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LIVRO
Autor criou crônicas e contos com tamanho predeterminado
Mário Lago lança em SP o seu desafio de "16 Linhas Cravadas'
BRUNO GARCEZ
da Reportagem Local
A mulher sai para comprar o
queijo que o marido quer para o
lanche. No caminho, encontra seu
primeiro namorado e acaba embarcando com ele em uma longa
viagem pela Europa. Anos depois,
ela retorna trazendo nas mãos o
lanche do marido.
"Inspirei-me numa história verdadeira, mas na vida real ela não
voltou. Resolvi dar uma conclusão
ao caso", diz Mário Lago, 87, sobre
um dos contos que compõem o seu
"16 Linhas Cravadas", cujo lançamento ocorre hoje, em São Paulo.
Para escrever o livro, o seu 11º, o
escritor, ator e compositor impôs-se um desafio: criar contos, crônicas e poemas cuja extensão não ultrapassassem nem ficassem
aquém de 16 linhas datilografadas.
"Foi um sacrifício. Toda palavra
é importante. Às vezes, dava-me
conta de que já tinha escrito mais
de 40 linhas. Mas adoro desafios.
Tanto que sempre fui de esquerda", afirma o escritor, que se diz,
atualmente, um marxista autônomo, sem filiação partidária.
O passado como membro do velho PCB (Partido Comunista Brasileiro) foi fonte de inspiração para
uma das passagens mais divertidas
do livro. O conto, sem título, assim
como os demais relatos de "16 Linhas", trata de um aguerrido militante que, tendo resistido à tortura, não se contém diante dos encantos de uma "companheira".
Essa, no entanto, rechaça os
avanços do militante de libido
acentuada, recitando trechos de
"O Capital", de Karl Marx, em alemão. "A cena aconteceu de verdade. No auge da militância, você
acaba só conseguindo falar sobre
isso. Eu não, sempre me mantive
fiel à condição de boêmio", diz.
A boêmia do autor é peculiar.
"Não durmo antes das 2h. Mas
gosto de ficar em casa, e minha bebida é água mineral. O boêmio que
não bebe sempre tem um final de
noite acompanhado", diz, alegando conhecimento de causa.
O autor afirma ter se inspirado
em vários fatos que presenciou ou
que lhe foram contados. Mas frisa
não ter feito uma obra de memórias. "As histórias da gente ou trazem lembranças dolorosas ou são
coisas que nos divertiram, mas que
não interessam aos outros."
Daí explica não ter incluído contos que versassem sobre uma de
suas grandes paixões: a música.
Lago é co-autor de clássicos da
MPB, como "Ai Que Saudades da
Amélia" (parceria com Ataulfo Alves) e "Nada Além" (com Custódio
Mesquita). Tampouco surgem referências à sua atividade como ator
-trabalha atualmente na novela
"Pecado Capital"-, dramaturgo e
radialista, ofícios que já exerceu.
O livro usa um humor ácido, que
por vezes remete a Nelson Rodrigues.
Lago se orgulha da comparação,
mas a refuta: "Nelson Rodrigues é
vida. Mas não vem daí minha inspiração, e sim do fato de ser neto
de calabreses e, portanto, um debochado por excelência".
²
Livro: 16 Linhas Cravadas
Autor: Mário Lago
Lançamento: Publisher Brasil
Quanto: R$ 17 (132 págs.)
Quando: hoje, às 19h
Onde: Sesc Pompéia (rua Clélia, 93, tel. 011/
3871-7777)
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