São Paulo, Sexta-feira, 01 de Outubro de 1999
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POLÊMICA

Cachê individual de músico e de Caetano no show de anteontem foi entre US$ 60 mil e US$ 70 mil

Contrato impede João Gilberto de desistir

SÉRGIO DÁVILA
Editor da Ilustrada

Mesmo debaixo de vaias, João Gilberto não abandonou o palco no show da estréia do Credicard Hall anteontem em São Paulo porque, se o fizesse, não receberia o cachê do espetáculo. A Folha apurou que o músico desrespeitou uma cláusula padrão em contratos de shows que diz respeito ao "sound check" (a passagem de som, o ensaio oficial).
Segundo esta cláusula, o músico é obrigado a fazer uma passagem no palco antes do show. Caetano Veloso fez isto na terça-feira. Quando percebeu que havia eco, optou por dispensar João Gilberto da tarefa. Veloso temia que João não aparecesse no show se visse as condições da casa.
Por não ter respeitado esta cláusula, se desistisse de ficar no palco, como ameaçou algumas vezes, João Gilberto não receberia nada. Desde o começo do show de anteontem -só para convidados, que serviu de abertura para a maior casa de espetáculos de São Paulo, com mais de 8.000 lugares-, João Gilberto vinha reclamando de eco no som.
Em um momento, chegou mesmo a dizer: "Tô doidinho para ir embora". Caetano Veloso, a seu lado, contemporizava.

Cachê
A Folha apurou que o cachê de cada um dos dois músicos ficou entre US$ 60 mil e US$ 70 mil (entre R$ 115 mil e R$ 135 mil).
Durante a apresentação, Caetano chegou a se referir à reportagem publicada pela Folha em 2 de setembro deste ano, que informava que o show dos dois foi realizado apenas para convidados por não se ter chegado a um cachê que viabilizasse o show aberto ao público. À época, Fernando Altério, um dos sócios da casa, declarou: "O ingresso sairia muito caro". Segundo disse anteontem Caetano, ele quase não fez o show por causa da "mentira" publicada.

O som
O projeto acústico do Credicard Hall foi feito pelo engenheiro francês Daniel E. Cummins, responsável também pela casa Cité de La Musique, em Paris, e pela reforma sonora do Scala de Milão.
Cummins afirmou, de seu escritório em Paris, que até pode ter havido um erro dele, mas quis deixar claro que "a acústica de uma casa de shows é tão subjetiva quanto sua arquitetura".
"Prédios de espetáculo precisam de algum tempo para ser avaliados. A casa pode ter uma amplificação específica para um tipo de show ou outro. Da mesma forma, o sistema de som instalado pode ser melhor para um show e pior para outro."
Cummins chegou a se espantar quando soube que o Credicard Hall havia sido inaugurado. "Estive no Brasil apenas uma vez, há cerca de dois anos, para montar o projeto acústico da casa. Depois me reuni algumas vezes com alguns dos sócios na Europa. Não sabia que tinha sido construído. Pensei que a crise do dólar o havia adiado."

A construção
O responsável pelo projeto geral é o arquiteto Gian Carlo Gasperini, 72. Segundo Gasperini, "o trabalho de Cummins foi excelente. E acredito que todas as suas recomendações tenham sido rigorosamente respeitadas".
"O teto tem chapa dupla e foi importado da França, as paredes têm revestimento duplo com chapas de gesso e lã de vidro, o palco tem alvenaria com areia dentro para dar maior massa", afirmou Gasperini.
"Tudo foi minuciosamente estudado para não haver reverberações e coisas assim, mas não sou técnico de som. Houve uma pequena distorção. É uma coisa que acontece no mundo todo. São necessários apenas pequenos ajustes no equipamento."
O custo total do Credicard Hall é de R$ 34 milhões, mas Gasperini não soube especificar quanto desse valor foi usado para a construção da parte acústica.
"Antes da construção, visitamos mais de 20 casas de shows nos Estados Unidos, Europa e México. Conversamos com engenheiros de som em todos esses lugares, e Cummins foi o escolhido por apresentar mais versatilidade. Ele é um dos consultores sonoros mais renomados do mundo."
O arquiteto já projetou outras casas de shows no país. Sua empresa, Aflalo & Gasperini, assina, por exemplo, o auditório onde acontece anualmente o Festival de Inverno de Campos do Jordão.
Até a conclusão desta edição, nenhum dos sócios, engenheiros ou técnicos de som do Credicard Hall estava disponível para dar entrevistas.


Colaboraram Fátima Gigliotti, de Paris, e Ivan Finotti, da Reportagem Local




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