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CINEMA
E "Orfeu", o mais recente filme do cineasta, abre hoje a 21ª edição do Festival de Havana, além de concorrer a indicação ao Oscar
Cacá Diegues prepara "Deus É Brasileiro"
AMIR LABAKI
em Amsterdã
Estabelecer uma produção cinematográfica permanente, rompendo a crônica de surtos e crises,
é mais importante para o Brasil
do que ganhar o Oscar. Assinado:
Cacá Diegues, diretor de "Orfeu",
que concorre com 46 outros filmes internacionais a uma das cinco indicações ao Oscar de melhor
filme estrangeiro deste ano.
"Orfeu" faz hoje à noite a sessão
de abertura do reformulado 21º
Festival do Novo Cinema Latino-Americano de Havana, em Cuba.
Diegues vai apresentar o filme ao
lado de Caetano Veloso, responsável pela trilha.
Antes de partir para Havana, o
diretor de "Bye Bye Brasil" concedeu à Folha uma entrevista por e-mail. Ele comentou suas chances
no Oscar, o favoritismo de "Tudo
Sobre Minha Mãe", de Pedro Almodóvar, e a produção nacional.
Folha - O que você achou da
relação de 47 filmes indicados
para o Oscar de filme estrangeiro?
Cacá Diegues - Não conheço a
lista completa, ainda não a vi. Sei
apenas de alguns títulos, entre os
quais se destaca naturalmente
"Tudo sobre Minha Mãe". É um
belo filme, embora eu prefira
"Carne Trêmula", que não foi indicado pela Espanha naquele ano.
Folha - Pedro Almodóvar é o
favorito?
Diegues - Eu adoro os filmes de
Almodóvar. Acho que ele é um
desses raros grandes cineastas
que não filmam para os críticos
ou para a bilheteria ou para a história do cinema ou por razões
mundanas ou para qualquer outra coisa que não seja a própria vida. Ele é o grande herdeiro de, ao
mesmo tempo, Buñuel e Renoir,
Michael Powell e Douglas Sirk. É
claro que ele é o grande favorito.
Entre outras coisas porque estamos vivendo o ano de sua unânime consagração e coroação internacional como o Príncipe do Cinema Europeu, assim como Wim
Wenders o foi nos anos 80, Bertolucci nos 70 e Truffaut nos 60. A
Academia gosta dessa tradição.
Folha - Não lhe parece estranho o Oscar ter virado uma espécie de termômetro do estado
das coisas no cinema brasileiro?
Diegues - Isso é um absurdo
inominável. O Oscar, como qualquer festival internacional importante, é um excelente veículo de
exposição e promoção do cinema
brasileiro no exterior. A gente faz
filmes para ser amado e um prêmio é sempre, de algum modo,
um beijo na boca. Mas daí a transformar tal evento em juiz supremo do nosso cinema é uma insensatez. "Central do Brasil" não deixou de ser o grande filme que é só
porque não ganhou o Oscar.
Folha - Quais suas experiências com o Festival de Havana?
Diegues - Essa é a terceira vez
que vou ao Festival de Havana. Já
fui membro do júri em 82 (premiamos "Eles Não Usam Black-tie", do Leon Hirszman), assim
como já tive filmes premiados:
"Bye Bye Brasil" (melhor filme),
"Tieta do Agreste" (melhor atriz,
para Marília Pêra) e "Veja Esta
Canção" (melhor diretor).
Folha - Por que a "Veja" elegeu-o para Judas do cinema
brasileiro?
Diegues - Já disse e repito: por
algum motivo que ignoro, a "Veja" resolveu decretar a inviabilidade do Brasil como nação, desqualificando em primeiro lugar
sua produção cultural. Como não
prestamos para nada (isso está toda semana escrito na revista), fica
mais fácil justificar a predação.
Sua principal e mais frágil vítima
tem sido o cinema brasileiro, objeto de uma campanha tão injusta
quanto irracional.
Folha - Parece ter se encerrado
o primeiro ciclo da chamada
"retomada" da produção cinematográfica nacional. Que balanço você faz desse processo?
Diegues - Você deve esperar de
mim uma resposta otimista, já
que tenho dois filmes na lista das
dez melhores bilheterias dessa
"retomada" e estou aí disputando
o Oscar com "Orfeu". Mas eu comecei a trabalhar muito cedo, tenho portanto quase 40 anos de cinema e, só no meu tempo de vida,
já vi acontecerem umas quatro ou
cinco "retomadas", da Vera Cruz
ao Cinema Novo, da Embrafilme
à Lei do Audiovisual. O que cada
um desses ciclos acaba provocando, como é o caso agora da "retomada", é uma tremenda frustração face à extraordinária vocação
que o país tem para o cinema,
sempre frustrada pela insuficiência da economia.
Folha - O que virá depois de
"Orfeu"?
Diegues - Estou no momento
escrevendo com João Ubaldo Ribeiro um roteiro baseado em um
de seus contos. O filme se chamará "Deus É Brasileiro" e é uma comédia contemporânea, um
"road-movie" cômico que vai da
ilha de Itaparica ao sertão.
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