São Paulo, domingo, 01 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/"O Ilusionista" e "O Grande Truque"

Filmes divergem na abordagem da ilusão

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

"O Grande Truque" e "O Ilusionista", dois filmes em torno da mágica como espetáculo, estrearam nos cinemas ano passado e, agora, estão disponíveis em DVD. Uma coincidência no mínimo notável, que permite alguns devaneios.
Ambos se situam na Europa da virada do século 19 para o século 20, bem na época em que nascia o cinema. O tema é um só (a ilusão e, indiretamente, a própria capacidade ilusória do cinema); e o tratamento, que busca um suspense elegante, também é bastante parecido.
Mas as afinidades terminam aí. Enquanto "O Grande Truque", de Christopher Nolan, fala da superficialidade da ilusão e das aparências, "O Ilusionista", de Neil Burger, é radicalmente político e aposta na profundidade e na capacidade subversiva da ilusão. Nolan sustenta sua história na rivalidade entre dois mágicos (Christian Bale e Hugh Jackman), ex-assistentes de um mestre que se lançam em carreiras-solo alimentados por uma competição doentia.
Já Burger conta como o mágico Eisenheim (Edward Norton) utiliza seus poderes para reconquistar Sophie (Jessica Biel), paixão de infância perdida por conta de diferenças sociais (ela nobre, ele plebeu). Apesar do ótimo trabalho de Norton, o grande personagem é o inspetor de polícia Uhl (Paul Giamatti). Funcionário do príncipe Leopold, tirano noivo de Sophie, Uhl traça um arco de transformação fascinante, passando da total adesão ao poder estabelecido à consciência da ilusão desse poder. Quem "abre seus olhos", indiretamente, é Eisenheim, que usa a ilusão como ferramenta para derrubar verdades estabelecidas e mostrar como tudo aquilo que investe o príncipe Leopold de autoridade é mera convenção (ou seja, ilusão).
Se "O Grande Truque" é um filme nostálgico, que faz um elogio um tanto pesado da mecânica e da eletricidade (bem como de um certo cinema que se vai com a chegada da era digital), "O Ilusionista", mais atual e moderno, vai bem mais longe ao contrapor o poder da ilusão à ilusão do poder.


O ILUSIONISTA
Distribuidora:
Focus Filmes (R$ 35)
Avaliação: ótimo

O GRANDE TRUQUE
Distribuidora:
Warner (R$ 45)
Avaliação: regular


Texto Anterior: Sacha Cohen em 3 filmes
Próximo Texto: Nas lojas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.