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FESTIVAL DO RIO
Evento exibe "Além do Azul" e "O Homem-Urso"
Herzog ousa em documentário e perde impacto com "fantasia"
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Werner Herzog andava sumido.
Um dos nomes mais importantes
do cinema alemão nos tempos em
que esse ainda dava sinais de vida,
o diretor reaparece no Festival do
Rio com dois filmes: "O Homem-Urso" e "Além do Azul".
"Além do Azul" (prêmio da crítica em Veneza) apresenta-se como um filme mais ousado. O próprio Herzog o define como uma
"fantasia de ficção científica", que
mistura imagens de arquivo, monólogos de um ator e depoimentos. Mas o documentário "O Homem-Urso", na verdade, caminha por um terreno mais perigoso. Há nele uma mistura de atração e oposição entre o cineasta e
seu "objeto" -que, para complicar, é um homem que já morreu.
Herzog se apaixonou pelo farto
material filmado por Timothy
Treadwell, biólogo amador que
passou 13 verões acampado em
uma reserva ecológica do Alasca,
desarmado, tomando para si a
missão de defender os ursos selvagens da região. Missão suicida,
dada a notória agressividade da
espécie. Treadwell passou a usar
uma câmera portátil, o que gerou
mais de cem horas de gravação.
No verão de 2003, ele e sua namorada, Amie, foram mortos e literalmente devorados por um urso.
A voz de Herzog narra o filme e
conduz as entrevistas. Mas a
maior parte do material usado foi
colhido por Treadwell, detalhe
que aproxima o documentário de
filmes como "Na Captura dos
Friedman" e "Tarnation", que só
foram possíveis com a banalização das câmeras digitais portáteis.
O que Herzog mais valoriza em
Treadwell são as imagens que ele
captou na natureza e que, na opinião do cineasta, "nenhum produtor de Hollywood seria capaz
de conseguir". Mas Treadwell
passou a manter com a câmera
uma relação obsessiva, gravando
um diário íntimo e repetindo seus
depoimentos com pequenas variações de ângulo ou de texto.
O documentário é construído a
partir da tensão entre Herzog e o
material manipulado. Às vezes, fica a impressão de desprezo por
Treadwell, que se dilui quando
Herzog se recusa a tratar o personagem de forma condescendente
e diz, sinceramente, o que pensa
dele e da relação com a natureza.
Uma crítica que surge diluída e
sem o mesmo impacto em "Além
do Azul", denúncia bem-humorada e de fundo ecológico à forma
como a humanidade trata a Terra.
A narração de um homem (Brad
Dourif) que diz vir de outra galáxia se alterna a imagens de astronautas no espaço e depoimentos
de cientistas, ao som da música
onipresente de Ernst Reijseger.
O filme até guarda uma visão
original, mas nem se comprara ao
impacto de "O Homem-Urso".
Além do Azul
Quando: hoje, às 12h, no Estação
Botafogo 1; amanhã, às 13h30 e às
20h30, no Estação Ipanema 2; e segunda,
às 19h30, no Estação Barra Point 1 (mais
em www.festivaldorio.com.br)
O Homem-Urso
Quando: hoje, às 21h30, no Estação
Botafogo 1; e segunda, às 14h e às 19h,
no São Luiz
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