São Paulo, terça, 1 de dezembro de 1998

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LIVRO
Autor criou crônicas e contos com tamanho predeterminado
Mário Lago lança em SP o seu desafio de "16 Linhas Cravadas'

BRUNO GARCEZ
da Reportagem Local

A mulher sai para comprar o queijo que o marido quer para o lanche. No caminho, encontra seu primeiro namorado e acaba embarcando com ele em uma longa viagem pela Europa. Anos depois, ela retorna trazendo nas mãos o lanche do marido.
"Inspirei-me numa história verdadeira, mas na vida real ela não voltou. Resolvi dar uma conclusão ao caso", diz Mário Lago, 87, sobre um dos contos que compõem o seu "16 Linhas Cravadas", cujo lançamento ocorre hoje, em São Paulo.
Para escrever o livro, o seu 11º, o escritor, ator e compositor impôs-se um desafio: criar contos, crônicas e poemas cuja extensão não ultrapassassem nem ficassem aquém de 16 linhas datilografadas.
"Foi um sacrifício. Toda palavra é importante. Às vezes, dava-me conta de que já tinha escrito mais de 40 linhas. Mas adoro desafios. Tanto que sempre fui de esquerda", afirma o escritor, que se diz, atualmente, um marxista autônomo, sem filiação partidária.
O passado como membro do velho PCB (Partido Comunista Brasileiro) foi fonte de inspiração para uma das passagens mais divertidas do livro. O conto, sem título, assim como os demais relatos de "16 Linhas", trata de um aguerrido militante que, tendo resistido à tortura, não se contém diante dos encantos de uma "companheira".
Essa, no entanto, rechaça os avanços do militante de libido acentuada, recitando trechos de "O Capital", de Karl Marx, em alemão. "A cena aconteceu de verdade. No auge da militância, você acaba só conseguindo falar sobre isso. Eu não, sempre me mantive fiel à condição de boêmio", diz.
A boêmia do autor é peculiar. "Não durmo antes das 2h. Mas gosto de ficar em casa, e minha bebida é água mineral. O boêmio que não bebe sempre tem um final de noite acompanhado", diz, alegando conhecimento de causa.
O autor afirma ter se inspirado em vários fatos que presenciou ou que lhe foram contados. Mas frisa não ter feito uma obra de memórias. "As histórias da gente ou trazem lembranças dolorosas ou são coisas que nos divertiram, mas que não interessam aos outros."
Daí explica não ter incluído contos que versassem sobre uma de suas grandes paixões: a música.
Lago é co-autor de clássicos da MPB, como "Ai Que Saudades da Amélia" (parceria com Ataulfo Alves) e "Nada Além" (com Custódio Mesquita). Tampouco surgem referências à sua atividade como ator -trabalha atualmente na novela "Pecado Capital"-, dramaturgo e radialista, ofícios que já exerceu.
O livro usa um humor ácido, que por vezes remete a Nelson Rodrigues.
Lago se orgulha da comparação, mas a refuta: "Nelson Rodrigues é vida. Mas não vem daí minha inspiração, e sim do fato de ser neto de calabreses e, portanto, um debochado por excelência".
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Livro: 16 Linhas Cravadas Autor: Mário Lago Lançamento: Publisher Brasil Quanto: R$ 17 (132 págs.) Quando: hoje, às 19h Onde: Sesc Pompéia (rua Clélia, 93, tel. 011/ 3871-7777)



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