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Shakespeareana, série é análise dos tempos atuais, afirma acadêmico
DE WASHINGTON
Ele é autor do primeiro curso
acadêmico sobre a série "Sopranos" e do livro "The Sopranos on the Couch - Analyzing
TV's Greatest Series" (Sopranos no Divã - Analisando a Melhor Série de TV, Continuum,
2003). Para Maurice Yacowar,
professor de literatura inglesa
da Universidade de Calgary, no
Canadá, a série é "shakespeareana". Leia a entrevista dada à
Folha por e-mail.
(SD)
FOLHA - O sr. escreveu que "Sopranos" é o primeiro drama da TV com
profundidade shakespereana e detalhes sofisticados. Por quê?
MAURICE YACOWAR - Cada linha
de diálogo, cada trecho de música, cada composição de cena e
cada corte tem algum significado. Uma cena de "Sopranos",
assim como cada episódio e
temporada, é pensada com o
detalhamento de uma passagem de Shakespeare e é igualmente aberta a interpretações.
Os temas também são universais: inocência, responsabilidade moral, a porção feminina de
cada homem e vice-versa, a
questão moral de cada atitude
política. Pode servir para uma
análise dos tempos atuais dos
EUA tão penetrante quanto as
histórias de Shakespeare serviam para a época dele -e ambos têm a mesma repercussão.
FOLHA - O sr. diz ainda que a série
revolucionou a TV: como?
YACOWAR - O seriado provou
que existe uma audiência que
quer seguir um drama adulto,
sem censura de linguagem e
com personagens ambivalentes
e complexos, com questões impossíveis de ser resolvidas.
FOLHA - O sr. deu o primeiro curso
acadêmico dedicado à série. Um
programa de TV vale um estudo?
YACOWAR - Um seriado vale um
estudo acadêmico quando pode
ser analisado profundamente.
Quanto mais eu assistia a cada
episódio, mais elementos eu
encontrava. E, conforme os
episódios iam sendo apresentados, mais os anteriores pareciam ser repletos de significados. Dei o curso porque podia
analisar cada episódio cena por
cena, portanto dei aos alunos a
oportunidade de desenvolver
análises críticas e conhecer novas maneiras de expressão. Essa é uma das vantagens de Shakespeare em comparação a dramaturgos contemporâneos dele como Beaumont e Fletcher.
FOLHA - Como foi a resposta dos
estudantes ao curso?
YACOWAR - Os estudantes tiveram problemas para entender
que precisavam pensar por eles
mesmos e analisar uma mídia a
que eles estão mais acostumados a assistir passivamente.
FOLHA - O sr. deve ter acompanhado a reação do público depois da exibição do último episódio. Acredita
que os norte-americanos são obcecados com a idéia de que todos os
problemas devem ser resolvidos no
final e que os criminosos devem ser
punidos, mesmo na ficção?
YACOWAR - Os EUA não têm o
monopólio da ignorância da audiência. E nivelar por baixo é
uma conveniência global (talvez o Brasil seja a exceção). Mas
a reação foi uma insensatez do
público, já que em nenhum episódio anterior os problemas se
revolvem por completo e não
há nenhuma solução simples.
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