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NA TV
Ator preferia teledramaturgia ao cinema
ESTHER HAMBURGER
CRÍTICA DA FOLHA
Mário Lago é conhecido do
público contemporâneo
por sua atuação televisiva. Mesmo que -ou talvez um pouco
porque- seu "physique de rôle",
para usar sua própria expressão,
não se adeque exatamente ao padrão do galã em torno do qual giram as histórias românticas das
mais de 60 novelas, seriados e minisséries, além dos cerca de 20
programas de ficção e inúmeros
"Você Decide", em que atuou
desde o ingresso na Globo, em 66.
Com atuações esporádicas em
teleteatros da Tupi desde 1954, depois de 17 anos de dedicação à rádio Nacional, demitido e preso
em 64, esse profissional multimeios, militante comunista convicto, passou a encarar a TV como
atividade profissional principal.
Ao contrário do senso comum, o
ator preferia a TV ao cinema.
Mário valorizava o desafio no
que muitos vêem como o limite
da novela. As interferências múltiplas a que o folhetim eletrônico
se submete, sujeito a pressões do
público, da censura, dos patrocinadores, comumente exigem modificações de roteiro que exigem
agilidade dos atores. Esse mesmo
improviso permite que personagens cresçam em decorrência da
contribuição do intérprete.
Alberico, o simpático e elegante
senhor idealizador de sucessivos
negócios fracassados, é paradigmático. O senhor de idade se tornou estrela de "Dancin" Days", a
novela de Gilberto Braga que lançou a discoteca no país. Modernidade pop à parte, o personagem
de Mário Lago ganhou espaço.
A história dos comunistas na televisão brasileira ainda está para
ser contada. Mário Lago fez parte
de um movimento que pretendeu
realizar o chamado "projeto nacional e popular" na TV. O grupo
foi decisivo na criação do que se
estabeleceu como a teledramaturgia do país. Hoje o modelo está
em crise e a morte de seus principais expoentes é sintomática. A
partida de Mário Lago acentua o
vazio de convicção e inteireza pessoal-profissional que marca a crise atual da TV no Brasil.
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