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Soda Stereo lota estádios depois de uma década
"Titãs da Argentina", que mistura punk e pop, volta em turnê a partir do dia 19
Veteranos criaram grupo por influência do Police e dão cara à recuperação da cena musical portenha
após a grave crise de 2001
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Há uma verdadeira "movida"
roqueira acontecendo na Argentina, e o capítulo mais importante dessa história acontecerá no dia 19 de outubro, quando os veteranos da banda
Soda Stereo subirão ao palco
pela primeira vez após uma década de separação.
Os primeiros três concertos,
já superlotados, acontecerão
no estádio Monumental, do River Plate. A partir daí, o grupo
segue em turnê por várias capitais latino-americanas, como
Cidade do México, Bogotá, Caracas, Santiago, Quito e Panamá, até encerrar a jornada em
Los Angeles (EUA). O Brasil,
por ora, permanece fora da rota
(mais informações em
www.sodastereo.com).
Diferentemente do cinema,
que não só reagiu à grave crise
argentina de 2001 prontamente como fez dela o principal tema de seus enredos, o rock do
país vizinho andava meio paradão. Demasiado tributário de
um punk afetado e com exagerada "pose antiianque", a cena
local não conseguia fugir a essa
caricatura e passou anos morta,
apenas pontuada aqui e ali por
lançamentos do já passadões
Fito Paez e Charly Garcia.
Desde a saída de bandas como Fabulosos Cadillacs (que
romperam em 2002) e o próprio Soda (em 1997), nada muito interessante veio à tona.
Os últimos três anos, porém,
têm sido mais profícuos. Em
2004, tentando mostrar que o
país estava, sim, dando a volta
por cima das dificuldades, o
grupo Bersuit Vergarabat lançou o debochado "La Argentinidad al Palo", e veteranos como Andrés Calamaro e Vicentico voltaram a gravar CDs inspirados ("El Palacio de las Flores" e "Los Pájaros", respectivamente). Anunciada em junho, a volta do Soda virou febre
nacional, e o assunto tem concorrido com o noticiário sobre
as eleições presidenciais, marcadas para o dia 28 de outubro.
The Police latino
O Soda surgiu no começo dos
anos 80, quando um trio de
amigos resolveu imitar a formação e o estilo do Police. O vocalista Gustavo Cerati, o baixista Zeta Bosio e o baterista
Charly Alberti não demoraram
muito para trocar os palcos alternativos de Buenos Aires por
shows em grandes estádios.
Entre as apresentações históricas, estão a participação no
concerto "Tres Dias por la Democracia", em 1988, que levou
150 mil pessoas à avenida 9 de
Julio, e a noite de 1999 em que
tocaram com o Tears for Fears,
num lotado estádio Velez Sarsfield. A despedida, em setembro de 1997, ocorreu no mesmo
Monumental que verá agora a
volta dos músicos.
Seu som sempre foi resultado
de uma mistura de influências
retrô, bandas do pós-punk britânico, ska e tecladinhos setentistas. O resultado fazia lembrar, ao mesmo tempo e de modo inusitado, tanto o Joy Division como o nosso Metrô. No
Brasil, ficaram conhecidos como "os Titãs da Argentina".
"Eles faziam uma new wave
meio estranha, um pouco pop,
um pouco punk. Mas muito legal. Pena que o idioma atrapalhe tanto o sucesso de bandas
como o Soda no Brasil", diz o
jornalista Fabio Massari.
O intercâmbio entre o rock
brasileiro e o argentino, nos
anos 80, parecia muito mais
promissor do que hoje. Além da
explosão do Paralamas do Sucesso por lá, houve alguma troca criativa, de canções e fórmulas. O Capital Inicial fez uma
versão de "De Musica Ligera",
que virou "À Sua Maneira" (do
álbum "Rosas e Vinho Tinto").
"Era uma banda muito bacana, fico feliz que estejam voltando, mas não sou otimista
quanto à possibilidade de emplacarem por aqui", diz Dinho,
vocalista do Capital. "O rock é
algo reto. Só faz sucesso em outros idiomas quando carrega algum elemento de nacionalidade, como o Paralamas. Quem
faz só rock, na sua língua natal,
tende a não sair desse espaço."
Paulo Ricardo, do RPM, concorda. "Quis conhecer as bandas latinas na época do RPM,
fui atrás das pessoas, viajei,
comprei discos. Era bacana saber que existia essa cena. Mas o
rock é algo puramente anglo-saxão. Não dá pra pensar em ir
além da barreira da língua se
quiser fazer apenas rock."
Ingressos esgotados
O Soda faria inicialmente
apenas três shows em Buenos
Aires (19, 20 e 21), antes de seguir estrada. Mas os ingressos
da turnê "Me Verás Volver" esgotaram em tempo recorde, e
duas novas datas na capital argentina foram marcadas, para 3
e 4 de novembro. "Sempre gostei da idéia de que meus filhos
pudessem alguma vez ver o Soda Stereo. Eu tinha dito que
não íamos nos reunir quando
estivéssemos patéticos demais.
Acho que ainda não estamos,
por isso decidimos fazê-lo agora", disse Cerati em entrevista.
O vocalista, que depois do
fim do Soda partiu para uma
carreira solo de sucesso, deixou
claro que, depois da turnê, o
grupo volta a se separar. "Não
planejamos fazer algo novo.
Nem sequer temos tempo para
isso e não é a pauta pela qual
nós juntamos", acrescentou.
Talvez por ter ficado muito
mais conhecido pelas experimentações como solista, Cerati
se mostre tão certo quanto a essa decisão. O cantor ainda vive
na onda do êxito de "Ahí Vamos" (2006) e tem participado
do trabalho de outros artistas.
"Cerati melhorou muito como artista nos últimos anos. O
retorno do Soda é uma notícia
incrível, mas é preciso lembrar
que grande artista ele se tornou
após o fim da banda", disse o
produtor Gustavo Santaolalla,
que convidou Cerati para o
mais recente CD do Bajofondo,
onde canta "El Mareo".
Colaborou RODRIGO RÖTZSCH ,
de Buenos Aires
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