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TEATRO CRÍTICAS
"Cabaret Brazil" recria o melhor do musical
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
O diretor de "Cabaret Brazil",
Wolf Maya, certa vez definiu com
precisão o que sufoca o renascimento do teatro musical. É a ausência dos compositores, os célebres criadores da música popular,
que deixaram o palco.
Chico Buarque se esforçou algum tempo, fez "Roda Viva",
"Ópera do Malandro". Mas desistiu. E o melhor teatro musical
sempre foi o dos compositores, de
Ari Barroso a Mário Peixoto, no
Brasil, de George Gershwin a Stephen Sondheim, no exterior.
É precisamente a ausência da
composição original que impede
que este seja um espetáculo ainda
melhor do que já é -e "Cabaret
Brazil" é um instante de deleite,
para quem aprecia o gênero.
Aliás, pelo roteiro musical reunido pelo próprio Maya, o espetáculo é uma evidente homenagem,
saudosa, ao gênero. O citado Ari
Barroso comparece com três, uma
delas "Aquarela do Brasil", num
quadro que mostra até onde vão as
ambições do diretor.
"Aquarela do Brasil" foi composta em 1939 para um musical,
melhor dizendo, uma revista, que
Barroso escreveu com Luís Iglésias, de nome "Entra na Faixa".
(Um musical que era uma constelação, encabeçada por Aracy Cortes, a maior estrela das revistas,
Eva Todor e Oscarito.)
Pois Maya isolou "Aquarela do
Brasil", supostamente composta
para agradar ao nacionalismo getulista do Estado Novo, e a tornou,
na voz de Dill Costa, com uma belíssima bandeira brasileira (no cenário de Cláudio Tovar) ao fundo,
um libelo contra o autoritarismo
de outra ditadura, a de 64.
Ditadura que Maya, em sua trama muito vaga, insinua ser responsável pela virtual extinção do
teatro musical brasileiro. "Cabaret Brazil" começa com o anúncio
do suicídio de Getúlio Vargas e segue, com uma linhagem de vedetes, mãe e duas filhas, a longa derrocada de um cabaré até tornar-se
um templo evangélico.
Na década e meia que retrata,
apresenta quadros emocionantes,
como aquele com a canção "Miss
Celie's Blues", e outros que não se
envergonham em despir as coristas e vedetes. Até porque, avisa o
mestre de cerimônias (o inacreditável, de tão característico, Serjão
Loroza), o objetivo é mesmo despir e distribuir prazer.
Entre as músicas, muito Lupicínio Rodrigues e Cartola, também
criadores de revistas. E muito Kurt
Weill, Lieben Stoler, Edith Piaf,
sempre bem colocados, integrados. O próprio Maya, com Cininha de Paula, co-autora de "Cabaret Brazil", criou três canções,
para dar o início e o fecho.
Como sempre acontece nas relativamente raras produções musicais no Brasil (e Maya é responsável por boa parte delas, "Blue
Jeans", "Quatro Carreirinhas",
"Noviças Rebeldes", nas versões
masculina e feminina), o elenco é
espantoso pela revelação ou confirmação de talentos.
É o caso de Andrea Marquee,
que interpreta Baby Face, a mais
jovem das filhas vedetes, e que já
havia sido vista antes em "Hair" e
"Nas Raias da Loucura", sob a direção de Jorge Fernando -outro
diretor muito dedicado aos musicais. Na voz, é talvez a maior revelação deste "Cabaret Brazil".
Adriana Lessa, ou Rosa do Brasil, a irmã que concorre com ela, é,
como vai o texto, a grande vedete.
Não só pela beleza, mas pela interpretação, ela que já passou por
Antunes Filho e -o que talvez seja o mais valioso, num musical-
pela envolvente felicidade.
É como se estar ali, no palco,
num musical, fosse algo próximo
da perfeição, em vida. Uma sensação que percorre também o coro,
quando canta que "a vida é linda
no cabaré", e até a banda, que não
reluta em entrar em cena e contracenar com as "girls", como se dizia, ou ainda, "babies".
Espetáculo: Cabaret Brazil
Quando: qui. a sáb., às 21h; dom., às 19h
Onde: Studium (r. Rui Barbosa, 266, tel.
011/3171-1277)
Quanto: R$ 20 e R$ 25 (qui., sex. e dom.) e
R$ 25 e R$ 30 (sáb.)
Patrocinadores: Embratel e Prefeitura da
Cidade do Rio de Janeiro
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