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POLÊMICA
Cachê individual de músico e de Caetano no show de anteontem foi entre US$ 60 mil e US$ 70 mil
Contrato impede João Gilberto de desistir
SÉRGIO DÁVILA
Editor da Ilustrada
Mesmo debaixo de vaias, João
Gilberto não abandonou o palco
no show da estréia do Credicard
Hall anteontem em São Paulo
porque, se o fizesse, não receberia
o cachê do espetáculo. A Folha
apurou que o músico desrespeitou uma cláusula padrão em contratos de shows que diz respeito
ao "sound check" (a passagem de
som, o ensaio oficial).
Segundo esta cláusula, o músico
é obrigado a fazer uma passagem
no palco antes do show. Caetano
Veloso fez isto na terça-feira.
Quando percebeu que havia eco,
optou por dispensar João Gilberto da tarefa. Veloso temia que
João não aparecesse no show se
visse as condições da casa.
Por não ter respeitado esta cláusula, se desistisse de ficar no palco, como ameaçou algumas vezes,
João Gilberto não receberia nada.
Desde o começo do show de anteontem -só para convidados,
que serviu de abertura para a
maior casa de espetáculos de São
Paulo, com mais de 8.000 lugares-, João Gilberto vinha reclamando de eco no som.
Em um momento, chegou mesmo a dizer: "Tô doidinho para ir
embora". Caetano Veloso, a seu
lado, contemporizava.
Cachê
A Folha apurou que o cachê de
cada um dos dois músicos ficou
entre US$ 60 mil e US$ 70 mil (entre R$ 115 mil e R$ 135 mil).
Durante a apresentação, Caetano chegou a se referir à reportagem publicada pela Folha em 2 de
setembro deste ano, que informava que o show dos dois foi realizado apenas para convidados por
não se ter chegado a um cachê que
viabilizasse o show aberto ao público. À época, Fernando Altério,
um dos sócios da casa, declarou:
"O ingresso sairia muito caro".
Segundo disse anteontem Caetano, ele quase não fez o show por
causa da "mentira" publicada.
O som
O projeto acústico do Credicard
Hall foi feito pelo engenheiro
francês Daniel E. Cummins, responsável também pela casa Cité
de La Musique, em Paris, e pela
reforma sonora do Scala de Milão.
Cummins afirmou, de seu escritório em Paris, que até pode ter
havido um erro dele, mas quis
deixar claro que "a acústica de
uma casa de shows é tão subjetiva
quanto sua arquitetura".
"Prédios de espetáculo precisam de algum tempo para ser
avaliados. A casa pode ter uma
amplificação específica para um
tipo de show ou outro. Da mesma forma, o sistema de som instalado pode ser melhor para um
show e pior para outro."
Cummins chegou a se espantar quando soube que o Credicard Hall havia sido inaugurado.
"Estive no Brasil apenas uma
vez, há cerca de dois anos, para
montar o projeto acústico da casa. Depois me reuni algumas vezes com alguns dos sócios na Europa. Não sabia que tinha sido
construído. Pensei que a crise do
dólar o havia adiado."
A construção
O responsável pelo projeto geral é o arquiteto Gian Carlo Gasperini, 72. Segundo Gasperini,
"o trabalho de Cummins foi excelente. E acredito que todas as
suas recomendações tenham sido rigorosamente respeitadas".
"O teto tem chapa dupla e foi
importado da França, as paredes
têm revestimento duplo com
chapas de gesso e lã de vidro, o
palco tem alvenaria com areia
dentro para dar maior massa",
afirmou Gasperini.
"Tudo foi minuciosamente estudado para não haver reverberações e coisas assim, mas não
sou técnico de som. Houve uma
pequena distorção. É uma coisa
que acontece no mundo todo. São
necessários apenas pequenos
ajustes no equipamento."
O custo total do Credicard Hall
é de R$ 34 milhões, mas Gasperini
não soube especificar quanto desse valor foi usado para a construção da parte acústica.
"Antes da construção, visitamos mais de 20 casas de shows
nos Estados Unidos, Europa e
México. Conversamos com engenheiros de som em todos esses lugares, e Cummins foi o escolhido
por apresentar mais versatilidade.
Ele é um dos consultores sonoros
mais renomados do mundo."
O arquiteto já projetou outras
casas de shows no país. Sua empresa, Aflalo & Gasperini, assina,
por exemplo, o auditório onde
acontece anualmente o Festival de
Inverno de Campos do Jordão.
Até a conclusão desta edição,
nenhum dos sócios, engenheiros
ou técnicos de som do Credicard
Hall estava disponível para dar
entrevistas.
Colaboraram Fátima Gigliotti, de Paris, e
Ivan Finotti, da Reportagem Local
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