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LIVROS
Crítica
Best-seller divide opiniões e cria "zafonadictos"
MOACYR SCLIAR
COLUNISTA DA FOLHA
A
carreira do escritor espanhol Carlos Ruiz Zafón (Barcelona, 1964) é,
para dizer o mínimo, meteórica. Começou como premiado
autor de obras juvenis, mas, em
2001, deu o grande salto com o
romance "A Sombra do Vento",
que, traduzido em 30 idiomas e
publicado em 45 países, vendeu
milhões de exemplares, recebendo prêmios e transformando o autor num best-seller internacional -na Espanha, fala-se em "zafonadictos", fãs incondicionais do escritor.
Sete anos depois, Zafón nos
dá um segundo romance, "O
Jogo do Anjo", que já está repetindo o êxito, e que nos permite
entender um pouco aquilo que
poderíamos chamar de anatomia do best-seller.
A história, que tem como cenário a sempre fascinante cidade de Barcelona no começo do
século 20, começa de maneira
relativamente simples: David
Martín, filho de um veterano de
guerra violento e desesperado e
de uma mãe com quem não tem
contato, é um jovem que trabalha em um medíocre jornal.
Trama de sucesso
Mas aí vê-se diante da situação descrita no parágrafo inicial do romance: "Um escritor
nunca esquece a primeira vez
em que aceita algumas moedas
ou um elogio em troca de uma
história".
É contratado por uma editora para escrever, sob pseudônimo, uma série de publicações
que acabam alcançando grande
êxito.
Então, recebe uma nova oferta, desta vez de um misterioso
editor de Paris, Andreas Corelli: trata-se de produzir, mediante fabuloso pagamento, um
livro que será uma espécie de
Bíblia para uma nova religião a
ser fundada.
A partir daí a ação se ace-
lera, entra num ritmo vertiginoso, e as mais rocambolescas
aventuras se sucedem, prendendo a atenção do leitor de
forma irresistível.
O fantástico, lembrando um
pouco García Marquez, ou
mesmo Borges, comparece por
meio de um misterioso lugar
chamado a Cemitério dos Livros Esquecidos; ali, Martín encontra uma antiga obra escrita
por alguém que tem algo em comum com ele próprio, e que o
jovem escritor trata de achar,
enquanto luta com a dor de um
desengano amoroso.
Mas o livro é mais um thriller, com mortes se sucedendo
em cenários sombrios (cemitérios, mansões em ruínas), o que
gera um clima de paranóico pesadelo: de fato, David só pode
confiar em seu amigo, o livreiro
Sempere, e em Isabella, uma
espécie de discípula literária.
Diz o "New York Times":
"Ruiz Zafón nos apresenta um
elenco de selvagens e cativantes histórias e personagens".
Ou seja: nada de monólogos interiores, nada de longas reflexões sobre a condição humana
e o sentido da existência, ainda
que frases espirituosas (o humor do autor é outro apelo à
leitura) pontilhem a narrativa.
Os diálogos, aliás, são vivos e
ágeis e há cenas cinematográficas, como aquela da morte de
Cristina: rompe-se o gelo sobre
o qual caminha descalça, ela cai
na água, o gelo fecha-se sobre
ela e por ali David Martín a vê
morrer. Falando em cinema:
Zafón trabalha como roteirista
em Los Angeles, onde vive desde 1993 com a esposa.
Críticos torceram o nariz para este livro e, de fato, um apreciador de Proust não gostará
muito dele. Portanto, se perguntarmos se o livro é bom, obteremos respostas discordantes. Mas se perguntarmos se o
autor faz bem aquilo que se
propõe a fazer, a resposta será
afirmativa.
Um livro de ação, bem narrado, agrada a muita gente. Os
"zafonadictos" que o digam.
O JOGO DO ANJO
Autor: Carlos Ruiz Zafón
Tradução: Eliana Aguiar
Editora: Suma de Letras
Quanto: R$ 39,90 (416 págs.)
Avaliação: bom
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