|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FOLCLORE
Pesquisador pernambucano Mário Souto Maior completa 3.500 palavras do maldizer do brasileiro e português
"Dicionário do Palavrão" ganha 500 verbetes
DA REPORTAGEM LOCAL
O pesquisador Mário Souto
Maior é hoje o Aurélio ou o
Houaiss, para evitar confusão na
guerra dos lexicógrafos, da língua
"errada" do povo, mania que
também marcou a vida e obra do
erudito Câmara Cascudo.
O cabra é doido por juntar vocábulos e sentidos. Engordou recentemente o seu "Dicionário do Palavrão e Termos Afins" (7ª edição
pela Record), que já mantinha
3.000 verbetes, com mais 500 novos impropérios, do português do
Brasil e do português de Portugal.
Aguarda, o sucessor de Cascudo, o despertar da editora para
unir a nova pesquisa ao mundo
dos palavrões e safadezas afins.
"A cada dia, junto mais saudáveis
safadezas", alerta Souto Maior.
Tal ajuntamento de maldizeres
nasceu de proposta de Gilberto
Freyre nos anos 70: "Os alemães
fizeram uma reunião de coisas
mais ou menos imorais, por que
não fazes a versão portuguesa?".
"Do palavrão, pode um pesquisador valer-se como um dos elementos que o auxiliem a concluir
que, no comportamento sexual
de uma sociedade, é ecológico e
culturalmente condicionado",
justificou o mesmo Freyre.
Surgia então, véspera dos 80, o
"folclorerotismo", lição de safadezas populares, tema frequente
nos livros de Souto Maior. "O velho Giba (Freyre) ficou entusiasmado, como sempre, e caí na vida
para colher as palavras", relembra
o autor. Freyre, que havia carregado o seu "Casa-Grande & Senzala" de expressões como "jurar pelos pentelhos da virgem", celebrou a chegada do "Dicionário do
Palavrão" com fogos.
"Curioso encontrarem-se palavras de uso ou abuso obsceno no
Brasil, como boceta, que em Portugal têm apenas o sentido de descrição de objeto nada ligado a sexo. O inverso acontece com a palavra tomates: em português de
Portugal, na sua conotação sexual, é o mesmo que testículos",
registrou o sociólogo.
O amontoado de safadezas levantou o moral de muita gente.
"Posso publicar que o "Dicionário
do Palavrão" está retido na censura desde 1974", indagava, em telegrama de 3 de abril de 1976 -enviado para o amigo Souto
Maior-, o poeta Carlos Drummond de Andrade, dando conta
da proibição, imposta pelo regime militar à obra.
(XICO SÁ)
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Editora lança obra rara de Cascudo Índice
|