|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Aos dez anos, TV paga não atinge nem 10% das casas com televisão no país; congresso debate a partir de hoje previsões de queda na qualidade e até fechamento de canais
Festa fechada
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de atravessar o mês de
setembro comemorando seu aniversário de dez anos no Brasil, a
TV paga se reúne de hoje a quarta
num congresso que deve passar
bem longe do clima de festa.
A ABTA 2001 -Feira e Congresso Internacionais de Telecomunicações por Assinatura-
que acontece em São Paulo trará à
tona as atuais preocupações do
mercado. E não são poucas.
Entre elas, são mencionadas a
queda na qualidade da programação, com aumento de reprises de
filmes e seriados, e até o fechamento de canais. Os mais alarmistas chegam a apontar uma total
inviabilização do setor no país.
O que é fato, o que é exagero, todas as questões estão sendo
exaustivamente discutidas entre
produtores e governo e devem
permear os debates do encontro.
Além dos efeitos da alta do dólar
no setor, uma das principais discussões será sobre a medida provisória, assinada no início de setembro, que taxa a programação
estrangeira da TV para incentivar
o cinema nacional. No congresso,
deve ser redigido um documento
contrário à MP, a ser encaminhado ao governo ainda esta semana.
"Essa taxação pode inviabilizar
a presença de programadores internacionais no mercado brasileiro. A situação é muito grave", afirma Abel Puig, presidente da TAP
Brasil, associação que reúne canais e programadoras de TV paga
internacionais no Brasil.
Baixa penetração
Antes de mais nada, buscam-se
respostas convincentes para uma
pergunta básica: por que o Brasil,
depois de uma década da implantação do serviço de TV paga, tem
pouco mais de 3,5 milhões de assinantes? É metade do que previam os pessimistas em 1991,
quando a TV por assinatura iniciou suas atividades, e um quinto
do que imaginavam os otimistas.
"Hoje, o que era esperado é que
tivéssemos pelo menos 7 milhões
de assinantes. Há alguns anos,
chegou-se a pensar que poderíamos atingir 15 milhões em 2001",
afirma Roberto Rio Branco, diretor de operações da TVA.
Menos de 10% dos brasileiros
com aparelhos de televisão têm
TV paga. Nos EUA e no Canadá, a
penetração gira em torno de 80%.
E o Brasil não perde só do Primeiro Mundo. Na Argentina, ultrapassa os 60% e na Colômbia chega a 47% (veja quadro abaixo).
É claro que há aspectos culturais, econômicos, legais, entre outros, que interferem nas diferenças. É claro também que o mercado nacional é um dos maiores do
mundo e que 10% no Brasil, em
números absolutos, é quase o
mesmo que 50% na Colômbia.
As ponderações não param por
aí: a TV paga brasileira é uma das
mais "jovens" das Américas e a
TV aberta nacional tem qualidade
de imagem e programação superior à de muitos países, o que pode diminuir o interesse pelo conteúdo por assinatura.
Mas a penetração no Brasil é
uma das piores da América Latina. Um dos fatores seria a lentidão e a polêmica na definição de
normas pelo governo. Houve
atraso na abertura do processo de
concessão, o que só começou efetivamente em 98 -época em que
se iniciaram grandes crises internacionais, como a asiática e a da
Rússia. Ou seja, no momento em
que as empresas poderiam investir mais, havia dificuldades em
adquirir capital estrangeiro.
Novo modelo
A Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações, ligada ao Ministério das Comunicações) avalia, segundo a Folha apurou, que
uma das falhas das empresas de
TV paga foi ter ampliado pouco
as possibilidades de serviço, como
a convergência com internet.
Seja qual for a versão para a origem da crise, o fato é que operadoras acumulam dívidas em dólar, a base de assinantes não cresce e as perspectivas não são boas.
A Globo Cabo, maior empresa
de TV paga do Brasil, anunciou
um endividamento de cerca de R$
1,4 bilhão, no final do primeiro semestre. Tirando um ou outro caso
isolado, a maioria das empresas
registrou no primeiro semestre
crescimento abaixo do esperado.
Há quem diga que o problema
foi querer fazer muito em pouco
tempo. De todo modo, para virar
o jogo, o próprio mercado parece
unânime: ainda que o cenário
econômico venha a ser mais favorável, será preciso uma transformação no modelo do negócio.
Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Empresas desistem de classes C e D Índice
|