|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LITERATURA
Escritor cria universidade imaginária e faz mural da vida nos EUA
Tom Wolfe retoma velhos fantasmas
DIEGO A. MANRIQUE
DO "EL PAÍS"
Com a habitual falsa modéstia,
Tom Wolfe garante que está melhorando seu estilo como romancista. Depois do impacto de "A
Fogueira das Vaidades", ele demorou 11 anos para completar
"Um Homem por Inteiro"; "I Am
Charlotte Simmons" [Sou Charlotte Simmons] lhe custou seis
anos de trabalho.
Boa parte do período foi dedicada a uma imersão na vida estudantil, para elaborar a consciência
da fictícia Universidade Dupont,
o cenário de seu novo livro. Wolfe
conta que conseguiu se fazer invisível, depois de algumas semanas.
"Para mim, passar incógnito queria dizer não usar um terno branco. Chegou um momento em que
os universitários aceitaram que
era bastante improvável que, com
as minhas roupas amarfanhadas,
eu fosse um policial a paisana."
Como já se tornou tradição, a
revista "Rolling Stone" publicou o
primeiro fragmento de "I Am
Charlotte Simmons" em seu número de agosto. A revista de Jann
Wenner está associada a Wolfe
desde o início de sua carreira. Foi
lá que saíram, em 1973, as primeiras reportagens sobre as vidas de
pilotos e astronautas que ele converteria no livro "Os Eleitos".
"I Am Charlotte Simmons" oferece um grande mural da vida
norte-americana, do confronto
entre as pessoas honestas e os poderosos. A protagonista é uma estudante disposta a aproveitar ao
máximo as suas oportunidades: à
primeira vista, a Universidade
Dupont é um paraíso se comparada a Sparta, a cidadezinha da Carolina do Norte onde ela vivia.
Mas Dupont não é a Atenas de
seus sonhos: a maioria de seus colegas, acostumados aos privilégios e protegidos por escudos invisíveis, não têm outro objetivo
que não desfrutar dos anos de faculdade com muito sexo e bebedeiras épicas.
O segundo personagem central
é Hoyt Thorpe, um mau caráter,
filho de um tubarão das finanças
que fugiu dos Estados Unidos depois do colapso de sua pirâmide
de investimento. A reputação de
Thorpe entre os alunos cresce
quando ele descobre um político
em momento comprometedor e
deixa seu guarda-costas fora de
combate.
Como era de esperar em um romance de Wolfe, seus velhos fantasmas são alvo de muitas estocadas. A universidade tem um círculos de jovens intelectuais, imbuídos de uma suposta superioridade moral. Os estudantes negros
não se beneficiam da experiência
educativa: estão lá para manter o
prestígio da equipe de basquete.
Wolfe manteve sua capacidade de
observar o detalhe crucial: a biblioteca vitoriana da fraternidade
estudantil não abriga livro algum.
No lugar deles há latas de cerveja,
caixas de pizza e um televisor perpetuamente conectado a um canal de esportes.
De acordo com o pioneiro do
"new journalism" nos frenéticos
anos 60, as experiências com
substâncias psicodélicas abriram
caminho ao império dos jogos
eletrônicos e da internet.
Para surpresa de Wolfe, as primeiras críticas a "I Am Charlotte
Simmons" não vieram do mundo
acadêmico, embora seja muito fácil identificar a Universidade Dupont como a Universidade Duke,
onde Alexandra, filha do escritor,
estudou. Pelo contrário: a tormenta que se vem formando está
relacionada à linguagem chula e a
certos episódios sexuais: uma importante publicação está negociando publicar alguns capítulos
do romance caso Wolfe aceite a
censura de determinados termos.
O livro sai nos Estados Unidos
no final do ano e na Europa no começo de 2005.
Tradução de Paulo Migliacci
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Artes: Galeria Olido pretende abrigar "cultura urbana" Índice
|