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CRÍTICA/"ACHADOS E PERDIDOS"
José Joffily aposta em "noir" carioca
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Um menino de rua que testemunha a queda de uma carteira recheada abre o romance
"Achados e Perdidos", do carioca
Luiz Alfredo Garcia-Roza, publicado em 1998. Na adaptação para
o cinema, o menino desapareceu,
em companhia de diversos outros
personagens e situações. O dono
da carteira, no entanto, ficou -e,
se a expressão do título perdeu
um pouco do sentido original, a
adoção desse personagem como
um dos vértices da trama beneficia a condensação dramática.
Ele é um ex-delegado (Antonio
Fagundes) que perambula pela
noite carioca com a expressão de
quem tem culpa no cartório. Tem
mesmo, como se descobrirá em
visitas ao seu passado. Uma prostituta veterana (Zezé Polessa), que
ele namora, e uma interiorana recém-chegada (Juliana Knust), que
a primeira apadrinha, completam
o triângulo desenhado pelo diretor José Joffily ("Quem Matou Pixote?", "Dois Perdidos Numa
Noite Suja") com idas e vindas no
tempo.
Mulheres dissimuladas
A investigação em torno de um
assassinato faz a história andar,
com o ex-delegado como o suspeito ideal: nem ele mesmo tem
certeza absoluta da própria inocência. Culpa difusa, assassino de
motivação misteriosa, noites intermináveis e mulheres dissimuladas, com segundas e terceiras
intenções, são elementos que reforçam a atmosfera "noir".
Há um pouco de crônica social
nessa tradução do Rio de Janeiro
para além do cartão-postal, mas
não é o que prevalece. Mantém-se
o tempo todo o foco na intriga policial, em exercício de gênero que
busca também na sensualidade
- Juliana Knust responde quase
sozinha, e bem, por esse aspecto
- e no fardo da memória elementos adicionais para seduzir o
espectador.
Pitadas de humor à parte, a trama é conduzida com certa gravidade e às vezes afetação, a mesma
que se encontra na tradição norte-americana da literatura e do cinema policiais. No livro (e no
conjunto da obra) de Garcia-Roza, o equilíbrio entre mimetização
e recriação obtém resultado satisfatório. No filme, fica-se um pouco aquém.
Uma análise dos diálogos - alguns dos quais levaram a atenta
platéia do Noitão do Belas Artes,
onde "Achados e Perdidos" foi
exibido em pré-estréia, a gargalhar - talvez ajude a entender
porque não se aceita com tanta facilidade, em nossa língua e cultura, o que se engole sem pestanejar
vindo de outros quadrantes.
Achados e Perdidos
Produção: Brasil, 2006
Direção: José Joffily
Com: Antonio Fagundes, Juliana Kunst
Onde: em cartaz nos cines HSBC Belas
Artes, Interlagos e circuito
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