São Paulo, segunda, 1 de setembro de 1997.



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VÍDEO LANÇAMENTOS
'O Massacre de Rosewood' é bangue-bangue sobre racismo

JOSÉ GERALDO COUTO
especial para a Folha

"O Massacre de Rosewood", de John Singleton (diretor de "Os Donos da Rua"), é um melodrama inspirado numa tragédia real: a chacina da população negra da cidade de Rosewood, na Flórida, em 1923.
Rosewood, pelo menos na versão apresentada pelo filme, era uma cidadezinha próspera e pacata habitada quase que exclusivamente por negros.
Havia uma tensão latente entre os negros de Rosewood e os brancos racistas da cidade vizinha, Summer.
O filme mostra o momento em que a conjunção de dois fatos faz essa tensão explodir. O primeiro fato é a chegada à região de um negro misterioso e endinheirado, chamado Mann (Ving Rhames) -que depois saberemos ser um veterano da Primeira Guerra.
O segundo fato é a denúncia, por uma mulher branca, de que um negro a atacou e espancou.
Como se fosse necessário alardear o partido a ser tomado numa situação como essa, o filme mostra claramente que a mulher foi espancada por um branco. (A pergunta é: se fosse um negro, estaria desculpado o massacre?)
Daí para a frente, o filme se compraz em mostrar um crescendo de crueldade e loucura: os brancos racistas se organizam em bandos, enchem a cara de uísque e saem para caçar e linchar negros.
Com a ajuda do único branco solidário da região, o dono de armazém John Wright (Jon Voight), Mann -que no entretempo engatou um romance com uma garota local- tenta salvar as mulheres e crianças negras da sanha racista.
O ponto mais positivo do filme -além do resgate de um fato importante e pouco conhecido- é inverter um esquema usual do filme de ação. Não há um par de bandidos a perturbar a vida de uma comunidade harmônica. Ao contrário: é a comunidade inteira (dos brancos) que enlouqueceu e se animalizou. O mal é a multidão.
À parte isso, entretanto, "O Massacre de Rosewood" encampa todos os clichês imagináveis: da violência hiperbólica dos tiroteios e explosões ao sentimentalismo das histórias de amor, culminando com a tradicional apoteose da família e da propriedade.
O intuito militante do filme é evidente. Cabe, entretanto, perguntar se, ao lançar mão da mesma alternância de expectativa e catarse que caracteriza o cinema mais convencional, "O Massacre de Rosewood" contribui para algum tipo de reflexão sobre o racismo ou, ao contrário, soterra o tema sob um maniqueísmo vulgar.

Filme: O Massacre de Rosewood Produção: EUA, 1997, 142 min. Direção: John Singleton Elenco: Ving Rhames, John Voight Lançamento: Warner (tel. 011/820-6777)


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