São Paulo, sexta-feira, 01 de dezembro de 2000

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TEATRO
Grupo inaugura sede em São Paulo com a peça "Retábulo da Avareza, Luxúria e Morte", do espanhol Valle-Inclán
Satyros encena metáfora das distorções

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Afeito a espetáculos que provocam escândalo ao expor "o lado escuro do ser humano", como em "Sades ou Noites com os Professores Imorais" (90), o grupo Os Satyros desta vez recorre ao espanhol Ramón del Valle-Inclán (1866-1936) em sua nova montagem, "Retábulo da Avareza, Luxúria e Morte". A peça estreou em Curitiba há quatro meses e chega hoje a São Paulo em temporada que inaugura o espaço do grupo na região central da cidade.
A figura de linguagem do "esperpento", na qual Valle-Inclán distorce o humor em meio à farsa e ao grotesco, como recurso para "enxergar a realidade", serve de metáfora para Os Satyros desfilar as deformidades físicas, morais ou políticas dos personagens (corcundas, cegos, assassinos...).
São três textos curtos pinçados entre os cincos da coletânea "Retábulo da Avareza, Luxúria e Morte". Tudo se passa em uma taberna. A platéia é disposta em mesas, nas quais serve-se vinho. "O público é o cenário", afirma o diretor Rodolfo García Vázquez, 38, que também assina a adaptação.
O texto "A Cabeça do Batista" é o fio condutor. Nele, um sujeito rico mata sua amante e imigra para o México, onde abre uma taberna e vive com uma prostituta decadente. Mas o sossego do casal termina quando chega o filho da amante assassina.
Além de servir vinho, a bodega abre espaço para artistas populares. É a deixa para a inserção dos outros dois textos, "Pacto de Sangue", no qual são utilizadas técnicas de teatro de sombra, e "A Rosa de Papel", com bonecos.
"Valle-Inclán mostra o lado escuro do ser humano de maneira diferente de Sade, menos visceral", afirma Vázquez, citando o filósofo libertino.
Vázquez e o ator Ivan Cabral são remanescentes da formação original do grupo. Na temporada, os demais integrantes do elenco (dez ao todo) são de Curitiba e São Paulo.
A trajetória de Os Satyros é desterritorializada. Começou em São Paulo (89-92), seguiu para Lisboa (92-99), depois Berlim (desde 97) e agora, paralelamente, retorna para o berço.


Peça: Retábulo da Avareza, Luxúria e Morte Texto: Ramón del Valle-Inclán Direção: Rodolfo García Vázquez Com: Os Satyros (Tadeu Perrone, Mazé Portugal, Letícia Coura e outros) Quando: estréia hoje, às 21h; sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h Onde: Espaço dos Satyros (pça. Roosevelt, 214, tel. 0/xx/11/258-6345) Quanto: R$ 20 Patrocínio: Mastercard, Clinihauer e Caixa Econômica Federal

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