São Paulo, sexta, 1 de maio de 1998

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TEATRO CRÍTICAS
"Cabaret Brazil" recria o melhor do musical

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

O diretor de "Cabaret Brazil", Wolf Maya, certa vez definiu com precisão o que sufoca o renascimento do teatro musical. É a ausência dos compositores, os célebres criadores da música popular, que deixaram o palco.
Chico Buarque se esforçou algum tempo, fez "Roda Viva", "Ópera do Malandro". Mas desistiu. E o melhor teatro musical sempre foi o dos compositores, de Ari Barroso a Mário Peixoto, no Brasil, de George Gershwin a Stephen Sondheim, no exterior.
É precisamente a ausência da composição original que impede que este seja um espetáculo ainda melhor do que já é -e "Cabaret Brazil" é um instante de deleite, para quem aprecia o gênero.
Aliás, pelo roteiro musical reunido pelo próprio Maya, o espetáculo é uma evidente homenagem, saudosa, ao gênero. O citado Ari Barroso comparece com três, uma delas "Aquarela do Brasil", num quadro que mostra até onde vão as ambições do diretor.
"Aquarela do Brasil" foi composta em 1939 para um musical, melhor dizendo, uma revista, que Barroso escreveu com Luís Iglésias, de nome "Entra na Faixa". (Um musical que era uma constelação, encabeçada por Aracy Cortes, a maior estrela das revistas, Eva Todor e Oscarito.)
Pois Maya isolou "Aquarela do Brasil", supostamente composta para agradar ao nacionalismo getulista do Estado Novo, e a tornou, na voz de Dill Costa, com uma belíssima bandeira brasileira (no cenário de Cláudio Tovar) ao fundo, um libelo contra o autoritarismo de outra ditadura, a de 64.
Ditadura que Maya, em sua trama muito vaga, insinua ser responsável pela virtual extinção do teatro musical brasileiro. "Cabaret Brazil" começa com o anúncio do suicídio de Getúlio Vargas e segue, com uma linhagem de vedetes, mãe e duas filhas, a longa derrocada de um cabaré até tornar-se um templo evangélico.
Na década e meia que retrata, apresenta quadros emocionantes, como aquele com a canção "Miss Celie's Blues", e outros que não se envergonham em despir as coristas e vedetes. Até porque, avisa o mestre de cerimônias (o inacreditável, de tão característico, Serjão Loroza), o objetivo é mesmo despir e distribuir prazer.
Entre as músicas, muito Lupicínio Rodrigues e Cartola, também criadores de revistas. E muito Kurt Weill, Lieben Stoler, Edith Piaf, sempre bem colocados, integrados. O próprio Maya, com Cininha de Paula, co-autora de "Cabaret Brazil", criou três canções, para dar o início e o fecho.
Como sempre acontece nas relativamente raras produções musicais no Brasil (e Maya é responsável por boa parte delas, "Blue Jeans", "Quatro Carreirinhas", "Noviças Rebeldes", nas versões masculina e feminina), o elenco é espantoso pela revelação ou confirmação de talentos.
É o caso de Andrea Marquee, que interpreta Baby Face, a mais jovem das filhas vedetes, e que já havia sido vista antes em "Hair" e "Nas Raias da Loucura", sob a direção de Jorge Fernando -outro diretor muito dedicado aos musicais. Na voz, é talvez a maior revelação deste "Cabaret Brazil".
Adriana Lessa, ou Rosa do Brasil, a irmã que concorre com ela, é, como vai o texto, a grande vedete. Não só pela beleza, mas pela interpretação, ela que já passou por Antunes Filho e -o que talvez seja o mais valioso, num musical- pela envolvente felicidade.
É como se estar ali, no palco, num musical, fosse algo próximo da perfeição, em vida. Uma sensação que percorre também o coro, quando canta que "a vida é linda no cabaré", e até a banda, que não reluta em entrar em cena e contracenar com as "girls", como se dizia, ou ainda, "babies".


Espetáculo: Cabaret Brazil
Quando: qui. a sáb., às 21h; dom., às 19h
Onde: Studium (r. Rui Barbosa, 266, tel. 011/3171-1277)
Quanto: R$ 20 e R$ 25 (qui., sex. e dom.) e R$ 25 e R$ 30 (sáb.)
Patrocinadores: Embratel e Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro


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