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TELEVISÃO
Ofélia nunca deveria ter morrido
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
A Ofélia nunca deveria ter morrido. Tão simples em sua intimidade com o fogão e com a ajuda
só da Aparecida para ficar de olho
no relógio. Mas a Ofélia morreu e
nunca soube o que aconteceu
com as panelas da televisão. Sorte
a dela. Duvida-se que tivesse paciência com a cozinha dessa Ana
Maria Braga que a TV Globo trouxe de um dos canais bregas de São
Paulo.
Tanta gente escreveu sobre essa
transferência, com palavras até
adequadas para um tratado de sociologia, que a Vera Loyola talvez
tenha vivido um susto. Tolinha.
Ela fica no ar o tempo que quiser,
sempre com aquela cara de que
nunca houve uma mulher igual a
Vera. Já a Ana Maria Braga é coisa
de pouco mais de uma hora nas
tardes dos dias úteis da TV Globo.
Uma hora e poucos minutos
muito difíceis de preencher. Enquanto a companhia é a de um
chef e de panelas que enlouquecem de inveja as mulheres com
tempo disponível para ter fogão
como paisagem para uma tarde
preguiçosa, tudo está bem. O inacessível não tem defeitos.
Mas o resto do programa é uma
ansiosa cópia do que uma revista
feminina tem de indispensável
para uma banalidade. O sopro de
comédia está no papagaio chamado Louro José. Como fantoche ele
é bem apresentado, mas tudo o
que diz revela sua admiração pelo
Clodovil.
No primeiro programa, a encantadora Glorinha Kalil apareceu morta de vergonha dos amigos. Tolice da adorável Glorinha.
Falando sempre de moda, ela disse que o verão exigia que o ouro
fosse escovado. Esperteza da encantadora Glorinha. Pedindo
uma trégua para o ofuscante, ela
desapareceu na leveza do ar. Os
que fazem do "Mais Você" um
"Estou fora" nunca mais encontraram a Glorinha aconselhando
um "gloss" para disfarçar. A Ana
Maria, aliás, não tem muita convivência com palavrinhas estrangeiras tão indispensáveis para
uma ou outra leveza. O chef falou
num "flavourzinho", e ela foi entendo, com muito prazer, por
cheirinho.
Desde o primeiro programa,
permanece ocupado o "Coin
Cony", cheio da "poésie timide"
de um escritor escondido. Ana
Maria suspira com essas palavras
de qualidade, adorando a oportunidade tão rara de se mostrar uma
mulher sensível. Como o desafinado, quer mostrar que no seu
peito brega também bate um coração.
O programa está cheio de cabeleireiros, maquiadores e mulheres
bonitas. De vez em quando aparecem os rapazes dos bastidores. Isso vai durar pouco. São mais elegantes em seu bege. Aparecem
mulheres com problemas muito
pessoais. Para isso existe um jovem psicanalista de plantão. Em
suas palavras existe sempre uma
solução.
Tem a hora para falar de silicone, e o momento de o elenco da
TV Globo ser sábio e sensível. A
Cassia Kiss foi bem depressinha.
A Tônia Carrero se viu num teatro e confessou que nunca deixou
de ser estrela. É verdade que agora
só como matriarca na hora do almoço, com lugar para os bisnetos.
O tempo passa. Talvez o mesmo
aconteça com a Ana Maria Braga
comendo de cócoras a comida
que a Marluce já deve ter dito que
é dela e do almoço de quem foi
convidado.
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