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Crítica
"Chabert" honra qualidade francesa
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Dizia o crítico maior do cinema, André Bazin, que, numa
adaptação literária, por pior
que seja, sempre sobra um pouco das virtudes do original. E
uma arte recente e inculta como o cinema só teria a ganhar
com essa contaminação.
"Coronel Chabert" (TV5
Monde, 20h30) é um caso de
romance a calhar para adaptação, pelas suas dimensões (é
pequeno), pelas poucas ramificações, pelas implicações.
Chabert é um coronel do
exército napoleônico tido como morto. Ele tanto não morreu que, algum tempo depois,
reaparece. Mas o mundo não é
o mesmo: a monarquia foi restaurada, a nobreza napoleônica
tenta se adaptar, e, sobretudo, a
França não está pronta para receber um morto.
Fantasma napoleônico, Chabert não tem lugar nem mesmo
em casa: sua mulher tratou de
buscar novas núpcias com alguém da velha nobreza. Estranha situação, que não se sabe
se Balzac foi buscar em Shakespeare -um desses fantasmas
que aparecem para assombrar
os vivos- ou se da incrível capacidade para captar e descrever a vida no momento de ascensão da burguesia.
Yves Angelo não faz aqui
uma obra-prima, mas um filme
bem característico da tradição
da "qualidade francesa", que a
nouvelle vague tanto combateu. Lá estão Depardieu (Chabert), Fanny Ardant (a viúva
Truffaut), Fabrice Luchini, André Dussolier. Grande história,
atores ilustres, e sempre sobra
um tanto de Balzac lá dentro.
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