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Artista Athos Bulcão morre aos 90
Ele estava internado no hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, e sofreu parada respiratória ontem pela manhã
"Ele fez uma relação da
arquitetura com as artes
plásticas, mostrando que
poderia acontecer de forma
inteligente", diz Niemeyer
JOHANNA NUBLAT
SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O artista plástico Athos Bulcão morreu ontem, menos de
um mês após completar 90
anos e a 20 dias de comemorar
50 anos de Brasília, cidade repleta de seus azulejos e painéis.
Bulcão estava internado havia quatro meses no hospital
Sarah Kubitschek para tratamento do mal de Parkinson.
Morreu em decorrência de
uma parada respiratória às
9h25. Nos últimos dois anos,
ele entrou e saiu do hospital várias vezes. Neste mês, passou
por duas cirurgias. Esteve lúcido durante todo esse período.
"Artista eu era. Pioneiro eu
fiz-me. Devo a Brasília esse sofrido privilégio. Realmente um
privilégio: ser um pioneiro. Dureza que gera espírito. Um prêmio moral", disse certa vez o artista, que vai ser enterrado no
cemitério Campo da Esperança
justamente na ala dos pioneiros da cidade.
Um de seus grandes amigos,
admiradores e colegas de trabalho, o arquiteto Oscar Niemeyer disse ontem estar "muito
triste" com a morte de Bulcão.
"É uma pena, era um amigo
muito bom e uma pessoa correta", afirmou Niemeyer à Folha.
Sobre a obra do artista, o arquiteto, que o convidou para
trabalhar em vários de seus
projetos em Brasília, disse que
ele conseguiu intervir na arquitetura de maneira inovadora
-aliás, a fusão de artes plásticas com arquitetura pautou
boa parte das construções modernistas no Brasil. "Ele fez
uma relação da arquitetura
com as artes plásticas, mostrando que poderia acontecer
de forma inteligente."
Bulcão e Brasília
Cláudia Pereira, amiga e integrante do conselho curador
da Fundação Athos Bulcão, disse que "Brasília e Athos são um
a cara do outro. Acima do concreto e das grandes formas de
Oscar [Niemeyer], ele trouxe,
cor, luz e movimento".
Painéis, mosaicos e azulejos
do artista podem ser vistos nos
principais prédios da capital federal, como Catedral, Congresso Nacional, Itamaraty, Centro
Cultural Banco do Brasil e também na Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima, situada na região das quadras tidas como
modelo de Brasília -308, 307,
108 e 107 sul.
Mas os trabalhos de Bulcão
não estão restritos a monumentos da cidade. Muitos prédios residenciais construídos
no início da cidade tinham os
famosos azulejos de Bulcão. As
figuras conhecidas desenhadas
por ele foram utilizadas até em
estampas de roupas de grifes
brasileiras e canecas.
Fora do Brasil, seus trabalhos
podem ser vistos pelo menos
em Cabo Verde, França, Argélia, Itália e Argentina.
Portinari e Da Vinci
Bulcão foi amigo de alguns
dos mais importantes artistas
modernos, como Burle Marx
-que projetou jardins de Brasília-, Jorge Amado, Vinícius de
Moraes, Ceschiatti e Manuel
Bandeira. Na década de 40, ele
trabalhou como assistente do
artista Cândido Portinari no
painel de São Francisco de Assis da igreja da Pampulha, em
Belo Horizonte.
Athos Bulcão falava de sua
obra como uma mistura de talento e muito trabalho. "Arte é
"cosa mentale'", dizia, citando
Leonardo Da Vinci.
O artista não era casado e não
teve filhos. Nasceu no Rio de
Janeiro em 2 de junho de 1918 e
chegou a Brasília em 18 de agosto de 1958, depois de uma temporada de nove anos em Paris.
O enterro está previsto para a
manhã de hoje. Antes, o corpo
do artista deve percorrer em
cortejo a W3, uma das principais avenidas de Brasília.
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