|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SEMANA DE MODA CASA DE CRIADORES
Delírio e camisetas ocupam temporada quase transcendental
ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA
São Paulo ganhou uma das
mais incríveis salas de desfiles
do planeta com a 14ª edição da Semana de Moda Casa de Criadores.
Os jovens criadores foram recebidos em uma passarela armada debaixo do Viaduto do Chá. O cenário emprestou modernidade à
montagem.
Como era esperado, o sábado
foi o melhor, com a apresentação
de Karlla Girotto, e trouxe como
simpática revelação o desfile lúdico da marca de camisetas Theodora. Na véspera, a masculina
Moshe colocou um sorriso no
rosto dos fashionistas.
O clima da temporada é de fato
único, quase transcendental. A
moda hoje funciona como válvula
de escape e quanto mais delírio na
passarela, melhor. Girotto avança
como estilista, costurando vestidos complexos e de depurada feminilidade.
Conectada com as artes plásticas, a estilista se faz conceitual e
produz bonitas imagens. Um ou
outro maneirismo soa fora de lugar, mas como ela tem 25 anos e
esse é apenas seu terceiro desfile,
vamos dar tempo ao tempo.
Golas e corselets desenham o
corpo; o spencer verde claríssimo
repuxado é incrível; o militarismo
vem furado e manchado tipo
spray, pérolas e bordados sofisticam tudo. Encerrando um ciclo,
ela traz à passarela looks de coleções anteriores. Esperemos, então, o próximo passo.
A Moshe, simpático streetwear
do estilista Mauricio Pollacsek,
associa o comercial com o delirante, evocando extraterrestres de
bermuda e pantufas, com divertidas camisetas. E as camisetas
-solução fashion e barata- dão
o tom do evento. São os melhores
momentos da TWD e da estreante
Rita Wainer, que lembra o frescor
de Bernard Willhelm e a ingenuidade de um Sommer iniciante. A
estampa "No me molesten, estoy
bailando" resume o espírito descompromissado e hedonista de
sua grife, a Theodora.
Outra boa surpresa foi o amadurecimento da marca Gêmeas,
obtendo boas calças inspiradas na
elegância dos jóqueis. Carina
Duek se destaca entre os novíssimos, mais despretensiosa e feminina, acertando nas silhuetas e na
cartela de cores.
Cecilia Echenique desfila coleção raver new age, mas acerta
mais quando faz moda. Paulo
Carvas, no masculino, se perde
um pouco nas imagens, agradando nos macacões e calças; Pi Luchezi se embaralha no jogo de
oposições, e Gustavo Silvestre erra
no foco e ainda não sabe o que fazer. A I.L., com sua bobinha praia
de plástico anos 80. Marcelo Rodrigues, no último dia, não precisava fazer tendência (surfe) aqui.
Melhor deixar espaço para a criatividade, sem preocupações tão
comerciais. Enquanto dá.
Texto Anterior: Ermírio de Moraes: Olha o passarinho! Próximo Texto: Sommer e British Colony estão no 2º dia da SPFW Índice
|