Cinema cômico de Jacques Tati foi ponto de partida para novo trabalho da Cia. Nova Dança 4, que estreia hoje

Peça encerra trilogia inspirada em gêneros dramáticos; Hitchcock e Nelson Rodrigues foram referências anteriores

ADRIANA PAVLOVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Nos últimos anos, a Cia. Nova Dança 4 mergulhou no suspense de Alfred Hitchcock ("Influência, Primeiros Estudos", de 2008) e se debruçou sobre o universo melodramático de Nelson Rodrigues ("O Beijo", de 2009).
Agora, para fechar a trilogia que tem gêneros dramáticos como base, a diretora Cristiane Paoli Quito optou pela leveza.
O cinema cômico do francês Jacques Tati é o ponto de partida para "Tráfego", espetáculo que estreia hoje no Sesc Santana e, até setembro, passa pelos Sescs Consolação, Interlagos e Itaquera, pelo Viga Espaço Cênico e pela Galeria Olido.
"Nossos laboratórios partiram de filmes de Tati, porque ele é obcecado pela composição. Todos os movimentos de seus personagens são coreografados, mas ele também é fascinado pelo espaço, pela arquitetura e transforma tudo, aos meus olhos, numa dança", diz Quito.
"Tráfego" marca a volta da Nova Dança a um terreno que sempre lhe foi mais caro: o da comicidade. Presente em outros espetáculos da companhia, ele havia sido deixado de lado devido às tintas mais dramáticas de "Influência" e do "Beijo".

INFLUÊNCIA CLOWN
Aqui, a diretora volta a exercitar com os bailarinos seu reconhecido lado de professora de palhaço.
"Trabalhamos com um humor mais refinado, delicado, apresentando o palhaço como uma figura inadequada dentro da sociedade. Por isso, ao desenhar a dramaticidade dos corpos, também usamos um pouco do trabalho de Buster Keaton e Chaplin", afirma a diretora.
Em "Tráfego" há sete personagens que vão e vêm na cena. Eles são acompanhados por um trio, responsável por tocar ao vivo uma trilha divertida que passa por composições de jazz e pop dos anos 1970.
Não existe uma história em si, mas a dramaturgia costura encontros e desencontros de personagens bem-humorados. Como é marca da Nova Dança, a improvisação e os movimentos espontâneos também estão lá.
"É um espetáculo inocente, que mostra a paixão desses personagens por esportes como o boxe, seus encontros amorosos, suas chegadas e partidas", diz Quito.