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"O PEQUENO MUNDO"/"A LINHA DO TEMPO"
Jorge Molder abre portas para o vazio
EDER CHIODETTO
EDITOR-ADJUNTO DE FOTOGRAFIA
O corpo como espaço de reclusão e supressão dos arroubos da alma. É esse estado de
agonia terminal que o artista português Jorge Molder exibe em
duas mostras em cartaz na cidade.
Em "O Pequeno Mundo", 20 fotos em preto-e-branco relatam a
aflição emudecida de um homem,
representado pelo próprio Molder, que circula no espaço de um
velho escritório. Esquadrias, portas e paredes parecem oprimir o
ser desorientado que tenta esboçar algo com lápis e papel.
Mas o quê? Talvez uma saída.
Algo que o projete para fora daquela prisão. Mas tudo que o homem consegue desenhar é mais
uma porta, tal qual as que o circundam. Mais uma porta que se
abre para dentro. Corredores e
portas, no caso de Molder, não
significam entrada e saída, mas a
manutenção do labirinto.
É de forma mordaz que Molder
tece a metáfora do dilema do homem moderno. O velho escritório, o "Pequeno Mundo", não é,
senão, a reverberação do homem
que se bate dentro do próprio corpo, tentando encontrar caminhos
que o conduzam à razão perdida.
Se romper estados de ânimo
que nos aprisionam é condição
básica para o bom viver, Molder
aponta, cruelmente, para a falência dessa possibilidade. Embora o
homem procure saídas, é notória
sua apatia, sua falta de impulsividade em romper com as amarras
que ele próprio se coloca.
Não se trata mais do dilema de
Kafka diante da porta do castelo.
Molder avança pela porta. Estão
todas escancaradas diante dele e,
no entanto, tudo que ele encontra
é o espaço vazio e bloqueado. Há
muitas saídas e nenhuma entrada.
O personagem Molder vaga em
busca de algo que se quebrou, de
um fio narrativo perdido na "Linha do Tempo". Não há marcas
de histórias vividas nem a possibilidade de projetar história futura.
Essa desesperança exacerbada
finda por deixar o trabalho um
tanto incômodo e antipático aos
olhos do observador. Não é um
trabalho feito para o deleite. É
quase feio. Mas muito bom.
O Pequeno Mundo
Onde: Marília Razuk Galeria de Arte (av.
9 de Julho, 5.719, São Paulo, tel. 0/xx/
11/3079-0853)
Quando: de seg. a sex., das 10h30 às
19h, sáb., das 11h às 14h; até 27/10
Quanto: entrada franca; obras de US$
3.000 a US$ 6.000
A Linha do Tempo
Onde: Gabinete de Arte Raquel Arnaud
(r. Arthur de Azevedo, 401, São Paulo, tel.
0/xx/11/3083-6322)
Quando: de seg. à sex., das 10h às 19h,
sáb., das 11h às 14h; até 27/10
Quanto: entrada franca; obras de US$
3.000 a US$ 6.000
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