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LITERATURA
No final de sua viagem ao país, escritor tem encontro emocionado com leitores no salão da Ópera de Teerã
Paulo Coelho vira "profeta" para fãs do Irã
LUIZ ANTÔNIO RYFF
ENVIADO ESPECIAL A TEERÃ
Há 21 anos sem poder apresentar as atrações para as quais foi
construído, o salão Vahdat (a
Ópera de Teerã, na capital iraniana) conheceu ontem, com aplausos, tietagem, choro e comoção,
uma diva diferente -que nem
abriu a boca para cantar.
Foi uma apresentação curta.
Por cerca de 20 minutos, o escritor Paulo Coelho discursou para
uma platéia de mais de mil pessoas. E terminou a fala chorando
bastante. "As pessoas aqui choram mesmo. Por isso acabei chorando também", disse após o
evento, ressaltando a emoção que
sentiu pela acolhida.
E foi alegando emoção que ele
pediu para que o encontro terminasse -cancelando assim a série
de perguntas e respostas que teria
com o público.
Antes da palestra, houve um
princípio de tumulto. Temendo
que não houvesse lugar, algumas
fãs bateram nas portas de vidro
do salão, tentando forçar a entrada no auditório, que estava lotado
e com várias pessoas em pé.
Do lado de fora, em frente à
Ópera, um grande cartaz propagandeava que "hijab (o lenço que
as mulheres muçulmanas usam
para cobrir o rosto) é dignidade".
Do lado de dentro, diferentemente do que ocorreu em Shiraz (sul
do país), o auditório não estava
separado por sexo. Homens e
mulheres sentavam-se lado a lado
-e a audiência era composta majoritariamente por garotas.
Depois das formalidades de
praxe -a execução do hino nacional e a leitura do Al Corão-,
foram recitados trechos da obra
de Coelho, entremeados por um
vídeo que mostrava momentos da
visita do escritor ao Irã.
Como trilha sonora, foram escolhidas músicas instrumentais,
as únicas oficialmente aceitas. Os
seguranças tinham dificuldades
para evitar que os fãs se aproximassem do escritor.
Na palestra, Coelho disse que
queria visitar o Irã havia anos. Falou das dificuldades que teve para
se tornar escritor, mencionou
suas prisões, o regime militar e
sua internação em um manicômio. "Sou um homem lutando
por meus sonhos. Meu primeiro
sonho foi me tornar um escritor.
E nesse processo adquiri cicatrizes na alma", afirmou.
Mas Coelho só começou a chorar no final, ao se referir às dificuldades que teve para estar discursando para aquela audiência.
"Acredito na reza dos meus leitores. E acredito que vocês rezaram para que eu estivesse aqui",
disse, se retirando do palco.
Nem a saída sem responder a
perguntas frustrou os fãs. "Tudo
foi perfeito. Foi a primeira vez que
tivemos isso (a visita de um artista
famoso) no Irã", afirmou a estudante Talin Bandari, 22.
Segundo ela, os iranianos se
acham parecidos com os latino-americanos. "A gente pôde perceber isso quando Paulo disse que
não nos via como leitores, mas como amigos." Talin acredita que o
escritor é diferente dos demais
"por indicar um caminho onde o
que importa é a escolha pessoal".
"Ele é o melhor ser humano que
Deus criou", declarou a estudante
e tiete Pantel Peyvandi, 20, que
chorou durante quase toda a palestra e considera o escritor mais
do que um guia. Ela acha que Coelho ajuda as pessoas a "entenderem Deus". "Paulo é realmente
um profeta. É um milagre ver um
profeta nos dias de hoje."
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