São Paulo, Sexta-feira, 01 de Outubro de 1999
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"A BRUXA DE BLAIR" CRÍTICA

Cotação: zero abaixo de zero


ROGÉRIO SGANZERLA
especial para a Folha

Estupenda peripécia de distribuidor espertalhão e prova da ingenuidade do publico americano com idade mental de 12 anos, não deixa de ser um tremendo "fake" e uma gozação sem graça, verdadeiro idiotismo sem pé, cabeça ou qualquer membro interessante. E não apresenta mistério algum. O que poderia sair desse fútil bombardeamento? Ignora-se.
Com um falso-ego tão inchado que fecha a alma, alguns adolescentes rechonchudos chegam e pisam na remota floresta que não leva a lugar nenhum, a não ser à exaustão de qualquer espectador que não seja obrigatoriamente um débil mental.
Como hoje em dia não há certeza absoluta, confirma-se a "tese" da fita, exposta num diálogo curto e grosso: "Jovens idiotas nunca aprendem". Será? Afinal, a burrice não é privilégio de ninguém, muito menos de brasileiros.
Godard já observou que o atual cinema americano não passa de um fake, um fenômeno falso que nada tem a ver com o verdadeiro cinema americano, hoje um mito do passado.
A bruxa (completamente presa em cenas capengas) só serve como reflexão sobre a idiotice reinante. Mercado não é, nunca foi, cultura. Os picaretas que me desculpem. Alguém deve ter faturado em cima disso e não só no mercado americano. Enfim, a corrupção burocrática deslanchou o cretinismo em todo o mundo.
"A Bruxa de Blair", essa fitinha chinfrim (impossível assistir até o final), merece o grande prêmio chamado "Haja Saco" do Rio Cine. O resto é conversa de bar novo-rico num momento pobre da sétima arte, para não dizer abominável como esse filme.
Embora (infelizmente) o evento tenha custado caro à Petrobras e à Telemar, o filme foi vaiado em todas as sessões. Faltou somente um asnocrata, qualquer pateta alvar, para receber a merecida ovação. Cotação: zero abaixo de zero (e da crítica).
Só o tema é válido -a bruxaria americana- desse subproduto pasteurizado, isto é, televisivo, no que a TV tem de pior: a masturbação transmental onde, a cada instante, sobrevêm novos anti-sustos.
Tudo é previsível e nada envolto em circunstâncias com hálito de irrealidade na rota de alguns adolescentes em busca de Coffin Rock, onde se perde tempo, mas os dólares sempre retornam aos bolsos dos vivaldinos.
"Jovens idiotas nunca aprendem", diz algum entrevistado pela câmera capenga, que oscila até a exasperação.
Todos os maus filmes já foram feitos, faltam os inacabados.


Rogério Sganzerla é cineasta, diretor de "O Bandido da Luz Vermelha" (68) e "Nem Tudo É Verdade" (86), entre outros filmes

Avaliação:  



Filme: A Bruxa de Blair
Produção: EUA, 1999, 81 min
Diretor: Daniel Myrick e Eduardo Sanchez
Com: Heather Donahue, Joshua Leonard e Michael Williams
Quando: estréia hoje nos cines SP Market 9, Lumière 1, Eldorado 2 e circuito



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