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Lina Chamie rima amor e dor na tela
Em "A Via Láctea", segundo longa da cineasta, que estréia amanhã, homem em situação-limite tenta superar crise romântica
Filme usa trânsito de SP como
metáfora da solidão e do
imprevisto; "nem sempre o
que vem à janela do carro é o
que se quer ver", diz diretora
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Na voz da atriz Alice Braga, a
frase "Heitor, eu estou aqui!" é
a primeira e a última que se ouve em "A Via Láctea", longa-metragem que estréia amanhã,
em salas do Rio e de São Paulo.
Entre uma frase e outra, a diretora Lina Chamie alinhava
diversos fragmentos de um discurso amoroso no qual o lingüista francês Roland Barthes é
apenas uma das referências.
Heitor, interpretado por
Marco Ricca, é um professor de
literatura em crise no romance
com a veterinária Júlia (Braga).
Atordoado pela briga que teve com a namorada ao telefone,
pelos ciúmes que sente dela,
pela falta de interesses comuns
que a diferença de idade entre
os dois impõe, Heitor se atira
no trânsito de São Paulo, na
tentativa de reencontrar Júlia.
Citações
No percurso, vêm à tona a
memória do romance e as expectativas que ele acordou em
Heitor, povoadas por citações
de Barthes -"Na doce calma de
seus braços"- e por imagens da
amada, que ele julga ver espalhadas em outdoors na cidade.
Chamie filmou no trânsito de
São Paulo, sujeita aos seus engarrafamentos reais e constantes. No "corpo-a-corpo com a
cidade", ela diz que tentou subverter o pressuposto do "controle que a situação de dirigir
[cinema] envolve", além de estender à direção o aspecto do
personagem de "estar desesperadamente em busca".
Ao optar por cenas com registro documental, a cineasta
lançou mão do fato de que
"nem sempre o que vem à janela do carro é o que se quer ver",
para acentuar a situação de
perda de controle em que se
acha o protagonista.
Para Ricca, essa escolha significou o desafio de "dar credibilidade dramática ao personagem, sem bater o carro".
"Cabeça a Prêmio"
Preparando-se para dirigir
seu primeiro longa no ano que
vem -uma adaptação do livro
"Cabeça a Prêmio", de Marçal
Aquino, que terá Alice Braga e
Otávio Muller no elenco-, o
ator diz que hoje só aceita projetos de outros cineastas que o
queiram como "sócio intelectual" na empreitada.
"Lina fez com que eu adentrasse esse universo poético
que ela domina", diz Ricca, para
quem o filme "é poesia pura e
pede do público certa generosidade, como a que se tem para
ler poesia -não pode ser com
pressa".
Embora se insira no cinema
autoral e opte por "uma narrativa não-linear", na montagem
de André Finotti, Chamie diz
que se preocupou que o filme
não fosse "um exercício estético, porque não é aonde queria
chegar com uma história sobre
o reconhecimento do amor e o
desejo de não partir".
Ricca avalia que o tema de "A
Via Láctea" atraia um público
amplo e diz que comprovou isso no envolvimento da platéia
nas sete sessões que ele teve na
Semana da Crítica, em Cannes.
"Afinal, "A Via Láctea" trata
desse sentimento bruto que é o
amor, de como ele pode ser
subversivo, do grau de violência que envolve, do que ele pode
provocar a favor de alguém ou
contra si mesmo", diz o ator.
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