São Paulo, quinta-feira, 01 de novembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Deputada vai à Promotoria contra exposição na TV de menino doente

DA REPORTAGEM LOCAL

A Frente Parlamentar Contra a Violência e a Exploração de Crianças e Adolescentes, de São Paulo, irá entrar com representação no Ministério Público contra o programa "Hora da Verdade", da TV Bandeirantes.
A atração, comandada por Márcia Goldschmidt, mostrou ontem à tarde o drama de um menino com uma doença rara, não-identificada pelos médicos. Ele tem escamas pelo corpo, não consegue fechar os olhos e precisa ficar constantemente na água.
Chamado de "menino-peixe" pela apresentadora, R.,10, foi a principal atração do programa e ficou no ar por mais de uma hora. Em uma pequena piscina de plástico montada no palco, o menino, a pedido da apresentadora, andou e até cantou. "Hora da Verdade", que costuma ter médias de 5 pontos no Ibope, ontem chegou a 7.
Para especialistas, a exposição de crianças doentes na TV é uma infração ao Estatuto da Criança e do Adolescente e demonstra falta de ética.
Segundo a deputada Maria Lúcia Prandi (PT-SP), coordenadora da frente, usar imagens de crianças, sobretudo doentes, em programa televisivo é "abominável".
"Vamos requisitar uma cópia do programa para que possamos entrar com uma representação no Ministério Público contra a emissora de TV que expôs a criança."
Segundo a deputada, o estatuto proíbe a exposição de crianças a situações vexatórias ou constrangedoras. "Acredito que isso seja um absoluto desrespeito ao ser humano, ainda mais em se tratando de uma criança."
A promotora da Infância e Juventude Luciana Bergamo Tchorbadjian concorda. Segundo ela, os próprios pais podem ser punidos por concordarem com a exibição da criança. "Usar o argumento de que precisam da TV para receber tratamento não é real, é só procurar a Promotoria da Infância que nós providenciamos ajuda."
Para Laurindo Lalo Leal Filho, presidente da ONG Tver, além da infração ao estatuto, o programa também cometeu uma infração moral. "Do ponto de vista ético, há violação da dignidade humana, mais uma vez ferida pela TV."
Antonio Teles, vice-presidente da Rede Bandeirantes, afirmou que "o quadro é chocante, mas compatível com a realidade chocante da miséria brasileira".
"Não vejo nada que seja chocante para alguém que não seja hipócrita. Não vejo por que não mostrar a verdade em um país em que há liberdade de expressão."
Segundo ele, graças ao programa, o Ministério da Saúde assegurou tratamento a R. no Hospital São Paulo (zona sul paulistana).


Texto Anterior: Juiz proíbe exibição de programa do SBT
Próximo Texto: Justiça condena Rede Globo por danos morais
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.