onde: Estação Pinacoteca (lgo. General Osório, 66, Luz, SP, tel. 0/ xx/11/ 222-8968). Quanto: R$ 4 (grátis aos sábados).


Texto Anterior: Drauzio Varella: Clonagem humana
Próximo Texto: Ilustrada: Jackson se diz inocente de dez acusações
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.