São Paulo, domingo, 01 de maio de 2011

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OPINIÃO

Personagem retrata o anti-heroi que encontra a redenção

LUCIANA COELHO
EM BOSTON

Primeiro foi George Constanza. Agora é Michael Scott.
Dupla orfandade, pois, para os fãs do anti-heroi americano, o sujeito vil, capaz de tudo para se dar bem -mas que ainda assim continua sendo um "loser", do tipo que quase dói assistir.
O Michael de Steve Carell não é tão grande em sua pequenez nem tão pequeno em suas derrotas quanto o George de Jason Alexander em "Seinfeld" (1990-98). Nem mesmo quanto o David Brent que Ricky Gervais criou para a série original britânica.
Mas Carell deu ao personagem aquilo de que todo americano gosta (exceto, talvez, Larry David, que pariu George à sua imagem e misantropa semelhança): certa doçura a permitir a redenção.
As piadas sem graça, as pequenas traições, as horas perdidas, os abusos que Michael impingiu por sete anos a seus funcionários se tornam perdoáveis porque, afinal, ele gosta deles.
Porque, afinal, é só mais um cara querendo amizades.
Porque ele, afinal, é só um cara tentando se dar bem -e o que há de mais americano, ou de mais humano, que tentar combinar as duas coisas?
Foi essa trajetória a de Michael, a da redenção -evidente em sua despedida. Do chefe sem amor próprio ou respeito aos demais ao amigo que deixa saudade ao partir.
É uma traição à imagem de George e à de David, deliciosamente mesquinhos até o fim. Mas é também um pequeno trunfo de Carell, que tornou o personagem amável não só para os cínicos -e talvez assim mais universal.
Fazer a série sobreviver sem ele será um desafio.
A equipe que faz "The Office" atua quase como uma trupe circense, coesa (tanto que não concorre a prêmios individualmente), em que boa parte dos integrantes se reveza na produção, direção e roteiro da série.
B.J. Novak (Ryan) e Mindy Kaling (Kelly) estão entre os principais roteiristas, e Paul Lieberstein (Toby), entre os principais produtores. O segundo papel masculino, Jim, foi para John Krasinsky, amigo de escola de Novak. E por aí vai.
A única estrela era Carell, e o era porque cresceu com o personagem, muitas vezes levando "The Office" sozinho. Sem ele, a Dunder Mifflin fica tão monótona quanto um escritório de venda de papel pode ser.
Será difícil pôr outro ali.


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