São Paulo, quarta-feira, 01 de agosto de 2001

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TEATRO

Nomes atuaram no Oficina nos anos 60 e retomam um Górki inédito, "Vassah, a Dama de Ferro", tradução de Kusnet

Peça une Borghi, Zé Celso, Peixoto e Ittala

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1960, a montagem de "A Engrenagem", pelo grupo Oficina, tradução e adaptação de Augusto Boal para o texto do filósofo Jean-Paul Sartre, trazia o ator e diretor Eugênio Kusnet no papel de um operário que, no poder, capitula diante de uma ditadura.
Um pouco da conjunção daquela época de efervescência ideológica pode se dar em "Vassah, a Dama de Ferro", espetáculo que estréia na sexta-feira em São Paulo, no teatro Sérgio Cardoso.
O texto é do russo Máximo Górki (1868-1936), traduzido a quatro mãos pelo "mestre" russo Kusnet (1898-1976), radicado no Brasil e tido como responsável pela introdução do método de atores do mestre-mor Constantin Stanislavski, e pelo ator, diretor e pesquisador Fernando Peixoto, 64.
Em cena, "Vassah" traz as participações do próprio Peixoto, além de Renato Borghi, 64, e José Celso Martinez Corrêa, 64, este por meio de uma cena gravada em vídeo. Os três, ao lado da atriz que interpreta o papel-título, Ittala Nandi, 59, dão o caráter extraordinário à reunião dos artistas que têm o teatro Oficina como eixo propulsor de suas carreiras.
Há um quinto ingrediente, por assim dizer. Trata-se de uma montagem inédita da segunda versão da peça de Górki. A primeira, intitulada "Vassah Geleznova - A Mãe", foi escrita em 1910. A segunda, sem o subtítulo (o sobrenome significa literalmente "a mulher de ferro"), veio à luz em 1936, um mês antes da morte do autor -foi o último texto.
Segundo Peixoto, a primeira versão foi montada anos atrás, no Rio, pela diretora Maria Clara Machado. A segunda chegou a ser cogitada pelo Oficina, mas não vingou, ao contrário dos dois textos de Górki encenados pelo grupo, "Pequenos Burgueses" (1963) e "Os Inimigos" (1966). Peixoto e Kusnet reuniram-se para traduzir "Vassah" em 1967. "O Kusnet considerava essa a peça mais importante de Górki", diz.
A história se passa na Rússia de 1908, entre a fracassada tentativa revolucionária de 1905 e a Revolução Comunista, em 1917. O ex-capitão da Marinha Mercante Sergei Geleznov (Zé Celso, no vídeo) é acusado de pedofilia. Sua mulher, Vassah (Ittala), que comanda a casa e os negócios da família, tenta corromper os juízes. Quando percebe que não pode salvá-lo, aconselha-o que se suicide, um ato "mais digno". Geleznov se recusa, mas é encontrado morto.
"A história é um thriller, mas sem realismo psicológico", diz Ittala. "Não há paredes, o cenário é aberto, é uma montagem épica."
Paralelamente, Vassah costura os conflitos de outros membros da família, como as filhas, o irmão e a nora Raquel (Renata Soffredini), que surge na metade do enredo e ancora a perspectiva humanista e revolucionária de Górki.
O diretor Alexandre de Mello diz que a concepção do espetáculo segue a linguagem cinematográfica. "A estrutura é parecida com a de um roteiro, tem algo de Eisenstein", afirma, citando o russo Sergei Eisenstein, de "O Encouraçado Potemkin" (1925).


VASSAH, A DAMA DE FERRO - De Máximo Górki. Tradução: Eugênio Kusnet e Fernando Peixoto. Com: Ittala Nandi, José Celso Martinez Corrêa, Renato Borghi, Luiza Albuquerque, Igor Kovalewski e outros. Onde: teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, Bela Vista, tel. 0/xx/11/288-0136). Quando: estréia sexta (dia 3), às 21h; qui. a sáb., às 21h; dom., às 18h. R$ 10 a R$ 25. Até 23/9. Patrocinadores: Petrobras BR, Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, Secretaria Municipal de Cultura e MinC.



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