São Paulo, sábado, 01 de junho de 2002

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NA TV

Ator preferia teledramaturgia ao cinema

ESTHER HAMBURGER
CRÍTICA DA FOLHA

Mário Lago é conhecido do público contemporâneo por sua atuação televisiva. Mesmo que -ou talvez um pouco porque- seu "physique de rôle", para usar sua própria expressão, não se adeque exatamente ao padrão do galã em torno do qual giram as histórias românticas das mais de 60 novelas, seriados e minisséries, além dos cerca de 20 programas de ficção e inúmeros "Você Decide", em que atuou desde o ingresso na Globo, em 66.
Com atuações esporádicas em teleteatros da Tupi desde 1954, depois de 17 anos de dedicação à rádio Nacional, demitido e preso em 64, esse profissional multimeios, militante comunista convicto, passou a encarar a TV como atividade profissional principal. Ao contrário do senso comum, o ator preferia a TV ao cinema.
Mário valorizava o desafio no que muitos vêem como o limite da novela. As interferências múltiplas a que o folhetim eletrônico se submete, sujeito a pressões do público, da censura, dos patrocinadores, comumente exigem modificações de roteiro que exigem agilidade dos atores. Esse mesmo improviso permite que personagens cresçam em decorrência da contribuição do intérprete.
Alberico, o simpático e elegante senhor idealizador de sucessivos negócios fracassados, é paradigmático. O senhor de idade se tornou estrela de "Dancin" Days", a novela de Gilberto Braga que lançou a discoteca no país. Modernidade pop à parte, o personagem de Mário Lago ganhou espaço.
A história dos comunistas na televisão brasileira ainda está para ser contada. Mário Lago fez parte de um movimento que pretendeu realizar o chamado "projeto nacional e popular" na TV. O grupo foi decisivo na criação do que se estabeleceu como a teledramaturgia do país. Hoje o modelo está em crise e a morte de seus principais expoentes é sintomática. A partida de Mário Lago acentua o vazio de convicção e inteireza pessoal-profissional que marca a crise atual da TV no Brasil.



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