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Revolta da juventude atual difere da de 68, diz Michel
ESPECIAL PARA A FOLHA
DA REPORTAGEM LOCAL
Leia abaixo a continuação da
entrevista com Régis Michel.
FOLHA - O que significa o movimento contra o CPE (Contrato do Primeiro Emprego) para a atualidade
política francesa?
MICHEL - A atualidade política
francesa... será que existe uma
atualidade política francesa [risos]? As pessoas deram sua opinião. O CPE é o nome que se dá
para uma crise maior, serve como prognóstico de expectativas políticas. Eu leio por todo
lado, na mídia, a idéia de que a
França é um país que é incapaz
de evoluir. É um absurdo. É
precisamente um país que resiste enquanto pode ao liberalismo selvagem, puro e duro. O
que temos é uma profunda recusa do modelo neoliberal.
FOLHA - Existe uma comparação
freqüente entre estes jovens e aqueles do movimento de 1968. Em que
medida eles são diferentes?
MICHEL - Eu acho que 68 foi um
movimento de profunda liberação, principalmente social, mas
também cultural, sexual. Havia
uma atmosfera revolucionária
que foi bloqueada pelo sindicato, pela esquerda democrática,
pela direita, todos amedrontados pela mudança. Mas a maneira era diferente. Hoje o que
temos é um mundo de recusa.
FOLHA - E de reformas?
MICHEL - Não. Eu me recuso a
falar em reforma. Reforma
quer dizer, sobretudo na linguagem dos políticos, se livrar
de benefícios sociais, abolir as
conquistas de direitos. É a regressão completa.
FOLHA - Mas, se não escutamos
mais a palavra "revolução" e se a
palavra "reforma" carrega todos esses significados, qual seria a palavra
de ordem desses jovens?
MICHEL - Nem uma nem outra.
Eu creio que a verdadeira palavra é "resistência". A única coisa que nós podemos fazer hoje
é resistir, o que não é necessariamente uma coisa negativa.
Resistir é também resistir às
evoluções políticas regressivas,
perigosas, repressivas.
FOLHA - E quanto aos movimentos
de periferia?
MICHEL - Eles têm um conteúdo social diferente, particular.
São pessoas marginalizadas.
Não têm perspectiva, não têm
emprego, estão numa espécie
de gueto, sofrendo todo o tipo
de discriminação... o que a gente pode esperar? Como não há
esperança possível, as formas
de resistência são violentas.
FOLHA - Essa "resistência" não vai
fundar uma nova geração de pensadores e artistas?
MICHEL - Me parece que não estamos num movimento de subversão cultural como ocorreu
em 68. Aquele movimento foi
preparado também pela revolução estruturalista e se desenvolveu com gente que já estava
lá antes -Foucault, Derrida,
Deleuze, Godard e outros. Na
verdade, 68 foi a cristalização, a
explosão de coisas profundamente preparadas nos anos anteriores. Com os CPEs absolutamente não é o caso.
FOLHA - Para as eleições de 2007
há perspectivas de mudança?
MICHEL - Nenhuma. Naturalmente a esquerda é melhor do
que a direita, e a possibilidade
de uma mulher [Segolène Royal] na Presidência na França
tem seu caráter simbólico. Mas
não há nenhuma perspectiva
de mudança nessa classe política, que é cega e surda: como em
toda parte, na Europa, a democracia acha-se esclerosada,
confiscada. Estamos entrando
no que Deleuze chama de "sociedade de controle". Nada
mais angustiante do que o devir
paranóico das velhas democracias que não têm mais valores.
LUIZ RENATO MARTINS é professor na área de
história e teoria crítica de arte da ECA-USP
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