São Paulo, sexta-feira, 01 de outubro de 2004

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OUTROS LANÇAMENTOS

Retrato da vida sem limites

Libertines
   

Maturidade nem sempre é indispensável ao rock. Basta lembrar que bandas como Rolling Stones ou Sex Pistols tiraram sua força inicial dos hormônios imberbes de seus integrantes. Por isso, chamar uma banda de imatura pode ser um dos maiores elogios possíveis. Nessa escala de valores, não há grupo em evidência mais longe da plenitude que o inglês Libertines -que toca no Brasil em novembro. Eles lançam seu segundo disco cercados por uma sensação bem conhecida dos jovens de espírito -a ansiedade. "Libertines", o disco, versa basicamente sobre a relação entre os guitarristas/vocalistas Pete Doherty e Carl Barat. Sim, é sobre uma história de amor -não necessariamente gay. Tem mais a ver com o sentimento que faz homens heterossexuais se abraçarem durante um jogo de futebol. Faixas como "Can't Stand me Now" ou "Road to Ruin" falam sobre uma relação incerta e prestes a falir (Doherty segue a tradição roqueira de excessos de drogas, prisões, arruaças etc.). É como se a amizade, a banda e o disco fossem se extinguir a qualquer momento. A vida, enfim, tem que ser celebrada: "Vivi meu sonho hoje/ vivi meu sonho ontem/ E viverei o seu amanhã" (em "The Man who Would Be King"). Há um clima de urgência permeando o álbum; letras e músicas celebram pequenos prazeres do cotidiano -idas a pubs, festas e andanças sem rumo pelas ruas. Para isso, a produção aparentemente desleixada de Mick Jones cria camadas que, em certos momentos, lembram o espírito de expansão dos limites do punk celebrizados por sua ex-banda, The Clash. "Libertines" vasculha o mod ("The Man...."), David Bowie ("What Katie Did") e bandas de garagem sixties. Atente a um dos melhores versos: "Eles são narcisistas/Não seria legal ser Dorian Gray?/Apenas por um dia" ("Narcissist"). Sim, o disco mostra-se irregular -poderia ser bem melhor- e eles têm seus 20 e poucos anos. E eles sabem muito bem de tudo isso. Só não estão muito preocupados. Melhor assim. Do jeito que está, "Libertines" é um retrato vivo e pulsante dos conflitos desses jovens adultos. (BRUNO YUTAKA SAITO)

ARTISTA: LIBERTINES; GRAVADORA: TRAMA; QUANTO: R$ 26, EM MÉDIA


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