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OUTROS LANÇAMENTOS
Retrato da vida sem limites
Libertines
Maturidade nem sempre é indispensável
ao rock. Basta lembrar que bandas como
Rolling Stones ou Sex Pistols tiraram sua
força inicial dos hormônios imberbes de
seus integrantes. Por isso, chamar uma
banda de imatura pode ser um dos
maiores elogios possíveis. Nessa escala
de valores, não há grupo em evidência
mais longe da plenitude que o inglês
Libertines -que toca no Brasil em
novembro. Eles lançam seu segundo
disco cercados por uma sensação bem
conhecida dos jovens de espírito -a
ansiedade. "Libertines", o disco, versa
basicamente sobre a relação entre os
guitarristas/vocalistas Pete Doherty e
Carl Barat. Sim, é sobre uma história de
amor -não necessariamente gay. Tem
mais a ver com o sentimento que faz
homens heterossexuais se abraçarem
durante um jogo de futebol. Faixas como
"Can't Stand me Now" ou "Road to Ruin"
falam sobre uma relação incerta e
prestes a falir (Doherty segue a tradição
roqueira de excessos de drogas, prisões,
arruaças etc.). É como se a amizade, a
banda e o disco fossem se extinguir a
qualquer momento. A vida, enfim, tem
que ser celebrada: "Vivi meu sonho hoje/
vivi meu sonho ontem/ E viverei o seu
amanhã" (em "The Man who Would Be
King"). Há um clima de urgência
permeando o álbum; letras e músicas
celebram pequenos prazeres do
cotidiano -idas a pubs, festas e
andanças sem rumo pelas ruas. Para isso,
a produção aparentemente desleixada
de Mick Jones cria camadas que, em
certos momentos, lembram o espírito de
expansão dos limites do punk
celebrizados por sua ex-banda, The
Clash. "Libertines" vasculha o mod ("The
Man...."), David Bowie ("What Katie Did")
e bandas de garagem sixties. Atente a
um dos melhores versos: "Eles são
narcisistas/Não seria legal ser Dorian
Gray?/Apenas por um dia" ("Narcissist").
Sim, o disco mostra-se irregular
-poderia ser bem melhor- e eles têm
seus 20 e poucos anos. E eles sabem
muito bem de tudo isso. Só não estão
muito preocupados. Melhor assim. Do
jeito que está, "Libertines" é um retrato
vivo e pulsante dos conflitos desses
jovens adultos.
(BRUNO YUTAKA SAITO)
ARTISTA: LIBERTINES; GRAVADORA: TRAMA;
QUANTO: R$ 26, EM MÉDIA
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