São Paulo, quarta-feira, 01 de agosto de 2001

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CINEMA

Inauguração do Arteplex e investimento do grupo carioca Estação remodelam padrão de exibição e expandem salas

Circuito de arte muda a figura em SP

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Duas sociedades e uma inauguração reconfiguram o perfil dos cinemas de arte de São Paulo. Na próxima sexta, os exibidores Adhemar Oliveira e Leon Cakoff (ex-concorrentes, hoje unidos sob a marca Circuito Cinearte) abrem ao público as nove salas de seu Arteplex, investimento de R$ 7 milhões em um shopping na região central da cidade.
Há duas semanas, os proprietários do Estação Botafogo (rede que possui 15 salas no Rio) firmaram contrato com o grupo Alvorada, pelo qual se tornaram co-proprietários de dez salas na capital paulista e assumiram o comando de sua programação.
Os dois grupos que disputam o público dos filmes independentes na cidade negam a guerra, mas afiam suas armas. Oliveira e Cakoff dizem que o Arteplex adotará um conceito "ousado" de programação: "filmes de qualidade sem fronteiras".
Traduzido, o conceito oferece ao espectador um leque de escolhas que vai da superprodução "Planeta dos Macacos", do selo Fox, ao independente iraniano "O Círculo"; do blockbuster "Jurassic Park 3" ao raro brasileiro "São Paulo SA", só para ficar em exemplos da semana de estréia.

Concorrência
Na estrutura física, o Arteplex faz outra mescla: adota em suas salas qualidade de som, projeção e conforto característicos dos Multiplex e, fora delas, desenha um ambiente elegante, compartimentado em café, fotogaleria e quiosque de venda de produtos culturais, um modelo característico do circuito "alternativo".
O objetivo por trás do conceito é "estratégico, não ideológico", diz Oliveira, fustigando a concorrência. "Queremos seduzir o público, sem doutriná-lo. Com isso, criamos a possibilidade da "pescaria". Um espectador que for ver uma grande produção pode ser atraído para um filme independente e, assim, ampliar seu repertório", diz.
Ao configurar-se nesse formato híbrido, o Arteplex roça a um só tempo em dois competidores no mercado: desafia o monocromatismo do império Multiplex e equipa-se com alguns diferenciais para a disputa pelo público dos "filmes de arte".
Por ora, é no domínio dos independentes que a batalha se avizinha. Literalmente: entre as dez salas agora controladas pelo grupo Estação, duas (Studio Alvorada) ficam no Conjunto Nacional, na avenida Paulista, mesmo endereço em que o Cinearte possui dois cinemas. As outras oito dividem-se entre o Top Cine, também na Paulista, e o quase lendário Belas Artes, para o qual está planejada reforma orçada em R$ 4 milhões.
A idéia dos sócios Adriana Rattes, Ilda Santiago, Marcelo Mendes e Nelson Krumholz é "sentir aos poucos a tendência do público paulista", mas a tendência inicial da programação aponta para "a exibição de clássicos e ciclos temáticos no Studio Alvorada" e a "formação de um circuitinho entre o Top Cine e o Belas Artes", que teria programação idêntica à da rede no Rio.
Para os ciclos, o acervo do Estação conta, entre outros, com 18 títulos de François Truffaut; 14 de Louis Malle; 19 de Eric Rohmer; e 23 de Godard. A programação do grupo no Rio é pautada sobretudo por filmes de distribuidoras independentes (Imovision, Pandora e a sua própria, Filmes da Estação) e também pelos títulos mais alternativos de "majors" como UIP e Columbia.
O Arteplex anuncia que trabalhará com todas as distribuidoras. "Não estamos nos desviando do nosso rumo. Há filmes de grife no mundo todo. Formar público é nosso trabalho, nosso começo, nosso presente", diz Cakoff, que há 25 anos organiza a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Patrocínio
"Não queremos trabalhar com um conceito "déjà-vu" de clássicos, coisa que, aliás, é muito fácil. É importante ter uma oferta capaz de atender públicos com níveis distintos de formação cinematográfica", afirma Oliveira.
Os sócios do Estação se definem como exibidores para um "nicho de mercado" e invocam as regras dele, o mercado, para pautar sua atuação. "O mercado regula, o público demanda, o patrocinador demanda", diz Ilda Santiago.
Patrocinador, sim, porque, para manter o seu perfil, tanto o circuito Estação quanto o Cinearte contam com verba de incentivo cultural, por meio das leis de renúncia fiscal. Ambos, aliás, têm o mesmo patrocinador -ponto comum que sobreviveu ao fim da sociedade que uniu Oliveira aos quatro sócios do Estação desde a sua fundação, em 1985, até 1998, quando se desentenderam.
"Começamos essa história há 15 anos, porque queríamos ter um lugar em que pudéssemos ver os filmes de que gostávamos. Que bom que isso cresceu e virou um negócio, porque há um público que também quer ver bons filmes em lugares charmosos. Hoje, se temos duas empresas disputando o mesmo mercado, é uma situação normal, como em qualquer outra concorrência", diz Adriana Rattes.
"Estamos investindo, porque sabemos que há um público para os filmes de arte e é o que gostamos de fazer. O dia em que precisarmos passar blockbusters, provavelmente iremos fazer outra coisa, mas isso é um negócio como qualquer outro", afirma Santiago.



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