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"O Senhor Paul' opta pelo existencial
VALMIR SANTOS
especial para a Folha
Na versão definitiva de "O Senhor Paul" (Herr Paul, ein
Stück), apresentada em 94, cinco
anos depois da queda do Muro de
Berlim, Tankred Dorst criava mais
uma das suas parábolas niilistas
sobre a junção de mundos tão
opostos: Alemanha Ocidental e
Alemanha Oriental.
A montagem da Companhia de
Arte Degenerada, que estréia hoje
no Instituto Goethe, carrega mais
na tinta existencial do que propriamente política do texto.
O diretor Sérgio Ferrara, 30, optou pela descontextualização histórica. Na sua opinião, o processo
de unificação alemã não foi assimilado com intensidade no Brasil.
Daí o investimento na "coerência
interna" dos personagens criados
por Dorst, um dos maiores dramaturgos vivos da Alemanha.
"A gente preferiu esse diálogo
existencial, essa alma dilacerada
que recompõe para o indivíduo o
novo e o velho", sustenta Ferrara.
A peça mostra o embate entre
Paul (Luiz Damasceno), antigo
morador de uma fábrica de sabão
em ruínas, e Helm (Marco Antonio Pâmio), jovem capitalista até a
medula. Paul recebe ultimato para
abandonar a fábrica. Helm, o dono, pretende despejar o inquilino
para fazer reformas, ampliar seu
lucro. "Ele quer o negócio, mas
capitula nas mãos do sr. Paul, que
é bastante maquiavélico", explica
Damasceno, 57.
Ele define seu personagem como
"quase um Beckett", transitando
na superficialidade cotidiana. "A
única esperança dele é acabar o dia
com tranquilidade e dormir."
Duas figuras femininas também
ganham voz no texto: Luize (Beatriz Tragtenberg) é a irmã de Paul,
enquanto Lilo (Iara Jamra) é a namorada do carreirista Helm.
Esta última surge como única
válvula de humor no universo sem
utopias refletido por Dorst. Para
quem já vestiu o uniforme da impagável Olimpia em "Trair e Coçar, É Só Começar", Iara Jamra,
42, se dá por satisfeita com sua enfermeira de voz estridente e algo
patética. "Lilo é a namoradinha
ideal, que deve transar bem com
Helm, é meio louquinha, mas não
tem nada de submissa", garante.
Com o texto de Dorst, a Arte Degenerada dá sequência à pesquisa
da dramaturgia alemã iniciada
com "Lulu" (96), de Frank Wedekind. Em 97, a companhia recebeu um ilustre visitante: Paulo
Autran atuou em "Antígona".
A experiência de dirigir Autran,
75, deu subsídios para Ferrara
usar em "O Senhor Paul". Com a
ressalva de que não houve confronto, mas troca. "Vejo-me muito como o jovem que precisa falar
de si para estabelecer uma relação,
mas sem passar por cima dos outros", afirma o diretor mineiro.
Peça: O Senhor Paul
Autor: Tankred Dorst (colaboração de
Ursula Ehler)
Direção: Sérgio Ferrara
Com: Companhia de Arte Degenerada
Onde: Instituto Goethe (r. Lisboa, 974,
Pinheiros, tel. 011/ 280-4288)
Quando: estréia hoje, às 21h; sex. e sáb., às
21h; dom., às 18h e 20h
Quanto: R$ 10
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