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TEATRO
Nomes atuaram no Oficina nos anos 60 e retomam um Górki inédito, "Vassah, a Dama de Ferro", tradução de Kusnet
Peça une Borghi, Zé Celso, Peixoto e Ittala
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 1960, a montagem de "A Engrenagem", pelo grupo Oficina,
tradução e adaptação de Augusto
Boal para o texto do filósofo Jean-Paul Sartre, trazia o ator e diretor
Eugênio Kusnet no papel de um
operário que, no poder, capitula
diante de uma ditadura.
Um pouco da conjunção daquela época de efervescência ideológica pode se dar em "Vassah, a
Dama de Ferro", espetáculo que
estréia na sexta-feira em São Paulo, no teatro Sérgio Cardoso.
O texto é do russo Máximo Górki (1868-1936), traduzido a quatro
mãos pelo "mestre" russo Kusnet
(1898-1976), radicado no Brasil e
tido como responsável pela introdução do método de atores do
mestre-mor Constantin Stanislavski, e pelo ator, diretor e pesquisador Fernando Peixoto, 64.
Em cena, "Vassah" traz as participações do próprio Peixoto, além
de Renato Borghi, 64, e José Celso
Martinez Corrêa, 64, este por
meio de uma cena gravada em vídeo. Os três, ao lado da atriz que
interpreta o papel-título, Ittala
Nandi, 59, dão o caráter extraordinário à reunião dos artistas que
têm o teatro Oficina como eixo
propulsor de suas carreiras.
Há um quinto ingrediente, por
assim dizer. Trata-se de uma
montagem inédita da segunda
versão da peça de Górki. A primeira, intitulada "Vassah Geleznova - A Mãe", foi escrita em 1910.
A segunda, sem o subtítulo (o sobrenome significa literalmente "a
mulher de ferro"), veio à luz em
1936, um mês antes da morte do
autor -foi o último texto.
Segundo Peixoto, a primeira
versão foi montada anos atrás, no
Rio, pela diretora Maria Clara
Machado. A segunda chegou a ser
cogitada pelo Oficina, mas não
vingou, ao contrário dos dois textos de Górki encenados pelo grupo, "Pequenos Burgueses" (1963)
e "Os Inimigos" (1966). Peixoto e
Kusnet reuniram-se para traduzir
"Vassah" em 1967. "O Kusnet
considerava essa a peça mais importante de Górki", diz.
A história se passa na Rússia de
1908, entre a fracassada tentativa
revolucionária de 1905 e a Revolução Comunista, em 1917. O ex-capitão da Marinha Mercante Sergei
Geleznov (Zé Celso, no vídeo) é
acusado de pedofilia. Sua mulher,
Vassah (Ittala), que comanda a
casa e os negócios da família, tenta corromper os juízes. Quando
percebe que não pode salvá-lo,
aconselha-o que se suicide, um
ato "mais digno". Geleznov se recusa, mas é encontrado morto.
"A história é um thriller, mas
sem realismo psicológico", diz Ittala. "Não há paredes, o cenário é
aberto, é uma montagem épica."
Paralelamente, Vassah costura
os conflitos de outros membros
da família, como as filhas, o irmão
e a nora Raquel (Renata Soffredini), que surge na metade do enredo e ancora a perspectiva humanista e revolucionária de Górki.
O diretor Alexandre de Mello
diz que a concepção do espetáculo segue a linguagem cinematográfica. "A estrutura é parecida
com a de um roteiro, tem algo de
Eisenstein", afirma, citando o russo Sergei Eisenstein, de "O Encouraçado Potemkin" (1925).
VASSAH, A DAMA DE FERRO - De
Máximo Górki. Tradução: Eugênio
Kusnet e Fernando Peixoto. Com: Ittala
Nandi, José Celso Martinez Corrêa,
Renato Borghi, Luiza Albuquerque, Igor
Kovalewski e outros. Onde: teatro Sérgio
Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, Bela Vista,
tel. 0/xx/11/288-0136). Quando: estréia
sexta (dia 3), às 21h; qui. a sáb., às 21h;
dom., às 18h. R$ 10 a R$ 25. Até 23/9.
Patrocinadores: Petrobras BR, Secretaria
de Estado da Cultura de São Paulo,
Secretaria Municipal de Cultura e MinC.
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