São Paulo, quinta-feira, 01 de junho de 2000


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LITERATURA
No final de sua viagem ao país, escritor tem encontro emocionado com leitores no salão da Ópera de Teerã
Paulo Coelho vira "profeta" para fãs do Irã

LUIZ ANTÔNIO RYFF
ENVIADO ESPECIAL A TEERÃ


Há 21 anos sem poder apresentar as atrações para as quais foi construído, o salão Vahdat (a Ópera de Teerã, na capital iraniana) conheceu ontem, com aplausos, tietagem, choro e comoção, uma diva diferente -que nem abriu a boca para cantar.
Foi uma apresentação curta. Por cerca de 20 minutos, o escritor Paulo Coelho discursou para uma platéia de mais de mil pessoas. E terminou a fala chorando bastante. "As pessoas aqui choram mesmo. Por isso acabei chorando também", disse após o evento, ressaltando a emoção que sentiu pela acolhida.
E foi alegando emoção que ele pediu para que o encontro terminasse -cancelando assim a série de perguntas e respostas que teria com o público.
Antes da palestra, houve um princípio de tumulto. Temendo que não houvesse lugar, algumas fãs bateram nas portas de vidro do salão, tentando forçar a entrada no auditório, que estava lotado e com várias pessoas em pé.
Do lado de fora, em frente à Ópera, um grande cartaz propagandeava que "hijab (o lenço que as mulheres muçulmanas usam para cobrir o rosto) é dignidade". Do lado de dentro, diferentemente do que ocorreu em Shiraz (sul do país), o auditório não estava separado por sexo. Homens e mulheres sentavam-se lado a lado -e a audiência era composta majoritariamente por garotas.
Depois das formalidades de praxe -a execução do hino nacional e a leitura do Al Corão-, foram recitados trechos da obra de Coelho, entremeados por um vídeo que mostrava momentos da visita do escritor ao Irã.
Como trilha sonora, foram escolhidas músicas instrumentais, as únicas oficialmente aceitas. Os seguranças tinham dificuldades para evitar que os fãs se aproximassem do escritor.
Na palestra, Coelho disse que queria visitar o Irã havia anos. Falou das dificuldades que teve para se tornar escritor, mencionou suas prisões, o regime militar e sua internação em um manicômio. "Sou um homem lutando por meus sonhos. Meu primeiro sonho foi me tornar um escritor. E nesse processo adquiri cicatrizes na alma", afirmou.
Mas Coelho só começou a chorar no final, ao se referir às dificuldades que teve para estar discursando para aquela audiência.
"Acredito na reza dos meus leitores. E acredito que vocês rezaram para que eu estivesse aqui", disse, se retirando do palco.
Nem a saída sem responder a perguntas frustrou os fãs. "Tudo foi perfeito. Foi a primeira vez que tivemos isso (a visita de um artista famoso) no Irã", afirmou a estudante Talin Bandari, 22.
Segundo ela, os iranianos se acham parecidos com os latino-americanos. "A gente pôde perceber isso quando Paulo disse que não nos via como leitores, mas como amigos." Talin acredita que o escritor é diferente dos demais "por indicar um caminho onde o que importa é a escolha pessoal".
"Ele é o melhor ser humano que Deus criou", declarou a estudante e tiete Pantel Peyvandi, 20, que chorou durante quase toda a palestra e considera o escritor mais do que um guia. Ela acha que Coelho ajuda as pessoas a "entenderem Deus". "Paulo é realmente um profeta. É um milagre ver um profeta nos dias de hoje."


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