São Paulo, domingo, 01 de junho de 2008

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Crítica

"Chabert" honra qualidade francesa

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Dizia o crítico maior do cinema, André Bazin, que, numa adaptação literária, por pior que seja, sempre sobra um pouco das virtudes do original. E uma arte recente e inculta como o cinema só teria a ganhar com essa contaminação.
"Coronel Chabert" (TV5 Monde, 20h30) é um caso de romance a calhar para adaptação, pelas suas dimensões (é pequeno), pelas poucas ramificações, pelas implicações.
Chabert é um coronel do exército napoleônico tido como morto. Ele tanto não morreu que, algum tempo depois, reaparece. Mas o mundo não é o mesmo: a monarquia foi restaurada, a nobreza napoleônica tenta se adaptar, e, sobretudo, a França não está pronta para receber um morto.
Fantasma napoleônico, Chabert não tem lugar nem mesmo em casa: sua mulher tratou de buscar novas núpcias com alguém da velha nobreza. Estranha situação, que não se sabe se Balzac foi buscar em Shakespeare -um desses fantasmas que aparecem para assombrar os vivos- ou se da incrível capacidade para captar e descrever a vida no momento de ascensão da burguesia.
Yves Angelo não faz aqui uma obra-prima, mas um filme bem característico da tradição da "qualidade francesa", que a nouvelle vague tanto combateu. Lá estão Depardieu (Chabert), Fanny Ardant (a viúva Truffaut), Fabrice Luchini, André Dussolier. Grande história, atores ilustres, e sempre sobra um tanto de Balzac lá dentro.


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