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TEATRO
Grupo inaugura sede em São Paulo com a peça "Retábulo da Avareza, Luxúria e Morte", do espanhol Valle-Inclán
Satyros encena metáfora das distorções
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Afeito a espetáculos que provocam escândalo ao expor "o lado
escuro do ser humano", como em
"Sades ou Noites com os Professores Imorais" (90), o grupo Os
Satyros desta vez recorre ao espanhol Ramón del Valle-Inclán
(1866-1936) em sua nova montagem, "Retábulo da Avareza, Luxúria e Morte". A peça estreou em
Curitiba há quatro meses e chega
hoje a São Paulo em temporada
que inaugura o espaço do grupo
na região central da cidade.
A figura de linguagem do "esperpento", na qual Valle-Inclán
distorce o humor em meio à farsa
e ao grotesco, como recurso para
"enxergar a realidade", serve de
metáfora para Os Satyros desfilar
as deformidades físicas, morais
ou políticas dos personagens
(corcundas, cegos, assassinos...).
São três textos curtos pinçados
entre os cincos da coletânea "Retábulo da Avareza, Luxúria e
Morte". Tudo se passa em uma taberna. A platéia é disposta em mesas, nas quais serve-se vinho. "O
público é o cenário", afirma o diretor Rodolfo García Vázquez, 38,
que também assina a adaptação.
O texto "A Cabeça do Batista" é
o fio condutor. Nele, um sujeito
rico mata sua amante e imigra para o México, onde abre uma taberna e vive com uma prostituta
decadente. Mas o sossego do casal
termina quando chega o filho da
amante assassina.
Além de servir vinho, a bodega
abre espaço para artistas populares. É a deixa para a inserção dos
outros dois textos, "Pacto de Sangue", no qual são utilizadas técnicas de teatro de sombra, e "A Rosa
de Papel", com bonecos.
"Valle-Inclán mostra o lado escuro do ser humano de maneira
diferente de Sade, menos visceral", afirma Vázquez, citando o filósofo libertino.
Vázquez e o ator Ivan Cabral
são remanescentes da formação
original do grupo. Na temporada,
os demais integrantes do elenco
(dez ao todo) são de Curitiba e
São Paulo.
A trajetória de Os Satyros é desterritorializada. Começou em São
Paulo (89-92), seguiu para Lisboa
(92-99), depois Berlim (desde 97)
e agora, paralelamente, retorna
para o berço.
Peça: Retábulo da Avareza, Luxúria e
Morte
Texto: Ramón del Valle-Inclán
Direção: Rodolfo García Vázquez
Com: Os Satyros (Tadeu Perrone, Mazé
Portugal, Letícia Coura e outros)
Quando: estréia hoje, às 21h; sex. e sáb.,
às 21h; dom., às 20h
Onde: Espaço dos Satyros (pça.
Roosevelt, 214, tel. 0/xx/11/258-6345)
Quanto: R$ 20
Patrocínio: Mastercard, Clinihauer e
Caixa Econômica Federal
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