São Paulo, sábado, 01 de setembro de 2001

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FOLCLORE

Pesquisador pernambucano Mário Souto Maior completa 3.500 palavras do maldizer do brasileiro e português

"Dicionário do Palavrão" ganha 500 verbetes

DA REPORTAGEM LOCAL

O pesquisador Mário Souto Maior é hoje o Aurélio ou o Houaiss, para evitar confusão na guerra dos lexicógrafos, da língua "errada" do povo, mania que também marcou a vida e obra do erudito Câmara Cascudo.
O cabra é doido por juntar vocábulos e sentidos. Engordou recentemente o seu "Dicionário do Palavrão e Termos Afins" (7ª edição pela Record), que já mantinha 3.000 verbetes, com mais 500 novos impropérios, do português do Brasil e do português de Portugal.
Aguarda, o sucessor de Cascudo, o despertar da editora para unir a nova pesquisa ao mundo dos palavrões e safadezas afins. "A cada dia, junto mais saudáveis safadezas", alerta Souto Maior. Tal ajuntamento de maldizeres nasceu de proposta de Gilberto Freyre nos anos 70: "Os alemães fizeram uma reunião de coisas mais ou menos imorais, por que não fazes a versão portuguesa?".
"Do palavrão, pode um pesquisador valer-se como um dos elementos que o auxiliem a concluir que, no comportamento sexual de uma sociedade, é ecológico e culturalmente condicionado", justificou o mesmo Freyre.
Surgia então, véspera dos 80, o "folclorerotismo", lição de safadezas populares, tema frequente nos livros de Souto Maior. "O velho Giba (Freyre) ficou entusiasmado, como sempre, e caí na vida para colher as palavras", relembra o autor. Freyre, que havia carregado o seu "Casa-Grande & Senzala" de expressões como "jurar pelos pentelhos da virgem", celebrou a chegada do "Dicionário do Palavrão" com fogos.
"Curioso encontrarem-se palavras de uso ou abuso obsceno no Brasil, como boceta, que em Portugal têm apenas o sentido de descrição de objeto nada ligado a sexo. O inverso acontece com a palavra tomates: em português de Portugal, na sua conotação sexual, é o mesmo que testículos", registrou o sociólogo.
O amontoado de safadezas levantou o moral de muita gente. "Posso publicar que o "Dicionário do Palavrão" está retido na censura desde 1974", indagava, em telegrama de 3 de abril de 1976 -enviado para o amigo Souto Maior-, o poeta Carlos Drummond de Andrade, dando conta da proibição, imposta pelo regime militar à obra. (XICO SÁ)


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