São Paulo, sexta-feira, 01 de novembro de 2002

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CINEMA/ESTRÉIA

Estréia "Fale com Ela", em que cineasta retoma o foco no universo masculino

Almodóvar lê a mente dos homens

Divulgação
Os atores Rosario Flores e Darío Grandinetti em cena de "Fale com Ela"


SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Pedro Almodóvar é o último a chegar, com seu cabelo anos 80. Senta-se ao centro da mesa disposta à "Santa Ceia", de Da Vinci, com um séquito de assessoras e jornalistas espanhóis, que o chamam de "Pedrito".
Pedrito, 51, está em Nova York para a divulgação de seu mais novo filme, "Fale com Ela", que encerrou o Festival de Cinema da cidade e estréia hoje no Brasil. É o melhor Almodóvar em anos. E marca a volta para o universo masculino do olhar do mais criativo cineasta espanhol.
O feito não é inédito. Ele foi descoberto pelo mundo por filmes que tratavam de homens conturbados, como "Matador" e "Áta-Me!", quase sempre personificados por seu alter ego fílmico, Antonio Banderas, hoje em Hollywood, nem sempre autor das escolhas mais sensatas.
"Antonio é meu grande amigo e não vou comentar suas escolhas", diz Almodóvar, para confirmar que os dois pretendem voltar a trabalhar juntos em "Tarántulas", adaptação do romance "Mygale", do francês Thierry Jonquet.
Mas Almodóvar ganhou fama mundial por seu retrato irônico e certeiro do universo feminino, levado às últimas consequências em "Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos" e "Tudo Sobre Minha Mãe".
Tanto que se criou a expressão "Chica Almodóvar" (garota Almodóvar, em espanhol), posto que já foi ocupado por Carmen Maura, Victoria Abril e Marisa Paredes. Pois com este "Fale com Ela", a expressão recebe um adendo: "Chico Almodóvar".
No filme, o ponto central é a amizade improvável entre o solitário enfermeiro Benigno (Javier Cámara) e o jornalista argentino Marco (Darío Grandinetti). Os dois se conhecem num hospital, em que o primeiro arrumou emprego para cuidar da mulher que ama secretamente e o segundo leva a namorada depois de um acidente. Ambas estão em coma.
Assim, sob o forçado silêncio feminino, os homens contam suas histórias em flashbacks e entrelaçam seu futuro irremediavelmente, depois que Benigno toma uma atitude que é ponto-chave da trama e o levará à prisão.
"Escolhi Darío pelo seu jeito de andar e de chorar", revela Almodóvar. "Um bom ator começa pelos sapatos e a maneira de andar", continua. "Montgomery Clift era um excelente andador, assim como John Wayne, talvez o melhor andador de todos."
Sobre o caubói americano, o espanhol tem uma queixa: "Adoraria ter visto John Wayne chorar. Não sei por que os homens, os machos, não podem chorar. Fiz este filme para demostrar que, sim, eles podem". E os homens choram em "Fale com Ela".
Marco chora logo na primeira cena, em que ele e Benigno assistem juntos, por coincidência, a um balé de Pina Bausch que lembra o jornalista de seu grande amor, perdido. Depois, voltará a chorar quando Caetano Veloso entoa "Cucurrucucú Paloma".
Há mais choro e mais universo masculino em seu próximo filme, "La Mala Educacíon", baseado em sua experiência em colégios católicos espanhóis nos anos 60. O tema central será o abuso sexual de meninos por padres.
"Será uma obra muito anticlerical, que tratará da educação católica", disse. Segundo o diretor, o filme se passará num lugar em que se encontram outros dois tipos de homens: "Alunos muito jovens e sacerdotes de 30 e 40 anos, futuros molestadores".


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