DA REPORTAGEM LOCAL

"No meio dos anos 90, morando em Nova York, eu fiquei muito entediado com o que estava rolando. Achava os Young Lions [expoentes do jazz mainstream dos anos 80 e 90] muito chatos. Eram só uns caras reciclando velhas formas. Percebi que teria de buscar o meu som em vez de ficar tocando standards ou canções de John Coltrane [1926-1967] ou de Wayne Shorter."
É assim que o saxofonista Ilhan Ersahin, 37, explica, por telefone de Istambul, na Turquia, como partiu para a música eletrônica.
"Em 96, resolvi voltar às minhas raízes, que eram o punk e o dub. Do dub, parti para o drum'n'bass, o trip hop e daí para a house", diz.
Para dar vazão às suas idéias, ele abriu em Nova York, onde mora há 13 anos, um clube e um selo, ambos batizados de Nublu. "A idéia é que o clube forme um estilo de som bem nova-iorquino. Uma música mais poética, como a minha, que não se baseie em criar hits, mas em contar uma história com poesia."
O primeiro lançamento do selo, em 2000, foi um disco do coletivo Wax Poetic, liderado por Ersahin.
No Wax Poetic, ele põe em marcha um trip hop tardio, que tem como principal virtude promover um encontro fértil entre a música ocidental e a oriental. Essa mescla é justificada pela própria ascendência do saxofonista, que é filho de mãe sueca e pai turco.
Pitadas de soul e de hip hop de diferentes cantores, entre eles a neodiva Norah Jones, encontram ecos nos samples de música árabe do DJ egípcio Mutamassik e nos improvisos de Ersahin.
Contudo, três anos depois, o disco soa um tanto datado. "Ainda gosto do som do álbum, mas o próximo, que está em produção, será mais nervoso, mais próximo do rock psicodélico e sem tantos solos e partes instrumentais", diz.
Usando a cozinha do Wax Poetic -formada pelo baixista Jesse Murphy e pelo baterista Kenny Wollensen-, Ersahin lançou no ano passado o álbum "Love Trio".
O som do trio é bem mais sedutor e diferenciado. Partindo do idioma do jazz, os músicos improvisam de forma orgânica sobre bases de house e deep house, sem cair no artificialismo que esse tipo de mistura pode propiciar.
As participações especiais do veterano trompetista Eddie Henderson -que tocava no sexteto do Herbie Hancock no começo dos anos 70-, do DJ Logic nos pick-ups e da cantora Marla Turner deixam o som do trio ainda mais rico em texturas e tons.
Os dois álbuns saem no Brasil pela Trama, mas quem cavou esses lançamentos foi o próprio Ersahin. "Tenho uma namorada brasileira e nos últimos sete anos tenho visitado o país. Em janeiro, botamos todo o equipamento no avião e fomos para Florianópolis de férias. Tocamos em cafés, em clubes e em luais na praia. No fim das férias, mandamos os discos para a Trama, que resolveu lançá-los", diz. "Espero tocar por aí de novo, mas depende de como os discos irão vender."
(GUILHERME WERNECK)

Wax Poetic  
Artista: Wax Poetic
Love Trio   
Artista: Love Trio
Lançamento: Trama Quanto: R$ 25 cada um, em média