São Paulo, domingo, 01 de julho de 2007

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Shakespeareana, série é análise dos tempos atuais, afirma acadêmico

DE WASHINGTON

Ele é autor do primeiro curso acadêmico sobre a série "Sopranos" e do livro "The Sopranos on the Couch - Analyzing TV's Greatest Series" (Sopranos no Divã - Analisando a Melhor Série de TV, Continuum, 2003). Para Maurice Yacowar, professor de literatura inglesa da Universidade de Calgary, no Canadá, a série é "shakespeareana". Leia a entrevista dada à Folha por e-mail. (SD)  

FOLHA - O sr. escreveu que "Sopranos" é o primeiro drama da TV com profundidade shakespereana e detalhes sofisticados. Por quê?
MAURICE YACOWAR
- Cada linha de diálogo, cada trecho de música, cada composição de cena e cada corte tem algum significado. Uma cena de "Sopranos", assim como cada episódio e temporada, é pensada com o detalhamento de uma passagem de Shakespeare e é igualmente aberta a interpretações. Os temas também são universais: inocência, responsabilidade moral, a porção feminina de cada homem e vice-versa, a questão moral de cada atitude política. Pode servir para uma análise dos tempos atuais dos EUA tão penetrante quanto as histórias de Shakespeare serviam para a época dele -e ambos têm a mesma repercussão.

FOLHA - O sr. diz ainda que a série revolucionou a TV: como?
YACOWAR
- O seriado provou que existe uma audiência que quer seguir um drama adulto, sem censura de linguagem e com personagens ambivalentes e complexos, com questões impossíveis de ser resolvidas.

FOLHA - O sr. deu o primeiro curso acadêmico dedicado à série. Um programa de TV vale um estudo?
YACOWAR
- Um seriado vale um estudo acadêmico quando pode ser analisado profundamente. Quanto mais eu assistia a cada episódio, mais elementos eu encontrava. E, conforme os episódios iam sendo apresentados, mais os anteriores pareciam ser repletos de significados. Dei o curso porque podia analisar cada episódio cena por cena, portanto dei aos alunos a oportunidade de desenvolver análises críticas e conhecer novas maneiras de expressão. Essa é uma das vantagens de Shakespeare em comparação a dramaturgos contemporâneos dele como Beaumont e Fletcher.

FOLHA - Como foi a resposta dos estudantes ao curso?
YACOWAR
- Os estudantes tiveram problemas para entender que precisavam pensar por eles mesmos e analisar uma mídia a que eles estão mais acostumados a assistir passivamente.

FOLHA - O sr. deve ter acompanhado a reação do público depois da exibição do último episódio. Acredita que os norte-americanos são obcecados com a idéia de que todos os problemas devem ser resolvidos no final e que os criminosos devem ser punidos, mesmo na ficção?
YACOWAR
- Os EUA não têm o monopólio da ignorância da audiência. E nivelar por baixo é uma conveniência global (talvez o Brasil seja a exceção). Mas a reação foi uma insensatez do público, já que em nenhum episódio anterior os problemas se revolvem por completo e não há nenhuma solução simples.


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