São Paulo, sexta-feira, 01 de novembro de 2002

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CRÍTICA

Em duas palavras? Assista hoje

DE NOVA YORK

"Fale com ela, conte isso", recomenda Benigno ao relutante e cético Marco.
"Sim, eu gostaria, mas ela não pode me ouvir", responde este.
"O cérebro das mulheres é um mistério, e neste estado mais ainda", insiste Benigno.
Com o diálogo, Pedro Almodóvar tenta responder à questão que atormenta os homens desde que estes conquistavam seus pares a golpes de tacape e que foi imortalizada por Freud (1856-1939): afinal, o que querem as mulheres?
Segundo "Fale com Ela", elas querem ouvir o que sentem seus homens. Sem pudores nem censuras e mesmo que elas não possam responder, como é o caso da bailarina Alicia (a linda Leonor Watling) e da toureira Lydia (Rosario Flores, uma Maria Bethania sarada), ambas em coma.
Este é o cerne do mais recente filme do diretor espanhol, a relação entre homens e mulheres, que ele trata com muita ironia. Diferentemente da de Neil Labute (de "Na Companhia de Homens"), outro aficionado pelo tema, a ironia almodovariana é mais sentimental (mais latina?), por mais paradoxal que isso possa parecer.
Tal característica está exacerbada numa passagem, talvez a mais interessante do filme todo.
Nela, Benigno conta um sonho recorrente para Marco, que o diretor coloca na tela na forma de um curta mudo preto-e-branco, que poderia ser intitulado "A Incrível História do Homem que Encolheu Tanto que Penetrou a Vagina da Mulher Amada para Sempre" (assista e entenda).
São essas tiradas de quase realismo mágico mais o roteiro, que conta a história dos quatro personagens principais sem compromisso cronológico, indo alternadamente do presente para o futuro e para o passado e voltando, que fazem de "Fale com Ela" o filme mais irresistível do ano.
(SÉRGIO DÁVILA)

Fale com Ela
Hable con Ella


    
Direção: Pedro Almodóvar
Produção: Espanha, 2002
Com: Javier Cámara, Darío Grandinetti
Quando: a partir de hoje nos cines Belas Artes, Cinearte, Espaço Unibanco, Iguatemi, Sala UOL e circuito




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