São Paulo, domingo, 01 de julho de 2007

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Mônica Bergamo

@ - bergamo@folha.com.br

Gilvan Barreto/Folha Imagem
O café da manhã com o marido, Cláudio


Camila versus Bebel

Às voltas com o sucesso da prostituta que interpreta na novela das oito, com a mudança de casa e com o lançamento do longa "Saneamento Básico", de Jorge Furtado, atriz fica "exausta" e "melancólica" -mas está feliz

Bebel está deixando Camila Pitanga anêmica. "A Stella [amiga que orienta os exercícios físicos da atriz] "tá" achando que eu ando muito cansada. Que estou com anemia. Porque eu durmo bem, me alimento bem. Mas, cara... Eu fico numa exaustão, numa melancolia... Então, para não ficar no achismo, eu fiz um exame de sangue e estou esperando o resultado", diz a atriz para Alexandre Ribeiro, professor de ginástica que corre com ela três dias da semana -muitas vezes, às 6h.

 

Na quinta-feira, apesar da sensação de cansaço, Camila correu 9 km com Alexandre na Estrada das Paineiras, num parque do Rio de Janeiro cheio de árvores e cachoeiras. A atriz tem que manter a forma por causa de Bebel, a prostituta ambiciosa que interpreta em "Paraíso Tropical". Com 1,71 m, ela estabilizou o peso em 58 kg. O sucesso da personagem aumentou o número de vezes em que Camila aparece na novela. Na dia seguinte, ela teria 20 cenas para gravar. A explosão de Bebel lotou também a agenda pessoal da atriz. "A demanda de imprensa aumentou de um jeito que eu nunca tive", diz ela.
 

Camila está às voltas também com a reforma de sua nova casa, no Jardim Botânico, que já dura oito meses. "Decidi mudar de qualquer jeito", diz ela, apresentando os cômodos ainda sem móveis à coluna. "Aqui é o meu quarto e o do Cláudio [do Amaral Peixoto, com quem está casada há oito anos]. Esse é o da Maria Luiza [filha de Cláudio, de 9 anos]. E este é o do bebê." Bebê? Sim, Camila quer ter um casal de filhos. Ainda não está grávida, mas já prepara o quarto da criança. "É esse meu lado virginiano, super organizado, que me deixa assim, tensa com essa situação [de mudança]. A minha vida atualmente está fragmentada. E eu estou acostumada a ter um pouco mais de controle sobre tudo."
 

São mais de dez pessoas zanzando de um lado para o outro na nova casa. A secretária, Núncia, entrega a ela uma planilha com os compromissos da semana diferenciados por cores. Em verde, estão aqueles relacionados à enteada. "Festa junina da Maria Luiza." Em laranja, "terapia", que ela faz às terças-feiras. Em lilás e rosa, corrida, esfoliação, massagem ayurvedica, acupuntura. Em caneta, os horários de gravação. "Ai, que maldade. Gravação no sábado!", diz. "Ai, que ódio...", suspira. A festinha da enteada cai no mesmo dia.
 

"Esse fio da TV a cabo vai ficar passando aqui? Não, gente, não pode!", diz Camila aos pedreiros. Além da secretária, ela contratou uma amiga, Micaela Goes, "que é super organizada" e ajuda profissionalmente pessoas a arrumarem suas casas. Outra amiga, que é economista, foi contratada pela atriz para cuidar de seus investimentos.
 

Camila e Cláudio tomam café da manhã juntos -e só voltam a se ver no fim do dia, tipo na hora da novela (ele é diretor de arte e está fazendo o filme "Ônibus 174", de Bruno Barreto). Maria Luiza pouco vê "Paraíso Tropical". Mas, às vezes, se interessa quando Bebel aparece na tela. Camila não acha que as cenas são fortes demais para a enteada -e, de quebra, para outras crianças que podem estar diante da TV no mesmo horário? "Eu acho delicado. Mas agora está tendo um cuidado maior. As cenas da Bebel eram muito mais quentes."
 

Na contramão das emissoras, Camila acha que o governo deve, sim, fazer a classificação indicativa dos programas de TV. "Não vejo nenhum monstro de sete cabeças nessa decisão. Pelo contrário. Este limite, da maneira como está sendo colocado, é muito bem-vindo. Não é censura. Não vai ter corte de cena, de profissional. É apenas uma indicação. E é um direito do consumidor ter orientação. A liberdade se mantém para todos: as TVs fazem suas programações, e o consumidor tem mais informação para escolher. A sociedade precisa de regras comuns. E as emissoras de TV não estão fora disso", diz a atriz.
 

"Que horror! Que preconceito, que sordidez", diz, comentando a surra que jovens da Barra da Tijuca deram em uma empregada doméstica pensando que se tratava de "uma prostituta". "É muito triste. Muito triste. O pai não ter vergonha... Eu morreria de vergonha se fosse meu filho."
 

Depois de colocar a ordem possível na nova casa e de correr nas Paineiras, Camila embarca em sua Pajero cinza, que ela mesma dirige, rumo à casa da atriz Camila Amado. Juntas, num trabalho de preparação, as duas ensaiam cenas de Bebel. "Discutimos quais são as intenções, os caminhos da personagem. É um exercício, uma experimentação", diz a atriz. Assim como a prostituta, na novela, está aprendendo a ser "moça fina", Camila (que antes da estréia da novela visitou inferninhos no Rio para conhecer a profissão) está aprendendo cada vez mais a ser Bebel.
 

Nada mais distante dela que a personagem. A prostituta pinta as unhas de roxo -a atriz nem usa esmalte ("sou meio hippie, sabe?"). Bebel é atirada e desbocada. Camila é contida e mede as palavras. A prostituta tem muitos homens. A atriz é casada desde os 22 anos. Bebel jamais recusaria um convite da "Playboy". Já Camila... nem pensar. "Ela vai posar nua? "Tô" chocada!", diz a atriz, sobre a possibilidade de Mônica Veloso, mãe da filha de Renan Calheiros, aparecer na revista. "Não julgo ninguém. Mas é impressionante. Ela já está exposta numa situação delicada."
 

Neste mês, além de gravar a novela, Camila vai viajar pelo Brasil para as pré-estréias de "Saneamento Básico", longa de Jorge Furtado. Cilene, a personagem dela, é uma secretária do interior do Rio Grande do Sul, que topa estrelar um vídeo improvisado sobre a construção de uma fossa. A prefeitura não tem dinheiro para fazer a obra -mas tem recurso para o filme. "Ela é péssima mas se acha uma ótima atriz", conta.
 

Camila fica na casa da outra Camila (Amado), que também a ajudou a "construir" a gaúcha Cilene, até as 15h, treinando os modos e manias de Bebel. Volta para casa na Pajero, levando junto, para o almoço, o ator Leonardo Britto. Repassam os textos que a atriz gravará logo mais. "Sou o "dialogue coach" [treinador de diálogos] dela", diz Britto. "É assim que chamam em Hollywood", explica.
 

Às 18h, ela chega ao estúdio da TV Globo. Faz o penteado de Bebel, coloca a roupa de Bebel, grava a cena de Bebel. Por volta de 20h, deixa o estúdio. Exausta, quase anêmica, chega em casa pouco depois das 21h -a tempo de assistir ao próximo capítulo da vida de Bebel.


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