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Iberê volta com
seus carretéis
da Reportagem Local
O pintor gaúcho Iberê Camargo
(1914-1994) será o grande destaque dessa 2ª edição da Bienal do
Mercosul, com cerca de 80 trabalhos selecionados pela curadora
Lisette Lagnado.
Não se trata de uma retrospectiva, já que Lagnado não abordou
todas as fases do artista.
"Procurei fazer uma mostra que
não dividisse sua carreira em fases, que indicasse a continuidade
de seu trabalho e que mostrasse
que não existem grandes cisões
em suas passagens pela abstração,
pela figuração e pelo expressionismo", disse Lagnado.
Para isso, partiu de uma figura
presente em boa parte de sua produção, desde o início, nos anos 40:
os carretéis.
"Percebi que tudo gira em torno
da memória, representada pelos
carretéis, que representam os seus
brinquedos de infância", disse a
curadora.
Em entrevista à Folha, em março de 1994, cinco meses antes de
sua morte, em 9 de agosto, o artista definiu a relação dos carretéis
com a memória: "Quando eu fazia os carretéis, aqueles espaços,
aquele chão trabalhado, eu estava
muito impregnado da lembrança
da terra, dos quintais, das coisas
que estão sepultadas, que a terra
cobre. Eu sentia fisicamente, vivenciava as coisas na minha cabeça. Nunca fiz uma forma gratuita,
um gesto em vão. Fiz sempre uma
coisa ligada a uma experiência
muito profunda minha. Este é o
suporte da minha pintura, esse
contato direto com uma realidade, que é uma realidade subjetiva,
mas que é tão real quanto esta
mesa", disse.
Outra característica marcante
da mostra é que apresentará basicamente trabalhos com um paleta
mais escura. Segundo a curadora,
seu interesse foi mostrar que esse
lado sombrio já existia em sua
produção quando ele vivia no Rio
e não foi uma consequência de
seu retorno ao RS, no início dos
anos 80.
A maioria dos trabalhos pertence à Fundação Iberê Camargo.
"Não pude dispor de todas as
obras que gostaria. A mostra vai
atravessar o milênio e muitas pessoas têm ciúmes de se dispor por
tanto tempo delas", disse.
A curadora é autora do livro
"Conversações com Iberê Camargo" (editora Iluminuras). "Trocamos correspondência durante semanas sobre o seu processo pictórico. É um material quase sem
edição, apenas com poucos ajustes", disse a curadora sobre o livro
de 1994. Essa é a primeira mostra
que cura sobre o artista.
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