São Paulo, segunda-feira, 01 de outubro de 2001

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Aos dez anos, TV paga não atinge nem 10% das casas com televisão no país; congresso debate a partir de hoje previsões de queda na qualidade e até fechamento de canais

Festa fechada

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de atravessar o mês de setembro comemorando seu aniversário de dez anos no Brasil, a TV paga se reúne de hoje a quarta num congresso que deve passar bem longe do clima de festa.
A ABTA 2001 -Feira e Congresso Internacionais de Telecomunicações por Assinatura- que acontece em São Paulo trará à tona as atuais preocupações do mercado. E não são poucas.
Entre elas, são mencionadas a queda na qualidade da programação, com aumento de reprises de filmes e seriados, e até o fechamento de canais. Os mais alarmistas chegam a apontar uma total inviabilização do setor no país.
O que é fato, o que é exagero, todas as questões estão sendo exaustivamente discutidas entre produtores e governo e devem permear os debates do encontro.
Além dos efeitos da alta do dólar no setor, uma das principais discussões será sobre a medida provisória, assinada no início de setembro, que taxa a programação estrangeira da TV para incentivar o cinema nacional. No congresso, deve ser redigido um documento contrário à MP, a ser encaminhado ao governo ainda esta semana.
"Essa taxação pode inviabilizar a presença de programadores internacionais no mercado brasileiro. A situação é muito grave", afirma Abel Puig, presidente da TAP Brasil, associação que reúne canais e programadoras de TV paga internacionais no Brasil.

Baixa penetração
Antes de mais nada, buscam-se respostas convincentes para uma pergunta básica: por que o Brasil, depois de uma década da implantação do serviço de TV paga, tem pouco mais de 3,5 milhões de assinantes? É metade do que previam os pessimistas em 1991, quando a TV por assinatura iniciou suas atividades, e um quinto do que imaginavam os otimistas.
"Hoje, o que era esperado é que tivéssemos pelo menos 7 milhões de assinantes. Há alguns anos, chegou-se a pensar que poderíamos atingir 15 milhões em 2001", afirma Roberto Rio Branco, diretor de operações da TVA.
Menos de 10% dos brasileiros com aparelhos de televisão têm TV paga. Nos EUA e no Canadá, a penetração gira em torno de 80%. E o Brasil não perde só do Primeiro Mundo. Na Argentina, ultrapassa os 60% e na Colômbia chega a 47% (veja quadro abaixo).
É claro que há aspectos culturais, econômicos, legais, entre outros, que interferem nas diferenças. É claro também que o mercado nacional é um dos maiores do mundo e que 10% no Brasil, em números absolutos, é quase o mesmo que 50% na Colômbia.
As ponderações não param por aí: a TV paga brasileira é uma das mais "jovens" das Américas e a TV aberta nacional tem qualidade de imagem e programação superior à de muitos países, o que pode diminuir o interesse pelo conteúdo por assinatura.
Mas a penetração no Brasil é uma das piores da América Latina. Um dos fatores seria a lentidão e a polêmica na definição de normas pelo governo. Houve atraso na abertura do processo de concessão, o que só começou efetivamente em 98 -época em que se iniciaram grandes crises internacionais, como a asiática e a da Rússia. Ou seja, no momento em que as empresas poderiam investir mais, havia dificuldades em adquirir capital estrangeiro.

Novo modelo
A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações, ligada ao Ministério das Comunicações) avalia, segundo a Folha apurou, que uma das falhas das empresas de TV paga foi ter ampliado pouco as possibilidades de serviço, como a convergência com internet.
Seja qual for a versão para a origem da crise, o fato é que operadoras acumulam dívidas em dólar, a base de assinantes não cresce e as perspectivas não são boas.
A Globo Cabo, maior empresa de TV paga do Brasil, anunciou um endividamento de cerca de R$ 1,4 bilhão, no final do primeiro semestre. Tirando um ou outro caso isolado, a maioria das empresas registrou no primeiro semestre crescimento abaixo do esperado.
Há quem diga que o problema foi querer fazer muito em pouco tempo. De todo modo, para virar o jogo, o próprio mercado parece unânime: ainda que o cenário econômico venha a ser mais favorável, será preciso uma transformação no modelo do negócio.


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