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TELEVISÃO
"Essas Mulheres", novela que estréia amanhã, reúne três heroínas de romances do escritor e é sucesso comercial
Record usa José de Alencar para faturar
ISABELLE MOREIRA LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL
A idéia de unir vários clássicos
da literatura brasileira em uma
única novela pode ser mais uma
maneira de pôr em prática algum
tipo de planejamento comercial
do que um ato de amor à literatura. A estratégia será usada pela TV
Record em "Essas Mulheres", que
estréia amanhã às 19h15, horário
reservado exclusivamente para
produções de época, depois do
sucesso de audiência obtido por
"A Escrava Isaura".
A uma semana da estréia, a Record chegou a anunciar o sucesso
financeiro da novela em sua coletiva de lançamento, com todos os
intervalos comerciais vendidos.
Em 140 capítulos, "Essas Mulheres" deve mostrar em cores e
com elenco ex-Globo as cerca de
130 páginas de "Lucíola", as 240
de "Senhora" e as 120 de "Diva",
escritas por José de Alencar.
Para estudiosos ouvidos pela
Folha, a proposta não é exatamente ousada, porque os três romances têm semelhanças fundamentais: todos abordam o universo feminino e se passam no Rio de
Janeiro urbano do século 19.
"Há coerência na escolha dos
romances porque são antecipadores da modernidade no traço
da personagem mulher. Transgridem e enunciam inovação no
comportamento, no sentimento,
no casamento", explica Maria José Paulo, professora de literatura
brasileira da PUC-SP.
Para João Roberto Faria, professor de literatura brasileira da USP,
"como as novelas costumam ter
enredos principais e secundários,
é possível criar um tronco e juntar
outros subsidiários".
"Senhora", que conta os encontros e desencontros de Aurélia,
que era pobre e fica rica, e Fernando, bom, bonito e inteligente, mas
cheio de vícios, é o fio condutor da
novela. Na TV, os personagens serão vividos por Cristine Fernandes e Gabriel Braga Nunes.
A atriz Carla Regina será a prostituta Lúcia de "Lucíola", uma das
tramas secundárias. A história de
"Diva", que gira em torno do romance conturbado entre o médico Augusto e a rica Emília, será liderada por Miriam Freeland, que
vive Mila na versão adaptada.
Diferentemente do personagem
do livro, Augusto será negro na
TV. Para Maria José Paulo, a inserção de um núcleo negro na novela pelo autor Marcilio Moraes
pode ser o ponto problemático da
adaptação. "Ele [Alencar] foi um
escritor voltado para a leitora mulher. Queria conscientizá-la para
uma leitura mais crítica sobre o
seu papel. Questiono se o negro
entra na novela como elemento
que retarda essa postura e desloca
o foco do romance alencarino."
Campeão de bilheteria
José de Alencar é, para alguns, o
maior campeão de bilheteria. No
período compreendido entre 1951
e 1963, pelo menos seis adaptações de romances foram produzidas: "Diva" (Paulista, 1952), "Senhora" (Paulista, 1953, e Tupi,
1962), "O Guarani" (Paulista,
1959), "A Mão e a Luva" (Tupi,
1959) e "O Tronco do Ipê" (Paulista, 1963). No mesmo período,
Erico Verissimo e Machado de
Assis disputam o segundo lugar,
com duas adaptações cada um.
Sandra Reimão, autora do livro
"Livros e Televisão - Correlações", cita os "mitos românticos"
de Alencar como o principal motivo para seu sucesso na TV. "Essas oposições românticas combinam bem com a visão um pouco
maniqueísta da teledramaturgia."
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