São Paulo, terça, 1 de setembro de 1998

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DISCO LANÇAMENTOS

Japoneses desorientam o Ocidente

MARCELO NEGROMONTE
da Redação

Quando houve um dos maiores terremotos na Cidade do México, em 85, equipes de todo o mundo foram chamadas para ajudar na remoção dos escombros que se espalharam pela cidade. Os americanos levaram a força bruta dos tratores e escavadeiras; os japoneses, pequenos equipamentos sofisticados que permitiam detectar qualquer tipo de som ou movimento que das ruínas viessem. O paralelo vale também para a música japonesa, em especial a eletrônica: sem brutalidade, mas com uma originalidade ímpar. Deixem os ingleses inventarem o drum'n'bass e os americanos, o rock, que os japoneses reciclam e reinventam isso, transformando numa outra coisa. A criação nipônica reside na transformação, não na invenção.
Num mercado auto-suficiente (no primeiro semestre deste ano, os discos japoneses venderam mais do que o dobro dos estrangeiros no Japão -99,3 milhões de discos contra 43,7 milhões, segundo a "Billboard"), o carro-chefe é o J-Pop, a música pop local, com megabandas, como Glay e Luna Sea, que fazem um tipo de música bem descartável, uma mistura de Aerosmith e "Japan Pop Show", sucessos absolutos entre os adolescentes. Fechado, por motivos óbvios, esse mercado começa a se expandir nas duas mãos: a música japonesa (seja pop ou eletrônica) começa a ser ouvida pelo Ocidente, que por sua vez devolve ao Japão todo o tipo de música às quais estamos acostumados, como no Fuji Rock Festival, maior festival de música pop do Japão até hoje, ocorrido há exatamente um mês em Tóquio, com atrações como Prodigy, Beck, Garbage, Sonic Youth e Primal Scream. Tudo isso deve ter o mesmo sentido para eles que a música oriental tem para os ocidentais: exotismo.



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