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GASTRONOMIA
RISOTO
Chefs usam muita criatividade na hora de preparar pratos à base do grão
Arroz deixa de ser uma guarnição em italianos
MARINA MONZILLO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Desde que houve a abertura às
importações, no início da década
de 90, o risoto se tornou um prato
cada vez mais presente nos menus dos restaurantes, graças à
maior facilidade de comprar o arroz italiano, o ideal para fazer esse
prato.
O tipo de grão para risoto é o arborio, mais curto, mais largo e
mais rico em amido, que é produzido no norte da Itália. Foi nessa
região, mais especificamente no
Piemonte e na Lombardia, que
nasceu o autêntico risoto italiano.
Diferentemente do que acontece nas cozinhas do Brasil, o arroz,
na culinária mediterrânea, deixa
de ser um contorno, uma guarnição, e passa a ser o prato principal
ou o "primo piatto" de uma refeição. Outro ponto que distingue o
risoto à italiana é que os ingredientes são cozidos junto ao arroz, e não misturados depois, como acontece no brasileiríssimo
arroz de forno.
A cremosidade, a consistência,
as combinações, o caldo e o tempo de cozimento. São muitos os
detalhes para ter um bom risoto.
Um risoto bem-sucedido tem a
textura cremosa, porém o grão
deve estar "al dente".
Uma das regras é nunca lavar o
arroz. "Porque ele acaba perdendo o amido e os sais minerais e
não vai dar liga", explica o chef
Luciano Boseggia, que já publicou
um livro sobre o assunto, "Il Riso
in Tasca" (editora DBA, 134 págs.
R$ 47,30), em que ensina os dez
mandamentos para o bom risoto
e compartilha várias receitas.
O título do livro significa o arroz
no bolso, em italiano, e remete ao
tempo em que havia dificuldades
alfandegárias e os restaurateurs tinham de pedir aos amigos que
iam à Itália para trazer o produto
na bagagem.
Hoje, além da facilidade de importação, muitos fabricantes brasileiros já produzem o arroz tipo
italiano.
Existem ainda outras variedades que são ideais para risotos.
Boseggia, nas criações no restaurante que leva o seu nome, utiliza
o carnaroli, um tipo de grão ainda
menor e de grande absorção.
As outras dicas de Boseggia são
nunca deixar o fogo baixo, "para
não empapar", e sempre manter a
fervura do caldo.
"É um prato versátil, que permite uma gama de variações. Não é
um acompanhamento, é um casamento, é um amálgama", diz o
chef.
Mais do que um toque final, é
imprescindível na confecção do
risoto o "mantecare", a adição de
manteiga e queijo parmesão, após
o fogo ter sido desligado. É nesse
momento que a cremosidade e
textura do risoto serão definidos.
Boseggia recentemente incluiu
mais cinco criações de risoto no
cardápio de seu restaurante, entre
eles um que leva pesto e vieiras e
outro com ostras, caviar e prosecco.
La Risotteria
No início de novembro, foi
aberto em São Paulo o primeiro
restaurante que tem como enfoque principal os risotos. "Especialistas em massa existem vários,
mas, em risotos, é o único", diz
Alessandro Segato, chef e proprietário do La Risotteria.
O próprio nome da casa já deixa
claro qual é o carro-chefe. São oferecidos 15 tipos de risotos no menu fixo, como o "Al Nero de Seppia e Pesto di Rucola" (na tinta de
lulas, lulas e pesto de rúcula) e o
"Di Rane alla Provelzale" (de rãs à
provençal).
Segato opta por utilizar uma outra diversidade de grão, o vialone
nano, perfeito para ressaltar o sabor de ingredientes delicados.
"A qualidade do arroz é responsável por 40% do sucesso do risoto", afirma Segato.
Boseggia concorda com o caráter de condutor de sabores do arroz. "O grão é o elemento neutro,
a textura e os outros ingredientes
trazem o sabor", diz.
Segundo Segato, outra regra é
não mexer sempre, isso acarretaria a quebra do grão. Por fim, ele
ensina que, para não virar cola, é
preciso selar. Para isso se dá um
choque térmico: faz-se o fundo da
panela com azeite e cebola e se
deixa o arroz tostar por uns dois
minutos, antes de colocar o vinho.
"Dizem que o risoto atinge a
cremosidade certa quando faz o
que chamamos de "all'onda": ele
movimenta-se como uma onda
quando mexemos a panela", conta Segato.
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