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BIA ABRAMO
"Entrelinhas" fala de livros sem arrogância
O programa é um
produto típico daquela "velha" TV Cultura, que
investia em qualidade
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"ENTRELINHAS", programa
sobre livros e literatura
da TV Cultura, enfrenta
um desafio interessante: como falar
de um assunto que é, na verdade,
alheio e estranho a boa parte dos telespectadores, sem assumir um tom
arrogante?
Os dados sobre os hábitos de leitura no Brasil são desanimadores -o
índice de leitura é de 1,8 livro ao ano
por habitante (contra, por exemplo,
2,4 por habitante na Colômbia), segundo dados do Retrato de Leitura
no Brasil, realizado em 2000 pela
Câmara Brasileira do Livro.
Mais recentemente, um perfil dos
universitários da Grande São Paulo
feito pelo Centro Integrado Escola-Empresa revelou que 18% dos estudantes declara não gostar de ler, enquanto 16% o faz apenas esporadicamente e 66% lê principalmente livros didáticos.
Como e por que fazer um programa de TV exclusivamente dedicado
aos livros neste panorama? À primeira pergunta, o "Entrelinhas" responde fazendo boa reportagem cultural. A preocupação em tratar o assunto de forma jornalística, ou seja,
procurando a informação, a temperatura, os personagens em evidência, as coberturas de fôlego, confere
ritmo e sensação de novidade. Não
falta assunto. Apesar de continuar
sendo um país de poucos leitores, o
Brasil hoje tem uma movimentação
intensa na área editorial: feiras, bienais, uma quantidade razoável de
lançamentos.
Além disso, ao tratar o livro e a literatura como uma coisa do mundo
real, pode aproximar o espectador
desse universo mais ou menos desconhecido. Talvez não muitos, mas
certamente alguns.
E talvez aí mesmo esteja o porquê
desse projeto, à primeira vista quixotesco. O "Entrelinhas" é o tipo de
programa que só consegue existir
em uma emissora pública, que é onde, por enquanto, pode se contemplar a diversidade de espectadores.
Embora tenha sido gestado e estreado no período em que a TV Cultura tentou ganhar audiência emulando (mal) a TV comercial e abandonando seus projetos mais experimentais e ousados, o programa "Entrelinhas" é um produto típico daquela "velha" TV Cultura, que investia em qualidade, ao mesmo tempo
em que procurava o espectador e
não subia no salto.
Ainda não dá para saber como será a
gestão de Paulo Markun, empossado
há pouco mais de duas semanas como presidente da Fundação Padre
Anchieta, mas ele parece estar mais
próximo desse modelo de TV pública do que daquele que vigorou nos
últimos anos.
biaabramo.tv@uol.com.br
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