JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

O canal por assinatura Eurochannel exibe hoje, às 18h30, um curta-metragem insólito, o espanhol "Senhores de Gardênia" (1997), dirigido por Antonio Aloy e estrelado por Marisa Paredes.
No curta, a veterana atriz de filmes de Pedro Almodóvar interpreta Suzana Gardênia, uma burguesa que, insatisfeita com a performance sexual do marido, mergulha cada vez mais fundo em perversões relacionadas com deficiências físicas e mutilações.
O filme já começa com uma cópula, no estilo "papai-mamãe", filmada do alto. O marido falha, sai da cama estabanado e quebra uma estatueta. A mulher recolhe o corpo mutilado e o acaricia estranhamente. Todo o clima do curta está resumido nessa cena.
Segue-se a descida de Suzana aos porões de sua sexualidade: ela visita sex shops, aluga vídeos pornográficos e sanguinários, rouba o braço mecânico de um mendigo que dorme na rua etc. O marido a observa, escondido.
Sozinha, diante de um vídeo escabroso, Suzana diz: "Sou um monstro, mas eles não sabem". Num flashback, vemos que sua afeição por seres deformados vem desde a infância.
Há no filme muito do erotismo perverso de Buñuel, ainda que sem a economia de meios do mestre.
Tudo é explícito, ostensivo, extravagante -como no primeiro Almodóvar-, e a imagem é basicamente publicitária, com predominância de primeiros planos, forte contraste, cenografia "clean", filtros azuis etc.
Mas a embalagem "chique" talvez seja apenas uma armadilha do diretor Aloy para atrair espectadores incautos e lançá-los no abismo das perversões. Seu filme é uma espécie de projeção monstruosa, no mundo dos adultos, da sexualidade polimorfa da infância. O desejo, no curta, é literalmente um carro desgovernado.
O filme integra a série "Eurocurtas", que exibe filmes que se destacaram no Festival de Clermont-Ferrand (França), e será reprisado dia 6, às 20h30.


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