São Paulo, domingo, 01 de maio de 2005

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TELEVISÃO

"Essas Mulheres", novela que estréia amanhã, reúne três heroínas de romances do escritor e é sucesso comercial

Record usa José de Alencar para faturar

ISABELLE MOREIRA LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL

A idéia de unir vários clássicos da literatura brasileira em uma única novela pode ser mais uma maneira de pôr em prática algum tipo de planejamento comercial do que um ato de amor à literatura. A estratégia será usada pela TV Record em "Essas Mulheres", que estréia amanhã às 19h15, horário reservado exclusivamente para produções de época, depois do sucesso de audiência obtido por "A Escrava Isaura".
A uma semana da estréia, a Record chegou a anunciar o sucesso financeiro da novela em sua coletiva de lançamento, com todos os intervalos comerciais vendidos.
Em 140 capítulos, "Essas Mulheres" deve mostrar em cores e com elenco ex-Globo as cerca de 130 páginas de "Lucíola", as 240 de "Senhora" e as 120 de "Diva", escritas por José de Alencar.
Para estudiosos ouvidos pela Folha, a proposta não é exatamente ousada, porque os três romances têm semelhanças fundamentais: todos abordam o universo feminino e se passam no Rio de Janeiro urbano do século 19.
"Há coerência na escolha dos romances porque são antecipadores da modernidade no traço da personagem mulher. Transgridem e enunciam inovação no comportamento, no sentimento, no casamento", explica Maria José Paulo, professora de literatura brasileira da PUC-SP.
Para João Roberto Faria, professor de literatura brasileira da USP, "como as novelas costumam ter enredos principais e secundários, é possível criar um tronco e juntar outros subsidiários".
"Senhora", que conta os encontros e desencontros de Aurélia, que era pobre e fica rica, e Fernando, bom, bonito e inteligente, mas cheio de vícios, é o fio condutor da novela. Na TV, os personagens serão vividos por Cristine Fernandes e Gabriel Braga Nunes.
A atriz Carla Regina será a prostituta Lúcia de "Lucíola", uma das tramas secundárias. A história de "Diva", que gira em torno do romance conturbado entre o médico Augusto e a rica Emília, será liderada por Miriam Freeland, que vive Mila na versão adaptada.
Diferentemente do personagem do livro, Augusto será negro na TV. Para Maria José Paulo, a inserção de um núcleo negro na novela pelo autor Marcilio Moraes pode ser o ponto problemático da adaptação. "Ele [Alencar] foi um escritor voltado para a leitora mulher. Queria conscientizá-la para uma leitura mais crítica sobre o seu papel. Questiono se o negro entra na novela como elemento que retarda essa postura e desloca o foco do romance alencarino."

Campeão de bilheteria
José de Alencar é, para alguns, o maior campeão de bilheteria. No período compreendido entre 1951 e 1963, pelo menos seis adaptações de romances foram produzidas: "Diva" (Paulista, 1952), "Senhora" (Paulista, 1953, e Tupi, 1962), "O Guarani" (Paulista, 1959), "A Mão e a Luva" (Tupi, 1959) e "O Tronco do Ipê" (Paulista, 1963). No mesmo período, Erico Verissimo e Machado de Assis disputam o segundo lugar, com duas adaptações cada um.
Sandra Reimão, autora do livro "Livros e Televisão - Correlações", cita os "mitos românticos" de Alencar como o principal motivo para seu sucesso na TV. "Essas oposições românticas combinam bem com a visão um pouco maniqueísta da teledramaturgia."


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