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Deputada vai à Promotoria contra
exposição na TV de menino doente
DA REPORTAGEM LOCAL
A Frente Parlamentar Contra a
Violência e a Exploração de
Crianças e Adolescentes, de São
Paulo, irá entrar com representação no Ministério Público contra
o programa "Hora da Verdade",
da TV Bandeirantes.
A atração, comandada por Márcia Goldschmidt, mostrou ontem
à tarde o drama de um menino
com uma doença rara, não-identificada pelos médicos. Ele tem escamas pelo corpo, não consegue
fechar os olhos e precisa ficar
constantemente na água.
Chamado de "menino-peixe"
pela apresentadora, R.,10, foi a
principal atração do programa e
ficou no ar por mais de uma hora.
Em uma pequena piscina de plástico montada no palco, o menino,
a pedido da apresentadora, andou
e até cantou. "Hora da Verdade",
que costuma ter médias de 5 pontos no Ibope, ontem chegou a 7.
Para especialistas, a exposição
de crianças doentes na TV é uma
infração ao Estatuto da Criança e
do Adolescente e demonstra falta
de ética.
Segundo a deputada Maria Lúcia Prandi (PT-SP), coordenadora
da frente, usar imagens de crianças, sobretudo doentes, em programa televisivo é "abominável".
"Vamos requisitar uma cópia
do programa para que possamos
entrar com uma representação no
Ministério Público contra a emissora de TV que expôs a criança."
Segundo a deputada, o estatuto
proíbe a exposição de crianças a
situações vexatórias ou constrangedoras. "Acredito que isso seja
um absoluto desrespeito ao ser
humano, ainda mais em se tratando de uma criança."
A promotora da Infância e Juventude Luciana Bergamo Tchorbadjian concorda. Segundo ela, os
próprios pais podem ser punidos
por concordarem com a exibição
da criança. "Usar o argumento de
que precisam da TV para receber
tratamento não é real, é só procurar a Promotoria da Infância que
nós providenciamos ajuda."
Para Laurindo Lalo Leal Filho,
presidente da ONG Tver, além da
infração ao estatuto, o programa
também cometeu uma infração
moral. "Do ponto de vista ético,
há violação da dignidade humana, mais uma vez ferida pela TV."
Antonio Teles, vice-presidente
da Rede Bandeirantes, afirmou
que "o quadro é chocante, mas
compatível com a realidade chocante da miséria brasileira".
"Não vejo nada que seja chocante para alguém que não seja
hipócrita. Não vejo por que não
mostrar a verdade em um país em
que há liberdade de expressão."
Segundo ele, graças ao programa, o Ministério da Saúde assegurou tratamento a R. no Hospital
São Paulo (zona sul paulistana).
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